C A P I T U L O 1 6

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- Ele é seu avô? - Luke me olha incrédulo, induzindo-me a revirar os olhos e procurar euforicamente por uma folha de papel em uma das várias gavetas do grande armário do local.- O que está fazendo agora?

- Jack é pai de meu pai, que faleceu pouco depois de minha mãe conhecer Billy. - Encontro uma folha e um lápis para, enfim, escrever um bilhete. - Ele envolveu-se em um acidente de carro, que não me abalou muito, já que havia me deixado nas mãos de minha mãe sem ajuda alguma. - A medida que escrevo cada palavra na folha de papel, Luke olha para o pedaço em minha mão com extrema curiosidade, tentando decifrar o que fazia ali. - Jack, por outro lado, fez-se presente em minha vida desde sempre, e eu sou grata a ele por tudo. - Ao terminar a escrita, entrego a folha para Luke e o espero ler com calma.

Querido Jack.

Não faço ideia se sabia, tampouco acredito que aceitará, mas preciso que saiba de uma grande e dolorosa verdade sobre mim: sou desequilibrada. Mas não sem uma causa.

Aparentemente, meu corpo vem reagindo de forma violenta ao abuso que sofri e a morte de Earl contribuiu para que eu notasse a minha necessidade de justiça, e eu farei-a por nós, vovô.

Sabia que tentaria me impedir caso o pedisse dinheiro, então, fiz da maneira mais eficaz que conheço. Não se preocupe, devolverei tudo para o senhor ao terminar o que preciso fazer. É claro que gastarei tudo, talvez até precise de mais. Entretanto, no momento não preciso de autoridades maiores procurando por mim, quando sairei na caçada de um delinquente. O banco central possui dinheiro o suficiente para lhe dar, e eu pegarei emprestado deles.

Não se preocupe, sua neta ficará bem. O mundo ficará bem com o extermínio de Billy, e eu espero honestamente que não acione a polícia local. Estou fazendo o trabalho deles, afinal. Earl merece. Você merece. Eu mereço. Holiday mereceria, se não compactuasse de forma abrupta com os acontecimentos. Eu a desejo sorte e paz de espírito, mas não farei nada por ela e não me arrependo disso.

Não deixe de ouvir Hit The Road Jack um dia sequer, é a sua música. Não deixe de administrar o bar, a cidade o ama e ama você também. Deixei para o senhor dinheiro o bastante para que não necessite tão depressa.

Peço-lhe sinceras desculpas.

Com amor, Callie.

Ao finalizar a leitura, Luke me devolve a folha de papel e observa atentamente o que faço com ela. Dobro-a com cuidado e me ajoelho na frente de Jack, que encontrava-se inconsciente e possuía uma marca vermelha em sua testa, dando sinais de elevação.

- Eu te amo, vovô. - Dou-lhe um beijo demorado na testa, sentindo meu peito apertar de forma avassaladora, sabendo que estava deixando para trás uma grande parte de meu coração. Deixo o bilhete logo ao seu lado, garantindo que fosse lido ao seu despertar. - Precisamos ir. - Levanto imediatamente, pegando a sacola de dinheiro e segurando na mão de Luke, que me acompanhou para fora do bar e abriu a porta do carro para mim. Agradeço-o com um cumprimento e entro, acomodando-me no banco do passageiro, sem me importar com as doses de álcool ingeridas por ele.

- Para onde vamos agora? - Olho para o rapaz que havia ligado o carro e agora pedia instruções para mim. Não possuía coragem para o dizer que não estava em plenas condições de pensar naquele momento, em nosso passo inicial. Portanto, digo-o a única solução que sou capaz de pensar.

- Vamos para o hotel mais próximo, e lá descansamos e nos acomodamos. É tudo o que faremos agora. - Encosto a cabeça no recosto do banco e olho atentamente para o bar de Jack, que parecia como um passado distante prestes a ser deixado para trás. A medida que o carro se afastava do local fazia com que lágrimas escorressem pelo meu rosto, e me senti covardemente inútil diante da tentativa de as segurar. Então, somente não as segurei.

Blood Hands (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora