C A P I T U L O 1 0

597 84 20
                                    

- Você é fraca, Callie. - Aquela frase. Aquela frase havia chegado em meus ouvidos com tanta frequência que houve um momento em que aprendi a ridicularizar cada sílaba ali presente. Holiday usou-a contra mim em brigas que eu nem sabia como haviam começado, e com o tempo, não surtira mais efeito algum em mim. Algo interessante sobre as pessoas é que, se elas o chamam de fraco, é porque você não é. Pessoas fortes são tão dificilmente intimidadas que os realmente fracos utilizam meios oriundos de os intimidar, dando um ar de comédia para situações de extrema necessidade da força e da capacidade.

Luke estava ali, de frente a mim, encarando-me descaradamente da cabeça aos pés. Eu o repreenderia se não soubesse que sua intenção era apenas uma: tirar-me do sério. Estava fitando-o tempo o suficiente para saber que qualquer movimento era crucial para cada atitude que eu tomasse dali em diante, e eu estava determinada a mostrar-lhe que, ao contrário do que ele pensava - ou queria transparecer - eu não era fraca. Nem mesmo de longe.

- Não deveria sequer ousar me subestimar. - Arqueio minha sobrancelha afim de o intimidar, pois ele realmente achava que era páreo para uma garota como eu. Minhas capacidades eram tão amplas que se eu quisesse, poderia o levitar com a força de meu pensamento. Mas o que estávamos fazendo não requisitava tanto esforço. Não era necessário consultar meus poderes sobrenaturais quando, tudo o que precisava fazer era suportar dez minutos inteiros sem piscar os olhos.

Luke e eu havíamos encontrado a maneira perfeita de começar uma possível amizade: descobrindo qual de nós era capaz de não piscar os olhos por mais tempo. E até então, Luke estava vencendo. Após um próspero café da manhã com chá e torradas, arrumamos a bagunça que eu havia feito por toda a cozinha, e chegamos a conclusão de que meu bule era um caso perdido. Estava amassado em várias áreas e eu não estava com disposição para pensar em uma maneira de o arrumar, e o lixo estava convidativo demais. Assim, fizemos nossa higiene matinal e conversamos por um longo tempo sobre assuntos aleatórios, nos sentamos no tapete da sala e nos desafiamos, prometendo um ao outro uma rodada de cerveja no bar de Jack para o vencedor. O que não fora de grande sucesso para mim, que aguentei somente dois minutos. Luke aguentou sete, e quis arrancar seus olhos por isso.

- Você é feiticeiro ou algo do gênero? É quase impossível não piscar. - Choramingo em decepção e me deito no carpete, logo notando que Luke deitou-se ao meu lado, encarando o grande lustre acima de nós. Percebo o conforto que aquele momento me trouxe e logo, estranho com um longo suspiro. Não sabia nada sobre o rapaz ao meu lado e precisava de respostas que nem haviam perguntas para as complementar. - Tudo o que sei sobre você é que é um belo de um encrenqueiro e faz dívidas com traficantes em nome de familiares. - Viro minha cabeça para ele e o encaro quando ele vira a sua para mim, analisando as recentes feridas de seu rosto. Havia um corte em sua sobrancelha e uma marca roxa na maçã de sua bochecha, que fazia contraste com a palidez de sua pele. Luke era realmente bonito e aquilo começara a me incomodar. - Me conte o seu maior segredo. - Digo baixo o suficiente para que Luke pudesse ouvir, sem quebrar o contato visual.

- Meu maior segredo? - O tom de sua voz era tão baixo quanto o tom da minha, e a tensão ali presente era nítida para qualquer um que nos observasse, fosse de longe ou de perto. - Eu já matei um cara. - A vericidade em sua voz arrancou um breve sorriso de mim, que logo expandiu-se a ponto de quase rasgar meu rosto. Eu estava rindo, novamente, sem nem saber o porquê. - Por que está rindo? - Ele questiona antes de me acompanhar, dando um leve beijo em meu nariz e olhando novamente para o lustre. Aquilo não fora o suficiente para me fazer parar de o olhar, pois estava curiosa.

- Realmente matou um cara? - Digo ao interromper as risadas. Ele senta-se no tapete e afaga meus fios de cabelo, olhando em meus olhos com uma intensidade tão imensa que pude enxergar cada oscilação de azul de seu olho.

- Quase. Mas posso te contar melhor quando pagar minha rodada de cerveja. - Ele levanta, claramente incomodado com o rumo da conversa, pegando seus pequenos e únicos pertences de cima do criado, mostrando-me um dos únicos assuntos que aparentemente estava proibida de falar sobre. Ao ver-lhe andando até a porta, posso sentir que aquela conversa havia acabado, e eu morreria de curiosidade cada vez que olhasse para o rapaz e o imaginaria matando alguém.

Blood Hands (Concluído)Where stories live. Discover now