Leon joga o corpo por cima dos ombros e o grupo vai embora. Mesmo vendo-os sair, não ouso me mover.
Não me moveria em hipótese alguma, mas percebo que a matilha de Leon foi na mesma direção de Rubens. Apoio-me na lança e me levanto. Quando estou de pé ao lado do riachinho, um vulto aparece ao meu lado; em menos de um segundo, a ponta da minha lança está a menos de dois centímetros de seu pescoço.
– Pedro! Sou eu! – diz Rubens, com os olhos escancarados.
Demoro um segundo para assimilá-lo. Abaixo a lança e respiro fundo.
– Está tudo bem? Você está branco!
– Sim, tudo bem, eu... caí no sono e acordei dando de cara com você, não te reconheci de início... sabe quando você dorme e parece que passou muito tempo?
– Sei.
– Foi isso o que aconteceu – passo os dedos trêmulos entre o cabelo.
Os olhos de Rubens fogem de nossa conversa ao ver a água vermelha.
– Quanto sangue! Isso saiu das camisas?
– Foi, estavam bem sujas.
– Já secaram?! – diz ele ao vê-las comigo. – Me passa a minha? Essa jaqueta está fervendo!
Estendo a camisa a ele, ainda discretamente recuperando o fôlego. Ele reclama que ainda está úmida, mas acaba aceitando como forma de aliviar o calor. Também visto a minha.
Amarramos as jaquetas nas cinturas e tomamos o rumo de volta. Rubens me conta sobre as ervas e plantas que encontrou em algum lugar, o que justificou sua demora e mudança de caminho. Só relaciono isso com a sorte dele não chegar bem no momento do assassinato.
Finalmente estamos na campina, seguros ao ar livre.
– – –
Nosso último dia amanhece como se suas horas fossem se arrastar pela eternidade. Estamos um pouco desidratados, famintos. Charles começou a dar febre durante a noite e seu ferimento está escorrendo pus. Para completar, há um assassino por aí.
Como estamos bem longe do portão e queremos sair logo daqui, deixamos o campo e começamos a jornada. Vamos andando na beira da floresta, aproveitando a sombra das árvores. Paramos constantemente para Charles descansar. Damos como concluída nossa tarefa de colher amostras, já temos o que precisamos e não vai ser difícil ficar sem comer até atravessarmos o portão.
Paramos para descansar debaixo de uma árvore alta. Charles está com a pele amarelada, olhos fundos e avermelhados, a perna inchada e a febre aumentou. O sol, bem mais quente do que nos outros dias, nos tortura no início da tarde. Elisa desmancha o rabo de cavalo, amarrando o cabelo em um coque.
– Ainda estamos longe do portão? – pergunta Charles.
– Um pouco, mas vamos conseguir – respondo. – Ainda temos metade do dia para chegar lá.
– Se vocês quiserem podem sair correndo, não me importo, um dia eu chego lá.
Antes que eu possa responder, cornetas soam chamando nossa atenção. O diretor Félix anuncia:
– Atenção, Renegados. Honramos sua bravura, de um modo geral se saíram bem, apesar de algumas poucas baixas. Hoje é o último dia do teste, às seis horas da tarde nós abriremos o portão, mas vocês terão somente dez minutos para atravessá-lo. Então, aos que estão longe, é melhor começar a correr, e os que estão feridos, é melhor ignorar isso. Com os cumprimentos da Arena, provem o seu valor!
YOU ARE READING
Os Renegados
General FictionA Arena dos Renegados inicia mais dois anos de testes brutais, onde o limite é a própria morte. Quatrocentos jovens são selecionados a cada período e alguns dos poucos que sobrevivem ao treinamento ganham um novo destino: governar a humanidade. Após...