Passo seis: uma armação

Começar do início
                                    

Eu estava entrado na sala de aula quando um deles colocou o pé pra eu cair. Meus óculos quebraram e eu machuquei as mãos e os joelhos na queda. E quando fui tentar pegar o óculos no chão, senti meus dedos serem praticamente esmagados pelo tênis caro do garoto da minha turma. Ele era o pior. Depois disso, ele pisou nos meus óculos. Eu chorei muito naquela hora, e provavelmente foi só por isso que eles se afastaram.

Mas eu fiquei com tanto medo de reclamar aquilo para alguém e eles descobrirem e fazerem tudo de novo, que eu disse que havia caído para os meus pais. Só que, eu sou um péssimo mentiroso e cedo muito rápido com qualquer pressão.

Conclusão, meus pais falaram com a direção e cobraram pedidos de desculpas dos pais dos garotos que fizeram aquilo, além do valor do meu óculos quebrado. Me trocaram de escola e compraram um óculos novo pra mim também. Não tive problemas nela, há não ser o fato de não ter amigos. E no ensino médio, não mudou nada. 

Na verdade, Jimin foi o único amigo que eu tive por toda uma vida. Desde o primeiro ano ele era popular, e eu imagino que no ensino fundamental ele também era. Então o correto seria ele ficar com os populares da escola. Ao menos, eu pensava aquilo. Mas ele preferiu ficar comigo. Tudo porque ele estava querendo saber as horas e eu estava com o celular na mão. No outro dia, ele falou comigo e eu tentei não deixar o assunto morrer, porque pela primeira vez alguém estava me dando atenção. 

Descobrir que morávamos perto um do outro só contribuiu mais ainda para nossa amizade, já que passamos a voltar juntos para casa. E bem, cá estamos nós, firmes e fortes. Certo que as vezes o Minie ameaça me matar, mas é de um modo carinhoso. Eu acho. Mas não há dúvidas para isso: Jimin me ajudou a superar meus medos. Devo muito a ele.

Caminhei um pouco mais depressa e teve um momento que eu realmente perdi a paciência com as vibrações incessantes na mochila. O que diabos Jimin queria que não podia esperar eu chegar na escola? 

De qualquer forma, ignorei, continuando meu caminho. Quando eu pisei dentro dela, a dúvida se fazer aquilo era o correto tomou minha mente. Havia algumas pessoas encostadas nas paredes. E todas olhavam para mim. Até me perguntei se havia algo de errado comigo, justamente no dia que tentava me arrumar. Só que... demorei segundos para perceber que não era um olhar de dúvida ou curiosidade. Era de escárnio. Eu pude ter certeza disso com a mão que uma das garotas colocou sobre o canto da boca antes de sorrir e virar para falar algo a outra do lado dela. Ou quando um idiota qualquer dali remexeu as mãos uma na outra, simulando um beijo bagunçado. E eu quase entendi tudo de cara. 

Tentei não dar atenção e até mesmo fechei a cara enquanto pegava a mochila nas costas e procurava pelo meu celular. Jimin devia saber de algo, e meu coração já acelerado demais precisava de uma resposta. 

Quando cheguei na porta da minha turma, foi o tempo que achei o celular e visualizei as notificações. Havia vinte e cinco mensagens de Jimin. Sete do Taehyung.

Eu não pude deixar de me sentir feliz naquele momento, mesmo com as circunstâncias. Ele havia me respondido! E isso me deixou até mais relaxado.

Abri o chat de conversas com Jimin e foi muito simples para que eu mudasse de pensamento completamente.

Vinte e cinco mensagens resumidas em: "não venha pra escola hoje", "fique em casa", "tiraram fotos", "todos já sabem de vocês dois", e a pior, "acho que ele armou tudo."

Eu senti vontade de chorar. A decepção me fez bloquear o celular e abaixar a cabeça enquanto tentava compreender tudo aquilo.

Era por isso? Ele só havia aceitado sair comigo para caçoar da minha cara depois? Desde o início, todo aquele papo que ele jogou pra cima de mim foi só para abaixar minha guarda ao ponto de permitir tirarem fotos minhas e... expor?

Senti meus olhos lacrimejarem e passei a costa da mão com força sobre eles, impedindo-me de chegar naquele ponto. Ao menos, não na escola. Onde só pioraria minha situação.

Me afastei da porta já pronto para ir embora quando alguns estudantes apareceram no corredor em que eu estava. O sorriso sarcástico surgiu aos poucos enquanto eles reconheciam meu rosto. 

E, em meios as faces de almas ruins, eu vi o rosto do Taehyung na porta da sala dele. Ele parecia assustado em me ver ali, ou talvez impressionado pela minha enorme facilidade para ser tratado como idiota. 

De qualquer forma, eu respirei fundo enquanto engolia o choro e caminhei para fora da escola, ciente de que aquele era o último local para qual eu queria voltar.

[...] 

Corri para o quarto e deixei a mochila no chão enquanto deitava na cama, cobrindo o rosto na almofada. Eu queria chorar. Queria gritar para o mundo que eu não merecia nada daquilo, que era maldade demais para uma só pessoa enfrentar. Em meio às lágrimas que já escorriam sem nenhum impedimento, eu me lembrei do beijo. Da forma gentil como os lábios se encontraram, ou como Taehyung foi doce ao dizer que me preferia com os óculos. Mas em contrapartida, ouvi os sorrisos de novo. Os mesmos da escola. O som das fotos sendo tiradas. 

"Acho que ele armou tudo."

No fundo eu não queria acreditar. Parecia tão verdadeiro antes... mas agora era tão... falso.

— Eu não acredito — murmurei, fechando os olhos com força. — Você não pode ter fingido esse tempo todo... você... 

Desisti de pensar quando eu já chorava forte. Talvez tivesse sido um erro desde o início. Talvez... Taehyung nunca tivesse se importado comigo de verdade. E eu, apaixonado, acreditei.

Operação Namore o Garoto Popular [📊] kth+jjk.Onde histórias criam vida. Descubra agora