Peter largou as minhas mãos e se afastou um pouco.

– Não tem nenhuma garota, Madison...

– Claro que tem, se não você não teria ficado tão sério. Vai, fala! Eu mereço a verdade, Peter, você me deve pelo menos isso.

Ele respirou fundo e depois assentiu. Peter ficou ainda alguns segundos em silêncio como se tentasse formular ainda o que falaria, mas por fim disse:

– Ela não é nenhuma vagabunda, Madison, ela nem me dá bola. Eu não tenho culpa por não te amar, não tenho culpa por amar outra pessoa. O amor simplesmente acontece, Madison... Simplesmente aconteceu.

Mesmo que eu tivesse pedido para ouvir aquilo, doeu demais ter o meu pedido atendido. Eu não segurei a minha raiva, eu parti para cima do Peter deferindo várias tapas contra o seu tórax e braços. Ele não demorou a segurar os meus punhos com firmeza e me impedir de continuar.

– Quem é ela? – gritei mais uma vez encarando o rosto do cara que eu tanto amava, mas que tanto estava me fazendo sofrer naquele momento.

– É a Margot, eu amo a sua irmã, eu me apaixonei por ela. Espero que algum dia você possa me perdoar. Eu não queria que isso chegasse tão longe, não era para você se apaixonar por mim, eu não queria ter te causado qualquer dano.

Eu estava estática, paralisada, sem qualquer reação. Margot? Como isso aconteceu? Eu não estava conseguindo acreditar, minha irmã, minha própria irmã, roubara o amor e atenção do homem que eu amava. A única coisa que consegui fazer foi continuar a chorar. Peter se aproximou de mim e beijou a minha testa por alguns segundos. Depois, ele me encarou e sussurrou outro "me desculpe" antes de passar por mim, abrir a porta e sair.

Poucos segundos depois, escutei a motor da moto sendo ligado novamente. O barulho da moto foi se distanciando, até que eu não pude mais ouvi-lo.

Sentei no chão da enorme e antiga sala da minha casa e continuei a chorar. Era involuntário, as lágrimas vinham verozmente e eu não conseguia impedi-las. Eu realmente não queria viver sem o Peter, ou pior, eu não queria viver em um mundo em que ele e a Margot estariam juntos. Jamais irei perdoar a minha irmã por isso.

– Eu te odeio, Margot! Eu te odeio! – eu gritava no meio da sala enquanto puxava os fios do meu próprio cabelo.

Um ar gelado passou pelo o meu corpo mesmo com as janelas estando fechadas. Ele me fez tremer e uma ideia consumiu a minha mente depois que ele se foi. Levantei e caminhei até fora da casa, para o quintal dos fundos. Fui até uma pequena casinha, que era usada para guardar alguns utensílios de jardinagem, e peguei uma corda grossa, sei que ela é forte o bastante para o que pretendo fazer.

Fui até o meu quarto, quarto esse que eu dividia com a Margot, que mesmo que parecesse com um sótão por não possuir forro e as tábuas de madeira que sustentavam o teto serem baixas, era o meu quarto. Subi na mesinha que ficava entre a minha cama e a cama de Margot e amarrei a corda na madeira do teto, dando um laço em seguida.

Se eu estou com medo? Não! Eu não estou com medo! Estou sentindo um frio, um frio enorme. Medo não existe dentro de mim, pois alguma coisa dizia em meu ouvido que aquilo era a coisa certa a ser feita, alguma coisa dizia que eu iria me vingar se fizesse isso. Então, sem medo algum, eu coloquei a corda envolta do meu pescoço e apenas senti como se alguém tivesse me empurrado da mesa.

O ar faltou e um desespero me consumiu. Não que eu quisesse desistir, mas porque o meu corpo queria ar e não estava conseguindo tê-lo. Era algo biológico, não racional. Porém, o desespero não durou muito tempo, pois logo a minha visão foi ficando turva e os meus sentidos foram se perdendo. Antes de tudo sumir a minha volta e eu finalmente completar a minha vingança, posso jurar que vi algo preto sorrindo para mim.


Ponto de vista de Margot Johnson.

Olhando pela janela da sala de aula, eu literalmente caí da cadeira quando avistei a árvore que ficava no jardim dos fundos da escola. Não, eu me expressei mal, não caí por ver a árvore, mas sim por ver algo pendurado nela. Era uma pessoa pendurada por uma corda no grosso galho daquela árvore.

Olhei para os meus colegas de classe e eles me encaravam. Alguns pareciam assustados com a minha reação, mas outros pareciam segurar o riso por "a estranha da escola" ter caído no chão sem nenhum motivo aparente. Como a zoação deles já era esperada, apenas ignorei. Levantei rapidamente do chão e saí correndo da sala de aula. Talvez eu não devesse, mas eu corria em direção àquela árvore.

Quando cheguei ao meu destino, deparei-me somente com a árvore e o vento balançando selvagemente as suas folhas. Meu cabelo voou para o meu rosto e tampou a minha visão por alguns segundos, até que o ajeitei novamente. Respirei fundo e encarei o imenso jardim do colégio sem saber o que fazer. Novamente, tinha sido apenas uma alucinação minha. Eu não aguentava mais isso.

Como eu não tinha mais o que fazer ali, entrei novamente na escola e caminhei diretamente para a minha sala. Porém, parei no corredor vazio ao ver novamente uma pessoa pendurada por uma corda, mas dessa vez não sustentada em um galho, mas sim no teto do corredor. Gritei alto ao reconhecer quem estava ali. Era o meu rosto, porém, no fundo, eu sabia que aquela não era eu. O nome de Madison veio a minha mente e eu me desesperei.

Pessoas surgiram ao meu redor e perguntavam se eu estava bem, mas eu as ignorei e voltei para a minha sala sem falar absolutamente nada. Peguei meu material e saí correndo. Uma forte intuição me falava que algo tinha acontecido com a minha irmã e eu não podia ignorar isso. Ela estava doente hoje de manhã, e se algo aconteceu? E se ela piorou e não teve a quem pedir socorro? Corri o mais rápido que eu consegui até a minha casa. Durante todo o caminho, eu via minha irmã pendurada por uma corda. Aquilo era desesperador, eu chegava a tremer de desespero ao ver aquelas figuras.

Quando cheguei a minha casa, entrei desesperada já gritando o nome da minha irmã. Olhei cômodo por cômodo da casa, começando pelos cômodos do primeiro andar e terminando com o nosso quarto. Dessa vez, meu grito foi mais alto e mais desesperado do que antes, até porque agora o que eu via era real. Agora era verdade, minha irmã estava pendurada por uma corda e ao redor dela vários seres negros sorriam.

Caí de joelhos ao chão apenas sentindo lágrimas descerem em abundância sobre o meu rosto.

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