Arabella

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Eu não sabia como tinha sobrevivido àquele primeiro tempo.

O jogo estava disputadíssimo, com toda a tensão de um El Clássico, três cartões para a equipe da capital e dois para a equipe catalã.

Assisti tudo no banco de reservas, ao lado de Catarina e Nacho. Surtei mais vezes do que consegui contar. Usei minha língua materna para conseguir gritar palavras nada agradáveis, mas que saíam por minha boca de forma incontrolável.

Quando se tratava do Real Madrid, eu perdia as estribeiras sem nem perceber. Minha vontade era entrar naquele campo e gritar na cara de um por um que éramos o maior, então deveriam honrar a camisa que vestiam.

Infelizmente não era a minha função, então por mais que a ideia fosse extremamente tentadora, eu precisava controlar todo aquele madridismo alojado em mim.

Permaneci sentada no banco, tentando me mostrar estável emocionalmente, fingindo que não havia surtado há poucos minutos.

- O que significa Vaffanculo e Farabutto? - Asensio, que estava ao lado de Nacho, perguntou com um sotaque engraçado.

- Vai tomar no cu e filho da puta. - respondi desconfiada. - Por que? Você é muito novo para falar essas palavras feias! - brinquei.

- Você gritou isso o jogo inteiro. - Nacho respondeu pelo amigo. - Eu já estava a ponto de ficar surdo.

Semicerrei os olhos para os dois jogadores a minha frente.

- A culpa não é minha se vocês jogadores me fazem passar raiva. - suspirei. - Minha vontade era enfiar a mão no rostinho de cada um, mas como não posso....

Catarina gargalhou ao meu lado. Ela era totalmente meu oposto assistindo aos jogos; ficou calada do começo ao fim, muito diferente do que costumava ser.

O Camp Nou continuou cantando durante todo o intervalo, me fazendo bufar impaciente, aquilo só aumentava minha agonia.

Zidane estava a nossa frente, em pé e mirando o campo. Torci mentalmente para que ele já tivesse pensado em alguma solução para sair do 0x0.

O início do segundo tempo não fora muito diferente, a agonia era a mesma. Até que, aos 50 minutos, Piqué cometeu uma falha resultando em um gol contra.

Comemorar gol contra é quase um pecado, mas a cena fora tão engraçada e rápida, que além de dar um grito involuntário, precisei rir.

Logo Ronaldo e Asensio estavam em campo, substituindo Benzema e Kovačić respectivamente. Quis dar um abraço no careca a minha frente por fazer boas escolhas.

Tudo se complicou quando Marcelo cometeu um penalidade máxima, Lionel Messi marcou o pênalti, levando o Camp Nou a loucura. Palavras nada bonitas saíram da minha boca.

Aos 80 minutos, com uma assistência de Isco, Ronaldo marcou o segundo gol. Pude levantar e gritar a vontade na beira do campo, não controlando o alívio que se instaurou em mim. Algumas pessoas me fizeram companhia na comemoração, não tornando aquilo algo constrangedor.

Entretanto, dois minutos após aumentar o placar, Ronaldo levou seu segundo cartão amarelo. Expulso. Estávamos com um a menos e eu previa que, infelizmente, um empate era provável.

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