Menino bonito

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POV AUTORA

Os meninos tocaram a campainha e segundos depois uma figura vestida com um moletom Adidas azul claro abriu a porta.

"Pois não?", a figura disse.

Os dois meninos ficaram assustados, mas falaram.

"A gente veio buscar as meninas pra sair."

"Hum", a figura passou a mão no queixo. "E como vocês se chamam?"

"Eu sou Mark e esse é o Brian."

Um menino era loiro e cheio de espinhas na cara, o outro era moreno com um sorriso de aparelho nos dentes.

"Podem entrar, eu sou o Tom. Sou o padrasto das meninas."

Os meninos entraram e se entreolharam, pois claramente era uma mulher ali na frente deles e eles conheciam a Tia Andy, mas eles não quiseram falar nada.

"Então é o seguinte rapeize", Tom falou apontando os indicadores das mãos.

"Rapeize?", Brian sussurrou para o amigo.

"Eu vou passar o papo reto da etiqueta com as mina. Nada de fungar no cangote delas. Nada de ficar passando mãozinha na coxa de ninguém, nada de ficar fazendo fom fom nos peitinhos, nada de ficar pedindo beijinho de prova de amor, nada de fingir estar com sono pra passar a mão no ombro. Dançar com distância! Nada de agarrar, tá entendendo rapaziada?"

Os meninos balançaram a cabeça estupefatos.

"As mina são tudo de família e se vocês vierem com gracinha eu encho a fuça de vocês de sopapo, tá entendido?"

"Sim senhor", Mark respondeu.

"Isso mesmo, é senhor pra vocês. E é o seguinte: eu quero as mina 10 horas aqui na porta, nem mais, nem menos. E vamos ser cavalheiros a noite inteira, entendido?"

"Sim senhor", os dois falaram ao mesmo tempo.

"Se vocês se comportarem direitinho depois eu ensino um passos de street dance pra vocês, pra impressionar as ruiva".

Nesse momento, Miranda desceu as escadas com as filhas arrumadas para o baile. Estavam lindas em seus vestidos. Miranda as beijou toda orgulhosa e elas foram cumprimentar os meninos. Miranda ficou ao lado de Andy e percebeu que ela estava tentando esconder uma lágrima com sua postura de Tom.

Os adolescentes se despediram das mais velhas e saíram para seu baile.

Miranda olhou para Andrea e piscou para ela, depois virou as costas.

Com a cabeça de lado Tom passou a língua pelos lábios e puxou um saco imaginário.

"Olha essa coroa."

Tom deu uns passos largos e ficou perto de Miranda que estava indo para seu escritório no andar de baixo.

"Então coroa, já que estamos só você e eu sozinhos aqui nesse casão, que tal a gente furunfar um pouco?"

Miranda parou e suspirou.

"Você sabe muito bem que eu não te suporto. Então a palavra que eu mais gosto de usar pra você é...", Miranda olhou nos olhos dele e levantou a sobrancelha.

"Ah qual é coroa, você tá doidinha pra aproveitar esse corpinho aqui."

Miranda continuou impassível.

Tom bufou e revirou os olhos.

"Tá certo. Eu sei: suma."

Tom fez um gesto com as mãos tentando imitar um rappper pra se despedir. A postura de Andy mudou visivelmente.

"Andréa?", Miranda perguntou.

"Estou aqui. As meninas estavam lindas."

"Você chorou", Miranda deu um beijo na bochecha dela. "Manteiguinha."

"Por que estou com essa roupa?", Andy olhou para seu agasalho.

"Advinha quem apareceu?"

"Tom? Droga! O que ele falou?", Andy perguntou preocupada.

"As besteiras de sempre. Não se preocupe."

***

POV MIRANDA

Meu primeiro encontro com Tom, não foi um dos melhores. As meninas acabavam de retornar de um passeio pelo parque com Andrea, quando ele entrou pela porta junto delas. Andrea estava usando um conjunto de moletom ridículo da Adidas, com tênis combinando e com o boné virado para trás. Eu sabia que Andrea não se veste assim, então na hora percebi que deveria ser uma das personalidades. Depois que as meninas foram para a cozinha eu conversei com a figura.

"Espere aí, quem é você?"

Andrea tinha o rosto transformado em uma caricatura grotesca de um homem escroto que fica encarando as mulheres com lascívia na rua.

"Tsc, tsc, tsc", ela soltou. "Vai me dizer que não se lembra de mim. Você se deitou comigo e gritou meu nome."

"Tenho certeza de que nunca gritei seu nome, muito menos que tenha me deitado com você."

"Uau! A coroa é quente", ele fez um gesto como se tivesse queimado o dedo. "Eu sou inesquecível. Sou Tom, a seu dispor", ele se curvou para beijar a minha mão, mas não lhe dei esse prazer.

"E quem te deu autorização para sair com as minhas filhas?"

"Oh coroa, eu sou amigo delas, pode perguntar".

"Não quero saber, não gosto de você e quero você longe das minhas filhas, entendeu?"

Andrea revirou os olhos.

"Vai precisar de mim pra trocar os pneus coroa e quando estiver necessitada..."

"Chega. A única palavra que tenho pra você é: suma. Não quero te ver mais, estamos entendidos?".

Andrea piscou algumas vezes e em segundos estava de volta. Nossa vida é sempre um grande aprendizado. Eu me impressiono toda vez que outra personalidade toma conta dela. Por causa disso, cada vez mais quero protegê-la, mesmo sendo quase impossível proteger uma pessoa de si mesma.

FragmentadaWhere stories live. Discover now