Pilar não respondeu, e Arabella notou que ela apertava com força o banco do carro.

— Você está bem? — franziu o cenho, logo voltando sua concentração para a estrada quase deserta.

A chuva parecia se intensificar cada vez mais, e Arabella mal conseguia enxergar o que estava em sua frente.

Não. — Pilar falou baixo, com a voz rouca.

O barulho dos batimentos cardíacos da italiana eram audíveis para a mesma, que já sentia a boca seca.

— O que está sentindo? — perguntou aflita, sentindo uma angústia imensurável.

— Eu... — e então Pilar apertou os olhos com mais força. — Estou com muita dor... — era perceptível a dificuldade e esforço que a mais velha fazia para falar.

A palma das mãos de Arabella estavam suadas. Se continuasse dirigindo naquelas condições, sem conseguir enxergar nada na estrada em sua frente, bateria o carro.

— Vou ter que encostar o carro. — avisou, enquanto ia para o acostamento mais próximo, ligando os faróis.

Nunca foi religiosa, mas naquele momento pediu com todo o coração para que tudo ficasse bem.

Pilar grunhiu de dor ao seu lado.

— Pilar, escute. — a médica pediu, segurando a mão da mulher em sua frente, que estava suando. — Eu preciso que você descreva o que está sentindo.

— A minha barriga ela... — falhou em falar, buscando fôlego. — Ela fica dura e então, uma dor forte... — não conseguiu terminar a frase.

Arabella não queria acreditar no que estava ouvindo.

Aquilo não podia estar acontecendo.

Passou as mãos pelos cabelos, tentando manter a calma.

— Certo, vamos contar quanto tempo essa... dor está durando. E quanto tempo ela demorará a voltar. — tentou tranquilizar a mulher em sua frente.

A morena pegou o celular novamente, que continuava completamente sem sinal.

E a chuva não aparentava nenhuma melhora.

Estavam ali há quase duas horas, Arabella prestando atenção em cada reação de Pilar. As dores já estavam surgindo a cada quinze minutos.

— Me diz que isso são contrações de treino. — a grávida murmurou, enquanto se recuperava de uma das contrações.

— Eu espero que seja. — a italiana suspirou, já sentia o nó em sua garganta. Mas tinha que manter a calma, por Pilar.

Por Júnior.

E por Sergio.

Estavam completamente encurraladas, em uma estrada deserta, sem sinal de telefone e com a chuva impossibilitando que dirigissem até um hospital.

Grande parte daquilo que somos é determinado pelas tempestades que já vivemos.

Aquilo não era uma mera tempestade. Sentia como se todos os seus sentimentos estivessem a flor da pele, expostos, escancarados. Era como
o inferno vívido.

Precisava se manter firme.

— Pilar... — começou, sentindo os olhos marejados. Estavam paradas ali há algum tempo. — Suas contrações estão tendo pausas de cinco minutos.

EpiphanyWhere stories live. Discover now