Capítulo 9

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Hoje teremos o dia livre, a única tarefa é entregar as amostras. Depois do café da manhã, Elisa parte para tentar se reaproximar da garota Serpas enquanto Rubens e eu vamos para o hospital ver como Charles está. Na recepção nos é informado o número da enfermaria. Ao acharmos o quarto, encontramos Charles com um enfermeiro trocando seu curativo.

– Oi, chegaram bem na hora.

– Fiquem na porta até eu acabar – nos pede o enfermeiro.

Ele retira os esparadrapos e a gaze, revelando um ferimento menor do que o de quando nós o deixamos aqui ontem. Pelo jeito nem parece doer, exceto quando o enfermeiro joga um remédio líquido azul por cima da carne exposta, fazendo Charles ranger os dentes e fechar os dedos no lençol.

Assim que o líquido é absorvido, o enfermeiro fecha o curativo e vai embora, nos liberando a entrada.

– Parece que doeu – digo em tom amigável.

– Só quando ele colocou o remédio.

– E aí, como está?

– Bem melhor do que ontem. Só fiquei aqui por causa do risco de infecção. Comendo essa comida ruim senti muita falta das panquecas com mel do refeitório.

– Ontem vocês me assustaram! – Rubens escora o quadril na cama e cruza os braços.

– Eu só não desisti porque o Pedro estava do meu lado, não queria ser culpado da morte dele.

– E você acha que eu não ia sair correndo se caísse outra vez?

– Eu não me importaria se fizesse isso – responde ele, rindo. – E a Elisa?

– Assim que terminamos o café da manhã ela foi atrás da menina de Serpas, ela ainda tem esperança de conseguir alguma coisa.

– Então ela gosta de levar gelo?

– Quando você sai daqui? – pergunta Rubens.

– Provavelmente hoje à noite, no máximo. Amanhã as coisas voltam ao normal e a Arena não vai me dar folga só porque estou machucado.

– Acho que nossa visita acabou, temos de entregar nossas amostras para Helga antes que elas apodreçam.

– Ah, bom ter lembrado. O médico me deu esse atestado – Charles o entrega para mim. – Ele permite que outro aluno entregue minha mochila por mim. Podem fazer isso?

– Claro – pego o papel.

Vamos direto para o apartamento, pegamos as mochilas e seguimos para nossa sala, onde Helga as recebe, nomeando cada uma.

– Rubens, eu queria falar com o Pedro, pode nos dar licença?

Rubens concorda e nos deixa.

– O que você fez por seu amigo ontem foi muito altruísta. Heroico, mais uma vez.

– Eu não poderia deixar ele lá – já estou na defensiva. – Seria muita covardia.

– É claro que não poderia, você viu o que aconteceu com quem ficou. Para ser sincera, você me surpreendeu.

– De uma forma boa?

– De uma forma preocupante. Você viu como os outros Renegados reagiram?

– Sim, eles gostaram, assim como eu teria feito se estivesse no lugar eles.

Helga me olha, como se dissesse que não é minha inimiga.

– Salvar uma vida é um dos atos mais nobres que conseguimos fazer, e os Renegados fazem isso quando colaboram para a Convergência vindo para cá. A Arena funciona em um sistema de conquistar a vida, comprar a vida com a vida. Quem não consegue cumprir o sistema, ou morre aqui ou vira um Incapaz e morre na Graduação – ela fixa os olhos mais ainda em mim e continua: – Você está ficando conhecido entre os outros. Precisa pensar em cada ação que tomará daqui para frente; basta que apenas uma delas desmorone o frágil equilíbrio que temos aqui dentro e todos vocês terão seus rostos exibidos nas Honras. Acredito que você não quer ser responsável por isso, por tanta morte.

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