2. Bernardo - Parte II

1.1K 133 36
                                    


A casa de Filipe ficava na área nobre do Kansas e parecia o que geralmente víamos dos subúrbios em filmes norte-americanos.

Havia um cheiro forte de lavanda que circulava pelo ar, o chão estava encerado e mesmo o espaço sendo enorme existia um calor acolhedor por todo o ambiente. Era difícil lidar com algo assim, poderia me acostumar em morar ali, mas tinha que lembrar que precisava de foco. Aquela não era a minha casa, era apenas o meu local de trabalho.

Mesmo assim, para Caleb era diferente. Meu irmão chegou pulando no sofá e correndo por todos os cantos para conhecer bem nosso novo lar. Ele parecia divertir-se, de forma que até cogitei me juntar a ele, mas ao invés disso peguei a mochila que ele abandonou e me virei para meu pai adotivo.

— Onde é o nosso quarto? – Questionei, sem muita animação.

— O seu quarto – consertou Filipe – É no andar de cima, ao lado do seu irmão.

Confesso que fiquei surpreso, e feliz, com aquela notícia. Jamais tive um quarto apenas meu e contive um sorriso.

Só então percebi que conter um sorriso era algo que Ivi faria. O Bernardo era diferente, ele tinha que sorrir e ser totalmente simpático com aquela pessoas.

Monitoramento, inclusão, confiança, abalo, queda e limpeza. Recitei aquilo mentalmente – os passos da minha vingança que faltavam.

Subi as escadas, abri a porta do meu novo quarto e me deparei com um lugar incrível, no estilo adolescente, com uma cama de solteiro, guarda-roupas, criado-mudo, espelho na parede, quadros e uma estante para livros.

O que mais me surpreendeu foram os presentes espalhados por todo o canto. Em cima da cama uma caixa de celular, revistas, livros, um violão, um rádio e o controle remoto da televisão acoplada à parede de frente da a cama. O computador estava instalado na mesa, mas ao lado do monitor havia um notebook e uma mochila com mais presentes.

Aquilo me deu a certeza de que havia escolhido a família certa. Por que não via nenhuma daquelas coisas com futilidade. Na verdade, tudo ali eram ferramentas que deveriam ser aproveitadas para o que viria.


DIAS DEPOIS

Me ajustei bem à casa de Filipe e Rebeca.

Ele era um homem que transbordava simpatia – de verdade. Sempre puxava assunto comigo e com o meu irmão, nos levava para sair diversas vezes e Caleb simplesmente o adorava. Filipe era novo, o suficiente para não ter idade para ser pai de um garoto de 16 anos como eu, mas havia algo nele que me fazia admirá-lo e ouvi-lo quando me dava conselhos.

Já Rebeca, ela cozinhava demais, queria sempre estar na cozinha preparando algo novo e na maioria das vezes se saía bem. Ela era um pouco mais velha que Filipe, era ruiva e, embora menos simpática, tentava fazer o melhor para nos agradar.

Filipe ia à academia todos os dias e me inscreveu para praticarmos algum esporte juntos. Rebeca fazia yoga, por isso não conseguia lidar com um garoto de 12 anos correndo por todos os lados. Mesmo assim ela era uma boa pessoa, nos mimava e parecia feliz por nos ter por perto. Demonstrava isso fazendo vários bolos e dando vários abraços.

Acho que foi esse tipo de tratamento que fez com que eu demorasse para sugerir o jantar com os amigos deles. Tinha um pouco de medo de perder tudo aquilo.

— Isso é a minha gravata? – Levei um susto quando vi Filipe na porta do meu quarto, me olhando brigar com o tecido em volta do pescoço.

— Ah, sim, desculpe. Rebeca disse que tudo bem eu pegar uma das suas. Se quiser posso tirar...

Evil Boy (Romance Gay)Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz