Um passeio no parque

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Graças ao trágico incidente no meu local de trabalho, o Dinamite Bar ficou fechado por dois dias consecutivos e - logicamente - não remunerados. A polícia nos interrogou durante quase três horas, mas ninguém fazia ideia de quem havia feito aquilo, já que a câmera do estacionamento não tinha pego a imagem do agressor, apenas o momento em que Jodin foi lançado a dez metros de distância, algo incrivelmente impressionante. Seria preciso alguém - ou algo - com uma força descomunal para tal feito.

Encarei o reflexo no espelho do banheiro feminino de maneira automática, ajeitando uma mecha do meu cabelo preto e colocando-a para trás da orelha. Meus olhos castanhos tinham leves marcas de olheiras, já que eu não havia conseguido dormir direito depois de ter visto o primeiro cadáver da minha vida.

Meus pais passaram horas conversando comigo sobre o ocorrido (provavelmente tentando descobrir se o incidente não tinha me deixado com algum retardo mental e quanto eles teriam que pagar por uma clínica psiquiátrica), porém não era como se tivesse sido a coisa mais bizarra que já me aconteceu. Enquanto todos os clientes corriam, Britany entrava em pânico e Gerard discava os números para chamar a polícia, eu apenas mantive a calma e fitei o corpo jogado na entrada como se fosse um boneco cheio de tinta vermelha, era a mesma sensação de quando você assiste um mesmo filme diversas vezes em um ano.

Mas a questão era que eu nunca tinha visto aquilo antes.

Senti meu nariz formigar ao mesmo tempo em que minha boca se enchia com um gosto terrível, então percebi que eu estava me afogando no spray de cabelo que Carla usava sem moderação logo ao meu lado. Abanei o ar e andei até a janela, abrindo-a e respirando oxigênio para meus pulmões que deviam estar cheios de laquê a aquela altura.

- Você podia ter avisado. - rosnei com um olhar mortal e a garota sacudiu as mechas na altura dos ombros para me fitar brevemente, controlei o impulso de dar uma risada mordaz quando lembrei que o "castigo" dela havia sido aplicado no seu ex longo cabelo negro.

- Eu avisei, mas você estava aí encarando o espelho como se fosse uma psicopata. - ela falou de maneira casual, mas o modo como suas feições estavam rígidas no rosto bronzeado denotavam que estava se controlando para parecer displicente. - Ou será que realmente não é? - emendou estreitando os olhos escuros.

- Adorei o novo corte. - provoquei puxando um dos cantos da boca para cima em um sorriso sarcástico. Carla inspirou sonoramente, jogando a lata de spray dentro da bolsa e fechando o zíper.

- Acha que você e o seu galinheiro vão calar a minha boca nessa faculdade? Continuem tentando, mas o que vai, sempre volta, Esther. - prometeu lasciva, uma nota vingativa enfeitava seu tom de voz. Andei até parar ao seu lado novamente, já que a nuvem de laquê havia se dissipado no ar, e ajeitei minha blusa vermelha.

- Não faço ideia do que você está falando. - arqueei a sobrancelha de maneira falsa e logo senti meu celular vibrar no bolso com uma mensagem de Marianne. Olhei rapidamente e vi que se tratava de uma reunião urgente na biblioteca. Guardei o mesmo. - E agora eu preciso ir encontrar os amigos, sabe como é. - sorri para Carla e em seguida levei a mão até a boca. - Ops... Você não sabe, já que não tem amigos porque inferniza todo mundo ao seu redor.

Dei as costas e saí do banheiro, conseguindo ouvir a morena xingar, exasperada.

Eu não sabia exatamente como a minha rixa com Carla Gomez havia começado. Tudo o que eu lembrava era que desde crianças nós nunca nos demos bem. Ela sempre foi a queridinha, representante das turmas, dos comitês, diretora do jornal semanal e mais chegada nos professores do que qualquer outro estudante. Já eu fazia as coisas da maneira mais errada possível. Éramos lados opostos e talvez fora isso que ocasionou a intriga de ódio. Havia vezes em que eu me sentia cansada daquela situação, como se estivesse sempre representando um papel em um filme e precisasse constantemente segurá-lo para não me perder de quem eu era. Algo que não fazia sentido para mim.

Supernatural: FobiaKde žijí příběhy. Začni objevovat