Wonderwall

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- O que costuma comer? - perguntei para o homem sentado em minha frente, que passou as mãos nervoso em seu cabelo.

Estava em Madrid há uma semana, observando os treinos, auxiliando nos exames do jogadores, juntando o máximo de informação que consegui para que Niko e eu iniciássemos o acompanhamento de cada um.

Nesses primeiros dias meu foco foi voltado para os nomes do mais alto nível do clube, os jogadores consolidados no meio futebolístico. Esses jogadores extremamente decisivos geralmente estavam na casa dos trinta ou perto, e precisavam de uma vista grossa.

No decorrer da semana eu já havia conversado com nomes como Gareth Bale, Cristiano Ronaldo, Luka Modrić e Toni Kroos.

Agora em minha mais nova sala, estava um dos homens que eu mais admirava no meio do futebol. Marcelo Vieira. Um jogador de nível extraordinário, e um espetáculo a parte como pessoa.

- Eu não sigo uma dieta. - admitiu - Geralmente como o que me da vontade.

Não consegui evitar a careta que fiz. Esse detalhe não havia passado despercebido por mim, acompanhei minuciosamente a rotina de cada um no clube.

Marcelo não era focado.

O jogador era um craque, talentoso em níveis inquestionáveis. Mas em determinado momento, algumas coisas precisam mudar.

- Você pretende jogar por quanto tempo? - perguntei, olhando firme em seus olhos.

Estávamos sentados no mesmo sofá de três lugares, cada um em uma ponta. Acreditava que um ar menos formal na conversa permitiria com que eu me aproximasse mais dos meninos, sem deixá-los tão desconfortáveis.

- Por quanto tempo eu conseguir. - falou óbvio. - É minha paixão, quero jogar e conquistar muitas coisas ainda.

O homem não falou nada diferente do que eu imaginava, parecia seguir meu "script" à risca.

- Então você precisa mudar seus hábitos. - afirmei. - Marcelo você é excelente, sou suspeita para falar. Mas como profissional preciso te alertar que seu talento não será o suficiente para as consequências que a idade trará.

Ele me ouvia atentamente e em silêncio.

- Você é muito exigido nos jogos. - continuei. - Logo as câimbras podem começar, as lesões podem surgir mais facilmente, o cansaço surgir com mais facilidade. - o lateral engoliu em seco. - Você não vai passar fome, nem vontades, mas já está na hora de fazer uso da nutricionista do clube.

O homem parecia absorver tudo que foi dito, estudei o rosto do mesmo por alguns segundos e diria tranquilamente que ele ponderava suas opções.

- Eu posso tentar. - finalmente falou. - Não te prometo que não vou dar umas escapadas sabe? - brincou. - Mas posso me esforçar, essas paradas aí que você disse conseguiram me assustar.

Não consegui evitar a risada que saiu por meus lábios, eu amava aquele jeitinho brasileiro descontraído. O pensamento me fez sentir saudades de Alex Sandro. Sul americanos sempre teriam um espaço especial em meu coração.

- Beleza. - tentei falar a palavra.

Marcelo riu, provavelmente a palavra soou desastrosa com meu sotaque.

- Se prometer não pegar tão pesado comigo, te falo os melhores lugares parar frequentar por aqui e até empresto minha mulher como guia. - falou fitando suas próprias unhas, o deboche em pessoa.

- Está tentando me comprar? - fiz minha melhor cara de desconfiada.

- Um pouco.

EpiphanyWhere stories live. Discover now