Capítulo 51 - Quando a gente vai voltar...

1.1K 156 428
                                    

Fernando não estava mais na cama quando acordei. Permaneci deitada, estava com sono e preguiça demais. Além disso, estava curtindo minhas lembranças. Foi tão bom que eu não tinha certeza se foi verdade ou sonho.

Se não fosse pelo fato de eu estar sem roupas, com os lábios inchados e uma leve ardência nas coxas, que foi onde os quadris dele estiveram a noite toda, eu não acreditaria que foi real.

Era um grande alívio ele não estar no quarto agora, porque enquanto o sono ia se dissipando, seu lugar ia sendo tomado pela vergonha. Eu não fazia ideia de como reagir quando o visse. Não depois da noite que tivemos. Nós dois estávamos... fora de controle.

Agarrei o lençol junto ao peito e olhei em volta três vezes antes de constatar que minhas roupas não estavam no chão, onde Fernando as jogou de qualquer jeito ontem à noite.

O relógio de pulso em cima da mesinha de cabeceira marcava 6:37. Foi aí que eu acordei de verdade. Eu tinha que estar na faculdade em menos de trinta minutos e estava sem roupas na cama do meu marido/ex.

Apressadamente, me enrolei do jeito que deu no lençol e fiz uma corrida desengonçada até o guarda-roupas. Sem desgrudar os olhos da porta do quarto, enfiei a mão e peguei a primeira coisa que encontrei.

Enquanto eu tentava vestir e segurar o lençol ao mesmo tempo, tive a impressão de que Fernando entraria a qualquer instante e eu ia cair dura para trás de tanto constrangimento.

Felizmente, as camisas de botões dele serviam como um vestido para mim. Um vestido bem curto, mas serviria até eu chegar no meu quarto.

Meus passos seguintes foram como os de um verdadeiro espião. Abri a porta com todo o cuidado para não fazer barulho, estreitando os olhos — como se isso ajudasse — e consegui sair do quarto.

Avistei só o topo da cabeça de Eduardo sentado no sofá assistindo Transformers e redobrei o cuidado. Seria difícil explicar para ele que eu dormi no quarto de seu pai.

Ao menos as aulas de balé que fiz até os sete anos finalmente estava servindo de alguma coisa. Andei na ponta dos pés, as pálpebras fechadas e os dedos cruzados.

— Ai, droga! — Coloquei a mão na testa, pela dor, e abri os olhos. Não me lembrava daquela estante ali.

— Mamãe? — Olhei para o lado e lá estava Eduardo, em pé no sofá, me observando com atenção.

Do nada Fernando apareceu atrás do balcão da cozinha. Os olhos dele foram direto para onde? Para as minhas pernas desnudas.

— O que estava fazendo no quarto do papai?

Fernando e eu trocamos um olhar cúmplice. Eu sabia o que ele estava pensando, assim como ele sabia o que acabei de pensar, ou melhor, de lembrar.

— Nada — falei, a maior cara de culpada.

Que bom que Eduardo gostava demais de Transformers para não insistir na conversa comigo. Ele se distraiu com a TV e voltou o foco para ela.

— Fiz café — Fernando disse, sem tirar os olhos de mim, quando comecei a me afastar.

— Tá, eu só vou trocar de roupa — apontei o indicador por cima do ombro, em uma direção qualquer que desse para entender que eu estava indo para o quarto.

— Está bom assim — e mais uma vez ele estava olhando para as minhas coxas.

Eu queria me esconder daquele olhar. Estava me fazendo lembrar de coisas que eu não deveria nesse momento. Então fui para perto do balcão e me sentei, feliz por finalmente esconder as pernas.

Fiquei olhando para o granito como se estivesse muito interessada. Até comecei a descascar com a unha uma sujeirinha grudada.

Aquilo era constrangedor. Nem na nossa primeira vez eu fiquei tão constrangida assim.

Como nascem as estrelasWhere stories live. Discover now