O homem dos meus sonhos

181 33 15
                                    


E mais uma vez o ditado popular estava certo: Mentira tem perna curta e é óbvio que uma festa às escondidas não ficaria na penumbra por muito tempo. 

Depois de levar uma multa por perturbar a paz pública, meus pais voltaram voando — literalmente — para casa após Dona Riley, nossa vizinha da frente, fazer o favor de ligar e avisá-los de que seus filhos estavam derrubando as paredes. Embora tudo estivesse limpo e os estragos fossem mínimos, o prejuízo maior não era material e muito menos visível. As expressões de Gordon e Brianna ao nos encontrar na porta foram de total desaprovação e desapontamento. Não sabia aonde eu estava com a cabeça quando decidi que daria uma festa, mas não conseguia entender ao certo se a sensação de remorso era por ter sido pega ou pelo fato de ter feito algo pelas costas dos meus pais. E ainda tinha aquela pontada decepção... Ah que droga! 

Eu me sentia contrariada, de certa forma, por não ter conseguido o que eu queria. Que a propósito, era o quê mesmo?

Após ouvirmos um sermão de quase duas horas precedido de berros que fizeram os vidros tremerem, foi Brianna quem bateu o martelo para nossos castigos. Jimmy ficaria sem o carro até o final do ano e eu teria que me virar para arrumar um emprego sem poder usar o meu Chevelle como transporte e os benefícios da minha mesada. 

 "Você precisa começar a andar com suas próprias pernas e ver como as coisas realmente são lá fora", dissera Gordon quando eu subi a escada totalmente estupefata e me tranquei no quarto. Não que eu relutantemente não concordasse com praticamente tudo o que eles sentenciaram, era apenas meu dever de filha rebelde sair batendo portas.

E lá estava eu, de frente para uma espelunca chamada Dinamite Bar, localizada num beco próximo ao centro de Galveston. Não era nem de perto o lugar que eu escolheria trabalhar, mas por algum motivo a placa de "seleciona-se garçonetes" chamou minha atenção como se me convidasse para uma noitada de pizza. Encarei melhor a fachada de tijolos à vista desgastada e suspirei, levando a mão até a maçaneta e empurrando a entrada, que rangeu junto com o ruído de um sino dependurado como aviso. Observei as cadeiras de madeira rústica, colocadas por cima das mesas que estavam viradas para um pequeno palanque onde tinha uma televisão grande conectada a microfones e caixas de som. Seguindo pelas paredes amareladas, havia uma cabeça de touro empalhada logo acima do balcão, onde um homem ruivo de meia idade mantinha os pés apoiados e os braços cruzados em frente ao peito que mal se mexia. 

A decoração do estabelecimento era tão sulista que eu já conseguia ouvir o hino do Texas só de ficar ali por trinta segundos.

Permaneci imóvel, esperando que o estranho a minha frente desse algum sinal de vida, o que não aconteceu. Engoli em seco e me aproximei receosa, quando no terceiro passo quase dei um pulo no momento em que ele se mexeu na cadeira.

— Olá. — disse educadamente, sentindo meu coração se recompor do susto. — Eu vim por causa da placa lá fora... — comecei e ele se inclinou para frente, mordendo o palito de dentes que tinha na boca quase coberta pelo bigode acobreado e me lançando uma expressão curiosa.

— Qual a sua idade? — interrompeu-me com a voz ríspida enquanto ajeitava as mangas da camiseta xadrez, revelando os braços enormes cobertos por tatuagens que combinavam perfeitamente com o visual ameaçador dele, do tipo que esmaga sua cabeça por um pedaço de queijo na prateleira do supermercado.

— Vinte e um anos. — revelei e o homem estreitou os olhos com dúvida, colocando-se de pé e me fazendo jurar que iria bater no teto de tão alto que era. — Faço vinte e dois no mês que vem. — acrescentei com um sorriso nervoso ao vê-lo se aproximar de mim, me analisando.

— Estuda ou faz alguma coisa que possa atrapalhar seu horário de trabalho? — questionou seriamente.

— Estudo de tarde, mas não tenho problemas em trabalhar à noite, se for o caso. — garanti rapidamente, já puxando a minha carteira de trabalho imaculada e estendendo-a sorridente para ele, que apenas deu uma olhada displicente e ignorou.

Supernatural: FobiaWhere stories live. Discover now