Capítulo Extra - Theo Miller

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Como Leigh não se lembra de muita coisa do que aconteceu naquela noite na Alemanha, quem vai contar o que houve é o nosso Theodoro (Theo) Miller. 

***

Bremen, Alemanha - Outubro 

Dois anos atrás

Várias pessoas caminhavam nas ruelas de Schnoor. Pelos olhares de admiração diante das casas construídas em estilo enxaimel e um caráter medieval que me causa estranhamento. Não que construções medievais não sejam incríveis, e sim, pelo seu toque atemporal. Me faz perceber que somos produtos com data de validade. E é olhando para uma das minhas tatuagens no braço direito, a que diz a data do meu nascimento que eu me recordo disso. Tive um dia para nascer, também terei um dia para morrer.

Levanto um pouco a gola do casaco para meu pescoço quando uma brisa toca a pele exposta da minha nuca, fazendo minha pele se arrepiar. Olho para o céu nublado dessa manhã instintivamente. Estava sentado em um dos cafés daquela ruela. Era mais um dos turistas para um dos festivais mais antigos celebrados na Alemanha, o Freimarkt, que era uma das últimas paradas que eu faria pelo meu tour pela Europa antes de voltar para casa. Para as montanhas de Vancouver. Para meu pai.

O garçom me serve uma xícara de café em grãos, que o próprio me recomendou contando a história do café na Alemanha e também da sua paixão pela cidade. Eu ouvia atentamente em silêncio, sorrindo ou ficando sério quando necessário. Quando Joseph, um dos amigos que fiz na Oficina de Bartender de Dublin chega, o garçom compreende que na verdade eu só queria conversar sobre qualquer coisa aleatória e não sobre a cidade – que eu já sabia muito desde que cheguei há uma semana.

- Dormiu bem cara? – Perguntou Joseph em sotaque alemão, pegando o cardápio e chamando o garçom com um aceno.

- Tratei de descansar bem para aproveitar tudo que não aproveitei nos dois últimos dias. – Digo bebendo um gole do café fumegante. O festival estava acontecendo fazia três dias, mas, apenas nos últimos dois dias de fato eu saí para aproveitar os desfiles e as cervejas. Mas, as cervejas eram bem moderadas. Completamente diferente do que eu faria hoje.

- Vou para Munique amanhã. – Ele comenta quando o garçom chega. – Um descafeinado, por favor. – O garçom sai anotando o pedido e Joseph se volta para mim. – Meus pais disseram que se eu não voltasse para lá em vinte e quatro horas, eles me deserdariam.

- E isso seria muito difícil para você, imagino. – Dou de ombros e Joseph ri no canto direito da boca.

- E ah, minha prima colocou você no nosso próximo tour pela Europa. – Ele diz animado.

- Eileen? – Franzi o cenho confuso, sentindo uma pontinha de ansiedade tomando conta de mim.

- A mesma. E ela está aqui hoje. Marcamos de nos encontrarmos no Weser, dez da noite para beber um pouco, sorrir e quem sabe... – Joseph exibe uma expressão travessa no rosto. – Ela vai trazer uma amiga, vai ser legal.

- Tenho certeza que vai. – Abro um sorriso em aprovação.

***

Embora o clima tenha esfriado consideravelmente, deixo o casaco no ombro e ando apenas vestido com o suéter, skinny e botas. Remexo um pouco no brinco que uso na orelha enquanto passo pelas pessoas no centro da cidade que está mais abarrotado do que os outros dias. O céu desse fim de tarde está colorido, assim como a decoração das ruas e as pessoas estavam alegres, contagiando todos aqueles que passavam por elas.

Querida LeighWhere stories live. Discover now