Capítulo 09 - Oi, meu nome é Fer...

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— Estou bem, gente.

A garota lá, a tal Cláudia, disse mais alguma coisa que não me dei ao trabalho de prestar atenção.

Sabrina estava com os olhos fixos nos meus. Apesar das reclamações que vinham da garota que ambos estávamos segurando, Sabrina parecia nem notar sua presença.

Foi como se eu pudesse ver seu cérebro funcionado: ela olhou para a minha mão no braço da amiga dela, olhou para a sua própria, olhou para trás, e eu soube que ela estava procurando uma forma de escapar.

— Tá, me soltem, eu já disse que estou bem! — a garota puxou os braços das nossas mãos e saiu marchando.

E foi assim, senhoras e senhores, que Sabrina ficou sozinha comigo. De novo. Me olhando com aqueles olhos de esmeralda, sem saber o que fazer. Até que os desviou para o lado.

Ela não era capaz de sair correndo, era?

— Oi — falei.

Sabrina fingiu não ter ouvido. Ela ficou exatamente do mesmo jeito. Impassível. Talvez o plano dela fosse me ignorar ali parado em sua frente até eu me constranger ao ponto de desistir e ir embora.

O que ela não sabia, no entanto, era que um constrangimento bobo não era páreo para minha curiosidade em saber o que estava por trás daqueles olhos bonitos quando eles se desviavam ao registrarem o meu rosto. Deve ter percebido que eu não ia desistir fácil, porque se mexeu desconfortável, segurou as alças da mochila em suas costas e olhou para mim.

— Oi — respondeu de má vontade, quase não emitindo som, e virou o rosto de novo.

Metida? E não era pouco. O nariz afiliado apontando para cima. Mas eu podia ver. Eu simplesmente podia. Havia um quê de vergonha no jeito que ela apertava as alças da mochila e torcia o pé direito atrás do tornozelo esquerdo. Mas vergonha dê que? Ela era a Sabrina! Isso nem combinava com ela.

Apesar de tudo isso, ela parecia determinada a me esnobar. Aquilo era bem irritante. A final de contas, era ela quem me devia alguma coisa e não o contrário. Mas um pedido de desculpas estava além do que eu podia esperar. Não havia nem chances de haver uma conversa decente.

Bom, eu não ia deixar passar dessa vez. Ia direto ao ponto. Sem rodeios. Ia questionar por que raios ela agia como agia comigo sendo que foi ela quem me socou na cara. Abri a boca para dar início ao interrogatório, mas me detive ao notar uma expressão de culpa quando ela mirou os olhos em mim.

— Eu... hum... me desculpa pelo... — ela apontou para o meu rosto, meio sem jeito — Eu pensei...

Quem era essa garota sem jeito? Não podia ser, como disse a minha mãe, o brutamontes que marcou meu rosto. Repentinamente, a vontade de exigir respostas passou e eu apenas disse:

— Eu sei, não importa.

— Importa sim! — se eu tivesse o mínimo de prudência, daria um passo atrás ao ver ela fechar os punhos daquele jeito, com aquela cara. — Eu não queria que a nossa primeira conversa começasse comigo gritando que você era um canalha!

Opa, opa.

Repare só no que ela disse.

Para começo de conversa, ela queria uma primeira conversa. As coisas estavam ficando interessantes. Vi que ela ficou embaraçada no segundo seguinte. Deve ter percebido que falou demais. Tarde demais.

— Então vamos começar de novo — estendi a mão para ela. — Oi, meu nome é Fernando.

Ela olhou do meu rosto para a minha mão estendida, olhou para os meus olhos novamente e por fim pegou a minha mão.

— Sou Sabrina.

— É um prazer, Sabrina.

Coitado. Eu não fazia ideia de onde estava me metendo.

Como nascem as estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora