Capítulo VII

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Vou contar agora para vocês uma coisa que até eu me perturbo às vezes quando lembro. É uma história engraçada e perturbadora ao mesmo tempo. Sem mais delongas, apresento o mito do construtor dos muros fortificados de Asgard. Simbora, meu povo!

Começa assim: era uma vez um reino grande e poderoso, que abrigava centenas de deuses e semideuses. Todos eram muito felizes e viviam suas vidinhas pacatas quando, um certo dia, um cara alto, forte e estranho chegou no reino montado em seu cavalo sem avisar nem nada, questionando como eles podiam chamar aquele reino de "o mais poderoso de todos" se nem muralhas de proteção tinha. Palácios de madeira eram fichinha comparada à nova moda das moradias de pedra, sem contar que era bem mais seguro.

Estava parecendo bom demais para ser verdade, porque ele mesmo se disponibilizou a fazer uma faxina geral no lugar, além de construir a maior e mais segura fortaleza que eles viriam em suas vidas. Ele mesmo falou que nem o Lorde Surt conseguiria passar delas (papo de vendedor que a gente já conhece). E como qualquer vendedor sagaz, ele já tinha seu preço em mente desde o início: a mão da deusa Freya em casamento, além dos escudos de Sól e Mani. Eles devem ter pensado "cê tá de sacanagem com a minha cara, só pode".

Eles não aceitaram de primeira, obviamente, mas Loki viu a oportunidade de se enturmar e por sua lábia em dia. Assim, convenceu os deuses a aceitarem os termos do operário, sendo que eles que estipulariam o prazo da construção. Enquanto o visitante desconhecido tinha comentado de 18 meses, eles o desafiaram a terminar as obras em 6, só ele e seu garanhão Svadilfari, trabalhando entre o primeiro dia de inverno até o primeiro dia do verão. E, se ele não cumprisse, o acordo seria anulado e os deuses viveriam felizes para sempre de novo, sem mais estresse e talvez com parte da muralha já construída. Resultado: ele aceitou. E foi dada a largada!

Logo no dia seguinte, o misterioso construtor já estava de pé bem cedinho, e começou a recolher as pedras necessárias para seu trabalho, sendo ajudado por seu bom e velho cavalo. O interessante era que esse cara era bem mais forte e rápido do que os deuses achavam, e seu cavalo era quase um reflexo do dono. Os dois eram duas máquinas impressionantemente produtivas, o que deixou os asgardianos meio preocupados.

Os meses foram passando, e num piscar de olhos a fortaleza prometida já estava ficando quase pronta, e houve uma reunião no palácio de Odin (que por sinal não estava nada contente). Ficaram então os deuses trancados à quatro paredes ao redor de ninguém menos do que Loki, até porque acusavam ele sem dó nem piedade de ter sido o grande culpado dessa história toda, e agora o carinha lá ia terminar as obras e ganharia o que queria. Freya já estava ficando desesperada, e Loki ia perder a cabeça (literalmente) se não desse um jeito nesse pequeno infortúnio. E foi o que ele fez, por livre e espontânea pressão.

Faltando exatos 3 dias para a construção ser finalizada, o mestre construtor foi fazer sua última ronda na floresta para recarregar os suprimentos de pedras, e assim terminar as obras. E claro que Svadilfari estava com ele, o ajudando a carregar os devidos suprimentos. Até que, de repente, dentre as altas e abundantes árvores, apareceu uma égua linda, fofa e charmosa, que logo chamou a atenção do amiguinho do operário, que ficou meio preocupado ao avistar o garanhão correr em disparada atrás da moça de quatro patas rumo ao desconhecido. Que mancada, hein Svadilfari.

Como ele chamou, chamou, e o cavalo não voltou, ele decidiu terminar sua missão sozinho, até porque não dava tempo de ficar procurando o bicho no meio da floresta. Ele não tinha mais saída.

Como um milagre para os deuses, chegado o início do verão, com passarinhos cantando e as florestas ficando mais coloridas, o construtor não conseguiu finalizar a bendita fortaleza, deixando o portal de entrada feito pela metade. Acho que vocês conseguem imaginar que ele ficou bem mau humorado nesse dia, e foi direto reclamar com o dono.

Chegando no salão de Odin batendo os pés no chão, começou a questionar os deuses na maior cara de pau e falar que eles que tinham mandado aquela égua para atrapalhar o andamento do trabalho, mas tudo o que os æsir disseram foi que ele não conseguiu cumprir com o acordo, e não teria suas recompensas. Ah, mas isso deixou o cara irado demais, e no momento rm que ele ia começar a briguinha, acabou se revelando para a patotinha asgardiana: ele, na verdade, era um gigante do Povo da Pedra, grande, forte e bem p*to, prestes a começar uma mini batalha sozinho contra seus maiores inimigos. Só que antes mesmo que ele conseguisse pensar em levantar um dedo para Odin, Thor chegou com seu martelo Mjölnir, gracioso como sempre, e esmagou o crânio do cara. Para vocês terem uma noção, Asgard inteira tremeu com o golpe fatal. Mas tirando isso, de resto foi só comemoração e bebedeira pela vitória e a construção da nova fortaleza.

Passaram uns meses e o pessoal foi percebendo e estranhando a falta de alguém. Quem será, né? Por incrível que pareça, Loki não tinha voltado desde o início do verão, quando o gigante estava terminando os muros asgardianos, e o caldo iria começar a engrossar. Loki teria fugido? Sebo nas canelas, fugiu para as montanhas? Nada haver, porque depois de 9 meses apareceu a margarida, e ela não estava sozinha. O deus da trapaça trazia consigo um potrinho fofíssimo, com nada menos do que 8 patas, e deu a ele o nome de Sleipnir. Sim, gente, ele pariu um cavalinho de 8 (oito) patas. Vou nem comentar nada.

Ao chegar no salão de Odin, danado e esperto como era, deu de presente o potro ao Pai de Todos, alegando que era um ser poderoso por possuir parte de seus poderes e parte dos de Svadilfari, seu pai. Imaginem um cavalo de 8 pernas tão rápido que consegue correr seja por terra, mar ou até mesmo o ar, além de viajar com um pé em cada um dos 9 reinos, mais rápido talvez que Sól e Mani. Esse aí é especial.

𝐌𝐢𝐭𝐨𝐥𝐨𝐠𝐢𝐚 𝐍𝐨́𝐫𝐝𝐢𝐜𝐚 - contos e curiosidadesWhere stories live. Discover now