PRÓLOGO

221 38 173
                                    

A lua crescente iluminava todo o reino de Cronus, o que ajudava a clarear o quarto real pela extensa janela aberta. A rainha então, deixou poucas luminárias acesas espalhadas pelo comodo pintado inteiramente á ouro maciço. Já não mais relusente, pois estava desgastado com o tempo.

Ela fazia Lara dormir balançando o berço vagarosamente enquanto toava um canto tradicional sobre os deuses.

A canção fora interrompida quando Narcio, o filho príncipe do meio, entrou sem permissão no aposento. E o ruído da leve batida na porta dourada, enconstando-a, foi suficiente para que despertasse a irmã mais nova, pois já cochilava segundos antes com a voz comum, porém calma, de Noemya.

- Nao consigo dormir. De novo. - dizia o garoto.

- Acordou ela. Agora terei que cantar mais alguns minutos.

Ignorando o descontentamento da mãe, o príncipe caminha até o banco aconchegante, sentando ao lado dela. Uma mão ainda balançava o berço, a outra manteve apalpada á coxa do garoto de olhos castanhos claro.

- Mãe, conte uma história. Mas quero uma interessante, e não sobre os deuses e seus feitos.

- Fenícia ficará desesperada quando não o ver no quarto. - ela apenas o encarava com sorriso. Sem repreendê-lo.

- Aquela serva imunda está sempre me perseguindo, não a suporto.

- Respeite sua ama, querido. A senhora Fenícia lhe cuidou com muito carinho desde sempre.

No instante em que a mãe falava, Narcio deita-se apoiando a cabeça sobre as coxas da mãe.

- Eu não quero carinho dela. - o príncipe quase sussurrou, assim observando o sorriso de sua mãe; seus olhos azuis brilhando e o longo cabelo solto jogado entre os ombros.

- Eu te amo. - murmurou Noemya, desta vez acariciando o liso cabelo do filho. - Se és isto que queiras ouvir.

Lara, a princesa de dois anos de vida, dormia finalmente. E ainda no colo da rainha, o príncipe ouvira, de fato, uma história inédita.

"Era uma das lendas mais conhecidas daquele reino. Sobre uma criança que nascera amaldiçoado e por isso teve a infancia interrompida com a família de sangue, quando foi levado para as mulheres, as bruxas, que moravam na Tormenta, a maior floresta da vasta terra que um ser humano tinha conhecimento.

Por conta da maldição, o menino teve que viver escondido com elas na aldeia protegida de outros seres. Apesar daquela vida, sendo selvagens invisíveis, o jovem amaldiçoado gostava delas. Uma em particular, que o criou com todo o amor, como fosse seu filho.

Esta mesma bruxa o ajudou a fugir da aldeia, pois quando ele atingiu uma idade adulta, precisou fazer coisas que não concordava. Coisas que o enojava. E aquele tipo de coisas era necessário para o clã daquelas mulheres.

Mas conseguiu escapar, com a ajuda de sua mãe bruxa. E ter uma vida livre. Liberdade.

Entretanto, tal liberdade não permitia conviver com humanos. Era amaldiçoado. Uma ameaça para o povo.

Suas aventuras pela vasta terra é contada por vários. Mas sem descobrir seu paradeiro. Sendo até hoje um forasteiro sobrevivente."

- Acredita que é apenas uma lenda, mãe?

A mulher permanecia observando a lua, mesmo após o conto, acariciando os cabelos do garoto.

- É uma história verdadeira. Ele está lá fora. Assim como outros igualmente amaldiçoados.

...

A Ordem de CronusOnde as histórias ganham vida. Descobre agora