C A P I T U L O 1 1

538 77 24
                                    

A tensão que se instalara entre Luke e eu parecia nunca ter fim, pelo menos em minha cabeça. Em minha cabeça, imaginei que haveria uma breve despedida entre nós e que nunca mais tocaríamos no assunto em questão, ou em qualquer assunto, pois a probabilidade de todo aquele momento ser arruinado por uma simples pergunta era grande. Até eu saber que Luke não era o tipo de pessoa que levava coisas sérias em consideração. Estava começando a achar que o rapaz era o tipo de pessoa que eu queria por perto, pois estava me surpreendendo cada vez mais, e as pessoas já não tinham tal capacidade. Notei tudo aquilo ao entrelaçar minhas pernas nas costas de Luke, o obrigando a me locomover até o bar de Jack. Estávamos andando lentamente em um estado profundo de melancolia, quando sugeri uma corrida até nosso destino, e repentinamente, ele aceitou sem pensar duas vezes. Corríamos como dois carros em alta velocidade, sem nos importar com os olhares incrédulos das pessoas que deixamos para trás, sem ao menos verificar se deixamos alguém para trás. Mas o cansaço nos atingiu, e ali estávamos nós, nos arrastando lentamente.

Bem, Luke estava se arrastando lentamente.

Aproveitei de sua boa vontade para olhar a civilização ao meu redor, do topo de sua cabeça. Seu cabelo cheirava bem, e seus braços pareciam ser fortes o bastante para me carregar pelo mundo todo enquanto suas mãos seguravam firmemente minhas coxas, que por sinal, estavam aproveitando de bom grado seu toque.

- Callie? - Luke chama por meu nome, e só então percebo que chegamos ao bar de Jack. Mas não fora aquilo que o fez chamar por mim, e sim a grande movimentação aos redores, que consistia em policiais interrogando senhores bêbados e moças abaladas demais para soltar alguma palavra. Podia notar algumas com sua maquiagem espalhada por todo o rosto, não de uma forma muito atraente. E ali estava Bobby, sentado em um degrau que levava para dentro do bar, com suas mãos apoiando a cabeça e sua respiração pesada o suficiente para se notar de longe que algo de muito errado havia acontecido. - Precisa descer, vou ver o que aconteceu. - Assim, Luke colocou-me com cuidado no chão e saiu a procura de respostas, deixando-me parada olhando para o show de horrores diante de mim, com medo do que iria encontrar ali.

- Onde está Earl? E Jack? - Ando euforicamente até Bobby após perceber que respostas precisavam ser dadas, e eu iria consegui-las de uma forma ou de outra, sem pestanejar. - Bobby, por que está chorando? - Para Bobby St. James estar chorando, Deus havia morrido em sua frente, por suas próprias mãos. Ele era um herói inabalável e suas mínimas expressões diziam mais do que palavras jamais conseguiam, portanto, suas lágrimas valiam o mundo.

- Earl se meteu em uma briga, criança. - Começou sem olhar para mim, secando brevemente as lágrimas teimosas que insistiam em cair. O homem mais forte que eu já havia conhecido parecia um bebê chorão, e eu apenas queria entender o envolvimento de Earl naquilo. - Sabe de sua insistência em querer ter razão em tudo, ele era teimoso. - Era. Naquele momento, desejei ver Deus morto em minha frente, pois o que estava prestes a ouvir partira meu coração de maneira que nunca mais poderia ser consertado. - O cara estava armado, o atingiu pelas costas covardemente. - Quando Bobby finalmente direcionou seu olhar a mim e em seguida apontou com a cabeça para um ponto específico, por fim, compreendi a gravidade da situação. Havia um corpo coberto por uma lona preta, e pela expressão do homem próximo a mim, aquele era Earl e tudo o que havia restado dele.

- Seu covarde! - Precisava culpar alguém por tal tragédia, jogando-me em cima de Bobby, que não fazia nada além de chorar e aceitar meus tapas com conformismo. Ele era o mais valente de toda a região, era quem protegia a todos e combatia todos os perigos dali, onde estava quando seu amigo precisava? - Quem foi? Quem foi o maldito? - Grito em seu rosto o mais alto que consigo, não me permitindo chorar em momento algum. O aperto que sentia em meu peito era digno de algo mais dramático, não seriam míseras lágrimas que soltariam toda a cachoeira de agonia que se instalara dentro de mim. Eu queria respostas, nomes, justiça.

- Não diga a ela, Bobby. - Jack corre em nossa direção, abalado e ao mesmo tempo forte. Seu rosto denunciava as lágrimas que passaram por ali, e seus braços rodearam minha cintura afim de tirar-me de cima de Bobby, que agora levantara-se, ficando de frente para nós. - Ela não precisa ouvir, não agora. Dê um tempo a ela. - Jack insiste, apertando-me em seus braços e fazendo com que toda a raiva do mundo fosse direto para meu corpo e minha alma, e eu ainda nem sabia o responsável por aquele ultraje.

- Foi um tal de Billy Johnson. - O dono da voz não era Bobby e muito menos Jack. Luke apareceu atrás de mim tão rápido quanto revelou o nome do assassino, e minha mente viajou para anos atrás, quando aquele mesmo nome assassinou a melhor parte de mim. Logo, levou minha mãe de minha vida, e agora, havia levado Earl.

A medida que a movimentação passava por meus olhos, tudo ficava lento, disperso, distante. Senti algo dentro de mim murchar e cair, e não notei que eu havia caído também quando Jack me soltou e eu não fui capaz de suportar meus próprios pés. O ar escapou de meus pulmões e senti grande parte de todo o oxigênio de meu corpo ir embora junto com Earl, que nem mesmo teve a chance de me dar uma última dança.

- Ele esteve aqui atrás de sua mãe, Callie. - Jack abaixa-se e segura meu rosto com uma de suas mãos, olhando em meus olhos para minha melhor compreensão. Observei uma lágrima rolar todo o seu rosto e cair em sua camiseta, que estava suja de sangue e eu nem ao menos havia notado até então. - Earl o mandou para fora, não o queria aqui. Não depois de tudo o que a fez. - Seu olhar cai para o chão e percebo a batalha que estava travando para me informar de tudo o que eu precisava saber. - Billy tinha uma faca, esperou Earl virar as costas e o atingiu por trás, e é tudo o que eu sei. - E pela primeira vez em anos, me permito chorar. Foram lágrimas que caíram involuntariamente e pareciam não querer me abandonar, pois Jack havia me abraçado tão forte que o sangue de sua blusa e minhas lágrimas formaram uma parceria compatível que dançavam conforme a música mórbida que o momento cantava. Senti Luke abraçando-me por trás com um bom e confortante afago no cabelo, que me servira de lembrete para o inevitável, como uma lâmpada acesa em cima de minha cabeça: Billy haveria de pagar de uma vez por todas, e eu não passaria mais um dia de minha vida sem planejar o seu destino, que agora, estava em minhas mãos. Em minhas mãos de sangue.

Blood Hands (Concluído)Where stories live. Discover now