45 • Consequências fatais.

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— Eu te perdoo se você me perdoar...

Rico pousou a mão em seu rosto, limpando as lágrimas que se arrastavam, pesadas e úmidas.

— E pelo quê eu te perdoaria? — indagou, confuso. Kênia ergueu a bainha do vestido e tirou a arma do corpete.

O gosto amargo da traição preencheu seu peito enquanto ficava em silêncio. Como um pássaro engaiolado, sentiu-se preso dentro dos limites do trauma, incapaz de se aproximar. Tudo o que ele queria era estar errado sobre aquela situação, mas estar errado também significava estar sozinho.

Rico não surpreendeu-se com a ação, mas se decepcionou. Ele sustentou um sorriso fraco entre os lábios.

Adeus, Samantha.

Ela destravou a arma e a engatilhou. E sem hesitar atirou.

Um disparo.

Um alvo.

Um atingido.

Ela respirou fundo. Uma, duas, três, quatro vezes. Apertou o cano da arma com força, os dedos doeram. Olhando para o chão, buscou o ar mais uma vez. Estava trêmula. Um passo para trás e bateu com as costas em Kai, lentamente ajoelhou-se. A cabeça latejava de um jeito insuportável. A mente implorou para o fim daquela dor. Avistou par de pernas, mas não foi capaz de erguer o olhar.

Sentiu os braços frios da solidão lhe confortando. Alguém a chamou. Murmúrios. Não fez questão de ser ouvida. Não fez questão se quer de respirar.

Rico Borelli estava morto.

Não foi o fim do mundo, mas algo dentro dela morreu.

— Temos que ir. Eles devem ter ouvido o som de tiro. — Kai informou ao colocar a mão em seu ombro. — Em menos de dois minutos estarão aqui.

— Não sairemos vivos... — balbuciou, sem despregar os olhos de Rico. — Ele está morto?

— Você mirou no peito, ele está desacordado, então provavelmente sim. Vamos sair antes que o achem. — disse calmamente, como se o fato de Rico estar morto não fosse tão significativo. Kai caminhou até Rico e agachou-se ao seu lado, o analisando friamente. — Você é como uma bomba nuclear, Kênia. E bombas nucleares podem prevenir uma guerra, mas também podem começar. Parabéns, acabou de dar início à uma guerra.

Kênia aprendeu uma dura lição, ela precisava ser como um jogador de xadrez, estar sempre quatro passos a frente, saber manusear cada peça, não para garantir sua vitória, mas para se manter no jogo. O problema é que aquele jogo já não era divertido, e para terminá-lo só havia uma atitude a ser tomada.

Outro disparo.

Kai estreitou os olhos e levantou em um sobressalto. Ao olhar para Kênia ajoelhada no chão, a arma caída ao seu lado e a mancha de sangue em seu vestido, ele se apavorou.

— O que você fez?! — gritou, aflito. Correu até ela a tempo de segurá-la em seus braços. Com rapidez apalpou o ferimento de bala. Kênia tossiu.

— Estou exausta de me usarem para suas vinganças pessoais e disputa de poder. — balbuciou lentamente. — Essa é a melhor forma de acabar com isso. Se tivesse me deixado morrer aquele dia, teríamos evitado muita dor. Por que teve que me salvar?

— Não, não, não! Droga, não devia ter feito isso! — esbravejou ao pressioná-la contra o peito. Kai tentou estancar o local atingido mas o sangue gosmento escorria de forma frenética. — Eu vou dar um jeito nisso!

— Você já fez demais, Kai.

Ele tocou em seu queixo.

— Eu quero uma guerra para que haja paz. Só isso.

O Grande Rico Borelli. - I Onde as histórias ganham vida. Descobre agora