– Isso é bastante incômodo – diz ele ao retirar a seringa. – Coma bem e baba bastante água, faz os sintomas passarem mais rápido.

Espero Rubens e Charles na saída do hospital. O soro parece não ter tido efeito sobre eles, eu já troco os passos e tenho de me apoiar em Rubens para não cair. Devido à mobilização médica e aos efeitos colaterais, temos o resto do dia livre. Aproveito para enfrentar o efeito do soro dormindo.

Simplesmente me jogo em cima da cama e sinto como se minha consciência fugisse de mim. Não há sonhos, não há lembrança remoída, apenas o simples e profundo sono. Acordo com frio e o corpo encharcado de suor. Tonto e meio perdido, me sento na beirada da cama, me espantando ao olhar para o relógio e ver que já passa de uma da manhã do dia seguinte! Rubens e Charles dormem em suas camas, aparentemente bem.

Fico de pé, cambaleando por alguns segundos e, por fim, consigo dar o primeiro passo em direção ao banheiro. Enquanto lavo o rosto, meu estômago se revira de uma vez e minha cabeça dá pontadas de dor. Sinto o vômito já na minha garganta e somente me viro para o vazo sanitário e vomito, sentindo gosto de bile na boca – consequência de ter passado quase vinte horas se comer.

Enquanto enxáguo a boca, percebo que estou ávido por água. Ao passar em frente à sacada, uma rajada de vento frio rebate em meu corpo, me fazendo parar de andar para poder tremer. Devo estar com muita febre. Fecho a porta da sacada, pego minha garrafa de água na pequena geladeira, jogo fora a água gelada e encho-a novamente com água fresca. Passo um bom tempo sentado no sofá, sozinho, bebendo água.

Bom seria se tivesse algo para comer, estou faminto.

Quando a água da garrafa acaba, escoro e fecho os olhos.

Raios de sol tocam meu rosto, causando aversão aos meus olhos enquanto se abrem lentamente. Passo por instantes de desorientação: não me lembrava de ter dormido no sofá. São oito da manhã, não houve cornetas para nos acordar. O apartamento está silencioso e na tela da TV está escrito que hoje é um dia de folga. Outro? Talvez não seja somente eu que esteja mal.

Na Praça Neutra vemos Renegados até um pouco piores que eu e, quando estou sentado na mesa com os outros para o café da manhã, vejo um dos instrutores Venites meio esverdeado e bem agasalhado. Embora faminto, não sinto o sabor do que como; nesse momento, água e bolo tem o mesmo gosto para mim.

– Pedro, você está mal mesmo! É a primeira vez que deixa resto de bolo de cenoura no prato – Elisa pousa a mão em meu ombro.

"Não tem gosto de nada", respondo.

– Deveria ter uma câmera no apartamento – diz Rubens, sorrindo. – Ele dormiu na cama e acordou no sofá!

Como hoje é um dia de folga, podemos ficar no refeitório até mais tarde. A mesa dos instrutores já está vazia e vários Renegados já deixaram o lugar. Charles olha para todos nós, chamando nossa atenção. Encurvamos as cabeças na direção dele.

– Rubens me lembrou: já sei onde encontrar uma placa de transmissão.

– Onde? – pergunta Suzana.

– Em qualquer uma das câmeras, elas são sem fio.

Suzana levanta os olhos sugestivamente e diz:

– Hoje é dia de folga, temos muito tempo.

Elisa concorda balançando a cabeça. "Não podemos ir todos", Rubens se manifesta e sugere que ele, Suzana e Elisa furtem a placa.

– E como vocês farão? – pergunto.

– Bom, teremos de abrir a câmera. O que acham de uma pedra? – Suzana responde.

– Desde que não acertem na parte de trás dela, é o lugar mais provável de onde a placa esteja – diz Charles. – Assim que fizerem, o sinal da câmera vai falhar e, com certeza, alguém vai lá ver o que aconteceu. É melhor saírem o mais rápido possível.

Os RenegadosWhere stories live. Discover now