Instinto

Revelação

Louis esperou pelo que pareceu ser uma eternidade. Ele já havia tomado todo o seu chocolate quente e comido o cheesecake — que estava uma delícia, aliás. Já havia enjoado de olhar a rua quase deserta e já havia anoitecido. Contou as lâmpadas de papel que estavam penduradas no teto — eram cinco — e havia desistido de tentar bater o recorde de Niall no Flappy Bird. Não havia nenhum outro cliente além dele no café e a gentil Karen parecia concentrada demais na novela que passava na televisão.

Pegou o pau de canela coberto de chantilly de dentro de sua caneca e o chupou preguiçosamente, saboreando o doce levemente ardido. Corou quando percebeu o olhar hipnotizado de Liam sobre seu gesto.

Olhou o relógio no visor do celular pela milésima vez. Niall estava quatro minutos atrasado. Brincava com seu cachecol preto quando viu o loiro entrar esbaforido, o sininho chamando a atenção dos donos do café.

Liam arqueou as sobrancelhas, observando de rabo de olho o irlandês praticamente correr até a última mesa e sentar de frente para Louis. Ele ofegava.

— Tudo bem que você se atrasou, mas também não precisava vir correndo — Louis riu.

— Ah, precisava — suspirou.

— Se você diz... Mas vai, me conta! — apoiou os cotovelos na mesa e o rosto nas mãos. — Como foi a coisa com o Zayn? — seus olhos azuis brilhavam de excitação.

— Ah, Lou — não conteve um sorriso. — Foi muito bom, foi incrível estar com ele de verdade pela primeira vez. Assim, na época em que ele era meu parceiro, éramos mais como dois moleques agindo por instinto. Hoje foi especial — corou um pouco. — Porém, não é sobre isso que quero falar. Vou ter muito tempo pra te contar tudo nos mínimos detalhes mais tarde — e, virando-se para o garçom: — Liam, leva um latte pra mim lá fora?

— Claro, Nialler — forçou um sorriso. Droga, lá fora não posso ouvir a conversa.

Niall levantou e foi seguido por Louis até a calçada, sentando em uma das mesas ao ar livre. O vento frio arrepiou Louis inteiro e Niall rapidamente tirou sua jaqueta, estendendo-a para Louis.

— Obrigado — sussurrou, enfiando-se na peça um pouco maior do que si. — Então, o que fez correr até aqui?

— Lou, olha pra mim — pediu, recebendo a atenção dos olhos cor de mar do mais velho. — Eu quero que me explique exatamente como tem se sentido nos últimos dias.

— Hã?

— Está sentindo tonturas?

— Ah, de vez em quando.

— Enjoos? Cansaço? Vomitou alguma vez?

— Nossa, que interrogatório — resmungou. — Sim, um pouco de tudo. Acho que é porque ainda não me adaptei totalmente à nova rotina. É provável que seja virose, Daisy estava doente semana passada e eu fiquei cuidando dela. Devia ser contagioso.

Niall ponderou. Talvez Louis estivesse certo. Talvez ele apenas estivesse exagerando na preocupação.

O tilintar do sino os alertou, Liam deixou o latte sobre a mesa e voltou para dentro do café.

Louis ergueu uma de suas sobrancelhas perfeitamente arqueadas, avaliando o loiro que observava a flor desenhada com creme em sua xícara como se fosse a coisa mais interessante que já tinha visto.

— Por que está tão nervoso? — especulou. — Aconteceu algo a mais entre você e Zayn?

— Não, Lou, não tem nada a ver comigo — suspirou. — Só fiquei preocupado com você. Você falou uns sintomas estranhos pelo telefone e eu pensei que... Ah, esquece — tomou um longo gole de sua bebida quente, sentindo-a aquecê-lo de dentro para fora naquela noite fresca de outono.