Capítulo 28

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Nosso vagão atravessa o portão da Arena, a barreira final entre os Renegados e a civilização. Lembro-me de Roberto e seu desejo de que cruzássemos esse portão juntos, dali há dois anos. Ele não está mais aqui. Eduardo não está mais aqui. Charles não está mais aqui.

– O que acha, podemos esperar uma volta tranquila?

Olho para Rubens e rimos juntos.

– Tudo, menos isso! – ele responde.

No meio da manhã o trem desembarca na Primeira Cidade dos Venites. Dessa vez não há multidões nem câmeras na grande passarela que percorremos do Centro de Triagem para o Centro Militar.

Pegamos o voo para nossa cidade. Somente dois quadricópteros e não três como foi no início do ano. Uma hora depois pousamos nos heliportos do Centro Militar de nossa cidade. Assim que o guarda abre o pesado portão de ferro, um fresco vento penetra minhas roupas e enche os meus pulmões – estou em casa. Olho para Rubens e ele olha para mim.

– Voltamos! Nem que seja por pouco tempo, voltamos!

– Voltamos, juntos! – digo. – Será se nossos pais sabem que estamos aqui?

– É melhor descobrirmos e mantermos a discrição.

– Claro. Te encontro amanhã cedo, na praça?

– Estarei lá.

Ele desce na direção de sua casa e eu sigo sozinho. Piso na minha rua, ando novamente sobre o asfalto remendado e mesmo assim cheio de buracos. Meus olhos se enchem de água quando, à frente, alguns metros, vejo as cinzas e o resto da minha casa, suas paredes desmoronando. Sinto um aperto maior ainda quando olho para minha direita, na direção da carpintaria, e enxergo minha mãe pendurando roupas no varal.

– Mãe!

Ela se vira e aperta a roupa contra o peito, com as duas mãos. Corremos um ao encontro do outro e nos abraçamos com força. Ela está magra, talvez por causa das queimaduras e do tempo que passou no hospital.

– Eu não acredito! O que aconteceu? – pergunta ela, enxugando os olhos.

– Eles nos deram uma folga.

Meus instintos agressivos criados na Arena pulsam quando sou surpreendido pelos braços do meu pai, me abraçando sem que eu perceba.

– Pedro... como?!

– Oi, pai!

Ele está com uma roupa que pertencia ao pai de Rubens.

– O que foi que aconteceu? O que foi tudo aquilo?

– Foi muita coisa.

– Você está bem? – pergunta ele. – E Rubens?

– Estou bem, Rubens também, ele voltou comigo.

– Todos foram dispensados?

– Sim. O que aconteceu por aqui? Eu recebi sua carta, mas estava tão curta.

– Muita coisa também, temos de sentar para conversar.

– Sim, muita coisa aconteceu em todo lugar, mas vamos entrar primeiro – diz minha mãe. – Vamos deixar o Pedro trocar de roupa, não quero ver ele com esse uniforme enquanto estiver em casa – ela seca os olhos. – Suas roupas estão guardadas, foi uma das únicas coisas que conseguimos salvar já que elas ainda estavam dentro das malas.

– Deixaram minhas roupas nas malas?

– Sim, se precisássemos enviar elas já estavam prontas – minha mãe responde.

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