O guia de caça de Bobby Singer

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Movi a mão no ar tão vagarosamente como se estivesse em câmera lenta, observando os traços finos e delicados da pele branca com uma minuciosidade extrema, minha mente entorpecida pela visão escura. Apertei as pálpebras quando uma luz forte se fez presente logo acima de mim, modelando-se em raios dourados de verão que me atingiam como uma carícia suave. Então eu me sentei, imediatamente meus dedos percorrendo a textura aveludada do vestido azul que se estendia até as canelas, os trejeitos da saia remetendo a uma época antiga. Respirei a brisa doce que vinha das árvores ciprestes que emolduravam o horizonte como uma pintura, balançando a cabeça e me perguntando que espécie de sonho tão realístico era aquele.

Ouvi passos se aproximarem, amassando a grama verde ao meu redor, os raios de sol estavam me cegando de maneira infortuna quando busquei encarar a pessoa que chegava, conseguindo visualizar apenas uma mão estendida para mim.

- Aproveitando a sol? - questionou a voz masculina. Atrás de si havia dois cavalos, um branco com longa crina e outro amarronzado. E no momento em que ergui o braço hesitante para o mesmo, ele segurou meu pulso e puxou de maneira um tanto brusca para que eu me colocasse de pé. Senti vontade de xingá-lo instantaneamente quando minhas pernas tropeçaram para frente, fazendo com que eu me apoiasse nele para não cair.

- Aposto que você não me ganha em uma corrida até o Vale. - desafiou com impertinência, subindo na cela do animal e pegando sua guia em mãos. Olhei hesitante para o que havia sobrado, o branco, este me encarando de volta como quem esperava algo. - Espero que você ainda saiba cavalgar tão bem como no outono passado, Lilith. - o homem piscou e de repente minha visão turvou. O nome que saíra de sua boca ecoava na minha mente inebriada pela sonolência que logo calou todo e qualquer som, restando apenas o silêncio.

Lilith.

Por algum motivo que me fugia à compreensão, aquele nome me era familiar e pavoroso.

Senti meus dedos formigarem e eu me sentei bruscamente na cama, minha pulsação acelerada como se eu tivesse corrido uma maratona. Agarrei o lençol entre as mãos até me acalmar e então olhei ao redor, constatando que estava sã e salva no meu quarto. O relógio digital marcava oito horas da manhã e o computador ligado me lembrava que eu não tinha terminado minhas pesquisas sobrenaturais de ontem à noite. As imagens do sonho ainda estavam vivas na minha memória e embora não tivesse sido algo macabro para eu reagir daquela forma, ele trazia uma sensação angustiante e sufocante que eu não sabia decifrar. Era como se fosse uma contagem regressiva para uma bomba relógio e eu não tivesse a menor ideia de como pará-la.

Mas foi apenas um pesadelo idiota, pensei comigo mesma.

Levantei da cama - já que dormir de novo estava fora de cogitação - e busquei uma toalha junto com mudas de roupa para me preparar para a faculdade. Aproveitei para desligar o computador, mas foi aí que algo que chamou atenção. Pelo que eu me lembrava, eu estava pesquisando artigos sobre demônios , onde aprendi que sal e água benta eram ótimas armas para aqueles seres, também lendo diversas fontes sobre o que eram e como agiam, todas muito diferentes para dar alguma credibilidade certa. Mas o navegador exibia uma página da Wikipédia que falava sobre a cidade de Sioux Falls, em Dakota do Sul. Franzi a testa por alguns instantes, sentindo uma corrente fria de vento percorrer meu corpo, causando um arrepio involuntário. Então balancei a cabeça e decidi ignorar, eu deveria ter clicado nela sem querer quando estava com sono o bastante para não me lembrar.

Cheguei ao estacionamento duas horas antes do início das aulas da tarde, manobrando o carro gentilmente rebocado de volta para a minha casa no domingo e colocando-o na vaga de sempre, ainda surpresa pelo fato de meus pais não terem confiscado minha chave como castigo, o que me deixava pior do que já estava. Tranquei as portas com o intuito de almoçar na lanchonete e ficar ouvindo música nos meus fones, alheia a qualquer um que viesse interromper meu retiro interior para a resolução dos meus problemas. Porém meus planos foram para o brejo logo que coloquei o primeiro pé na entrada da faculdade.

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⏰ Última atualização: 6 days ago ⏰

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