Rio

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Já passava das onze e Harry sabia que estava atrasado enquanto embalava bolos e tortas com agilidade. E, como se não soubesse, Barbara o lembrava a cada cinco minutos de que ele não devia estar ali, de que ele tinha um compromisso importante. Mas aquelas encomendas também eram importantes.

— Harry, querido, pode deixar que eu dou conta sozinha até que a garota chegue — a mulher rechonchuda falou docemente, atraindo o olhar do rapaz por um instante.

— Eu só vou esperar mais cinco minutos — ele murmurou, tentando ignorar o celular vibrando em seu bolso. — Isso aqui está uma loucura, não há como dar conta. Tirando que daqui a pouco acaba a aula e a molecada vem aos montes pra cá.

Barbara apenas balançou a cabeça e foi buscar uma encomenda nos fundos da loja.

Faltava quase uma semana para o Natal — nove dias, na verdade —, e parecia que todas as pessoas da região haviam elegido a W. Mandeville para comprarem suas tortas e bolos festivos.

Não que eles estivessem reclamando, longe disso, mas seria bom ter uma ajuda naquele momento. Qualquer ajuda.

— Cheguei, pessoal!

Menos aquela.

Harry franziu o cenho, vendo de rabo de olho a garota prender o longo cabelo loiro em um coque apertado, cobrindo-o com um boné preto. Em meio segundo, ela já estava atrás do balcão, se enfiando em um dos aventais vermelhos.

— Graças a Deus você chegou, Lottie — Barbara voltou com um chocotone em mãos e forçou um sorriso. A verdade é que ela não simpatizava muito com a cunhada de Harry. Não simpatizara com ela desde a entrevista de emprego, mas ela não negaria uma indicação de seu garotinho favorito. E era Natal, eles precisavam de mão de obra. — Harry está todo enrolado aqui.

A loira sorriu, indo até onde Harry tentava dar um laço em uma caixa decorada, substituindo as mãos grandes e ásperas dele pelas suas pequenas e delicadas, não evitando um roçar de peles.

— É assim, Haz — falou com a voz aveludada. — É preciso ter paciência; se for feito com pressa, não dura muito — seus enormes olhos azuis estavam fixos no rosto travado dele e ela não parecia estar falando apenas do laço.

— Obrigado — resmungou antes de dar a volta no balcão, livrando-se do avental e pegando seu sobretudo preto. — Eu vou lá então, estou tão atrasado que provavelmente Louis vai me mandar de volta aos pedacinhos em diversas caixas decoradas com duendes e bengalas doces.

Barbara riu, acenando com a mão para que ele fosse logo.

Charlotte apenas mordeu o lábio, não escondendo o incômodo que apenas a menção do nome de seu irmão mais velho lhe causava. Harry fingiu não notar e saiu apressado, vestindo-se apropriadamente para enfrentar a manhã fria do começo do inverno. Graças a Deus ainda não estava nevando.

Assim que se viu fora da loja, puxou o telefone do bolso, se permitindo sorrir ao desbloqueá-lo, visualizando o plano de fundo. Uma foto de Louis todo vermelho e com uma sobrancelha arqueada, perguntando-lhe o que Harry achava que estava fazendo, tirando uma foto depois de ele discutir com uma garota qualquer no estacionamento ASDA, jurando que ela estava flertando com seu alfa.

Adorável.

Correu os dedos direto para a seção de mensagens. Ótimo, seis mensagens não lidas de Louis. Riu baixinho ao notar que se as lesse ao contrário, pareceria alguém irado se acalmando lentamente. Pena que a primeira mensagem era “Estamos te esperando. Ansioso, papai?” e não “Harold, é bom que você esteja a caminho, pois senão nem se importe em aparecer! Por que eu achei que você seria responsável?”.

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