Capítulo 31 - Eu quebro suas per...

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Defenestrar; 1. ato de jogar algo ou alguém pela janela.

Ex.: Minha mãe estava me olhando como se quisesse me defenestrar.

— Vocês estão brincando comigo?! — Ela ficou em pé de uma vez, balançado a mesa com o impacto. As taças de vidro tremeram em um sonoro "trim trim", mas felizmente mantiveram-se de pé.

Minha mãe achou aquilo uma afronta. Bem, eu já esperava, e esse foi um dos motivos de eu escolher aquela data para me casar.

— Você faz isso para me desafiar, não é, Fernando?!

Quem gostou mesmo foi o pai de Sabrina, que quase se estafou de rir do desespero da minha mãe.

— Quando eu disse 18 anos, não quis dizer que vocês tinham que casar assim que completassem os 18! Muito menos no dia do aniversário!!! Era para esperar um pouco mais, talvez, milagrosamente, algum juízo entrasse nessas cabeças ocas de vocês e vocês percebessem o erro que iriam cometer!

Então ela começou com um sermão sem fim sobre Sabrina e eu sermos novos demais para casar, que não tínhamos experiência de vida, que isso não ia acabar bem. Blá-blá-blá. Todo mundo ficou morrendo de tédio esperando o fim daquele sermão sem fim.

Denotando seu completo tédio, o pai da Sabrina estava com o cotovelo em cima da mesa para poder apoiar a mão no rosto. Isso fazia com que a mão empurrasse a bochecha para cima de forma a quase fechar seu olho direito. A boca meio aberta. O mais engraçado é que, quando olhei para a Sabrina, vi que ela estava fazendo a mesma cara.

Me impressionava como Sabrina podia ser tão parecida com o pai. A impaciência, a teimosia, as manias. Será que o meu filho também herdaria a personalidade do pai? Não sei se eu queria isso, pois não fui uma criança endemoniada e gostaria muito de assistir um garotinho sapeca deixando Sabrina de cabelo em pé. Sorri ao imaginar a cena.

Meu pai continuou comendo. Ele era do tipo de pessoa "nada me abala". Ele ficava completamente alheio.

Eduardo, no carrinho, começou a chorar. Ingrid o pegou e o manteve perto de Sabrina, única pessoa no mundo capaz de acalmá-lo.

A mesa estava dividida assim: minha família de um lado, a de Sabrina do outro.

E a minha mãe lá, falando sem parar.

— Mas que porra! Alguém faz essa mulher calar a boca. — Tem necessidade de dizer quem falou isso?

— Seu boca suja. Não respeita nem a presença do neto — minha mãe recriminou olhando de cima.

— Ah, vai pra porra!

E o jantar de noivado foi basicamente isso.

— Pai — chamei.

Ele levantou a cabeça, distraído com o espaguete.

— Hum?

Indiquei com os olhos para minha mãe e ele enfim se tocou que deveria fazer alguma coisa.

Aí ele, com toda sua serenidade, limpou a boca com o guardanapo de tecido e se levantou. Ele a levou a uma certa distância para uma conversa baixa. Não tenho a menor ideia das coisas que ele falou, só sei que conseguiu acalmar a esposa.

Eu, definitivamente, precisava pedir para ele me ensinar aquela mágica. Para eu poder aplicar em uma certa pessoa que estava me olhando do outro lado da mesa.

O problema é que depois disso tudo, o clima ficou tenso. Não fosse pelos sons de insatisfação do meu filho ao tentar agarrar a toalha da mesa e ser recriminado pela avó, só o som que ouviríamos seria o dos talheres e, como fundo dramático, um grilo cantando no quintal.

Como nascem as estrelasWhere stories live. Discover now