Feito isto – que supus ser uma despedida junta de um lamento "oficial" se referindo a sabe-se lá o que –, o bobo repôs na cabeça o chapéu de pontas, enxugou as lágrimas e se virou novamente para nós duas. Ficamos em silêncio e eu queria consolá-lo de alguma forma, pois sabia como era ruim perder alguém querido, mas preferi esperar ele dizer algo. Quando o fez, dali há alguns minutos, ainda estava fungando o nariz e tentando ser forte:
– O céu vai abrir logo, logo. As nuvens estão ficando menos densas, o frio de vocês já vai passar.
Isso era questionável, pois a chuva continuava forte, mas não retruquei, dado o tom inexpressivo com que ele disse aquilo. Talvez tivesse sido apenas um comentário e ele só quisesse desviar nossa atenção do ambiente tenso que tinha ficado.
Prosseguiu:
– Você precisa me contar tudo o que viu naquele sonho, Tine. E vamos deixar claro uma coisa: Malcon não pode fazer isso, certo? Não sabemos o quanto de acesso ele tem à sua memória, então não podemos correr o risco de perder as informações que temos para ele.
– É, eu s-sei, mas não cons-sigo c-controlar, ele s-simplesmente entra – eu disse, bambeando a cabeça de um lado para o outro, cheia de calafrios.
– Não – o bobo foi incisivo, e só então eu percebi que ele não estava com tanto frio como nós duas. Sua pele enrugada parecia ser mais resistente a isso. – Malcon pode até estar bastante versado em magias da mente, mas mesmo algo aparentemente tão simples, como invadir um sonho e se comunicar através disso, não é tão fácil assim.
– Pois é – Mabel comentou logo em seguida. – Le-lembro que tinham n-nos dito que e-era preciso sua mente ou s-seu corpo esta-tar fragilizada pra i-isso.
– É, mas nenhum dos dois estão – afirmei, mas na verdade eu desconfiava que estivesse. O corpo. A ferida. Era ela. Provavelmente estava me deixando fraca e Malcon se aproveitou disto, entretanto eu não estava sentindo absolutamente nada naquela região, nem dores, nem tontura e nem nenhum sintoma que aparentasse tal fraqueza.
– Bem, o motivo não importa nesse momento – Dinter-Dim interveio, desviando o assunto enquanto eu ainda pensava nele. Graças a Deus! – Agora, mais do que nunca, Malcon não pode voltar a ter acesso, está me entendendo, Tine? Sabemos que Elcana está nos arredores de Dulin e se o espúrio também souber, pode ser o fim das nossas esperanças. Ele não vai pensar duas vezes em caçá-lo e, diferente de nós, vai ser para matá-lo.
Fizemos uma pausa depois do terror que o bobo nos colocou, embora, de fato, soubéssemos que ele tinha razão, mas Dinter-Dim também precisava saber de algo mais...
Quando vi que nenhum dos dois falaria mais nada, resolvi contar, mesmo que meio receosa de fazê-lo:
– Eu não t-tenho certeza se co-consegui esconder dele o que eu s-sabia até ontem... acho q-que ele as-sabe...
– A respeito de quê?
– Do que Balik nos d-disse na Olho-Rubro. Ele me pressionou e eu t-tentei resistir, mas acho que no final aca-cabei pensando...
Dinter-Dim fechou os olhos em sinal de lamento, mas não restava nada a se fazer, então ele me encarou e disse:
– Não tem problema, nós ainda temos tempo e as informações de Balik eram antigas, Malcon vai levar tempo para achar rastros de Elcana em Dur que o levem a Dulin.
Ele disse aquilo mais como um conforto do que como algo em que acreditava, como se tentasse convencer a si mesmo, afinal, eram boatos tão incerto quanto os que tivemos antes deles. Eu, depois disto, meneei a cabeça negativamente, também frustrando essa prerrogativa, e acrescentei:
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Crônicas de Penina - Livro 1 - Os desenhos de Cornélio (COMPLETO)
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28. A espada de Yllen
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