Apresentação

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Meu nome de registro é Andrea Marie Sachs. Mamãe escolheu meu primeiro nome, meu pai escolheu o Marie, como homenagem a mãe dele, minha vó falecida há muito tempo e o Sachs é o nosso sobrenome. Eu tenho um irmão três anos mais velho que eu, Michael, que é um belo engenheiro que vive despedaçando corações por aí. Como eu, ele é alto, tem cabelo preto e olhos castanhos. Nossa semelhança é apenas física, temos temperamentos opostos e por muito tempo ele era aquele irmão mais velho chato, que fica enchendo o saco da gente.

Quando eu tinha cinco anos um evento traumático aconteceu comigo e por isso eu acabei desenvolvendo o meu problema. Eu me perdi dos meus pais num shopping enorme, fiquei sozinha e assustada. Eu fui parar no estacionamento do lugar e me vi desesperada. Naquele momento, alguém surgiu na minha cabeça, não sei como e me ajudou naquele momento estressante. Uma hora depois, eu fui encontrada, mas já não era mais a mesma. A mesma pessoa que apareceu aquele dia, apareceu muitas outras vezes para me ajudar: ela era mais esperta do que eu, muito inteligente e corajosa. Eu não sou assim. Com o tempo, conforme outras coisas foram acontecendo na minha vida, as outras personalidades foram aparecendo. Ah, o meu problema é o PID, perturbação de identidade dissociativa. Sabem aqueles filmes onde uma pessoa tem várias personalidades? Bem, isso acontece comigo. Tem várias explicações, científicas, psicológicas, enfim, não quero escrever sobre isso agora. O certo que em mim, aconteceu nessa vez do shopping e me acompanha até hoje. Estou em tratamento e isso tem me ajudado bastante. A fase de adolescente é ruim pra muita gente, imagina pra mim. Mas consegui passar, me formei na faculdade de jornalismo e consigo exercer essa profissão que tanto amo. Às vezes, meu problema até me ajuda em certos casos profissionais.

Tenho muitas personalidades, são vários nomes: Brand, Ella, Mia, Emma, Selina, Jewel, Maggie, Kym, Lureen e tantas outras. Algumas aparecem mais, outras menos. Algumas eu gosto muito, outras eu preferia nunca ter conhecido. Na adolescência, tinha uma, a Fantine. Ela era muito triste, depressiva mesmo. Tinha um sotaque francês, mas ficava pelos cantos cantando músicas tristes e chorando. Foi uma fase pesada. Há muito tempo não a vejo, uma outra me disse que ela morreu, ficou de cama um tempo e morreu. Bem, nunca mais a vi e não tenho saudade dela. Tem até um menino, o Tom, ele é uma figura. Apareceu pela primeira vez, porque meu irmão não queria brincar comigo porque eu era menina, então, apareceu o menino. Os dois se dão muito bem, mas ele é meio folgadão, surfista, desbocado, bem machão. Já entrei em algumas enrascadas por causa dele, quem sabe eu escreva sobre isso. Enfim, não tenho nenhuma personalidade preferida, a preferida sou eu mesma. Eu tento me amar a maior parte do tempo. E depois que fiz isso, acreditem, apareceu uma pessoa maravilhosa na minha vida: Miranda. Eu sou tão sortuda, eu não acreditei quando aconteceu, mas aconteceu. E ela tem duas filhas lindas, gêmeas, que agora eu considero minhas filhas também. Estou feliz, porque apesar de toda minha mente conturbada, minha vida tem sido boa. Os médicos dizem que eu até posso melhorar de vez, vamos ver. Vai ser estranho não ouvir todas as vozes na minha cabeça, mas têm dias que eu não ouço ninguém, só eu mesma, então tenho esperança de que eu fique boa.

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Essas memórias são minhas, Andy, mas por sugestão do meu médico, às vezes Miranda escreve aqui também, então pode haver dois pontos de vista de uma mesma história. Já as outras, não gostam de escrever aqui, algumas até gostam de escrever, mas não aqui. Acho que elas se sentem muito expostas. De qualquer forma, isso tem me ajudado bastante.

FragmentadaWhere stories live. Discover now