A observei levar uma fatia de pizza a boca.

Ela comia como uma criança, mas uma criança educada. Revezava entre mordidinhas e arrancar pedaços, lambia os lábios, chupava os dedos discretamente.

Era uma imagem fofa.

Sorri, mordiscando meu próprio pedaço de pizza.

-Achei que estivesse chateada comigo - confessei.

Lauren fez uma careta e baixou sua fatia.

-Quer mesmo falar sobre isso? - perguntou.

Assenti.

-Me sinto mal por ter julgado você. Eu venho fazendo isso às vezes. E o pior é que eu não faço ideia se faria algo diferente. Tipo, você sabe melhor que ninguém o que está fazendo.

-Sei mesmo - ela disse, mordiscando a pontinha de uma fatia.

Uma sobrancelha minha se ergueu.

-Sua modéstia é linda.

Lauren riu.

-Só estou dizendo a verdade - falou - eu sou a mãe dela e sei que não é uma brincadeira como todo mundo acha que eu penso que é. Sou responsável pela vida dela, educação, saúde, segurança, tudo! Eu não sei de todas as coisas, mas com ela eu penso mil vezes antes de dar qualquer passo e me condeno mais mil vezes pensando se fiz o certo e bom, eu só posso apostar que sim.

-Eu só fiquei preocupada quando a vi sozinha e...

-Desculpe, mas ela não estava sozinha - me interrompeu - confia-la a Lucy não é a coisa mais dócil da vida, mas mesmo sendo uma estúpida a primeira coisa que ela fez foi afastar Cake de você quando achou que fosse uma ameaça. E ainda tinha Luis. Além disso eu estava atenta, Camila, eu sabia que ela ia me gritar se algo estivesse errado, assim como ela gritou. Ainda assim, deixa-la foram os cinco minutos mais aterrorizantes de minha vida. Nos dias que se seguiram eu só consegui pensar no que poderia ter acontecido se não fosse você ali.

-É, por sorte era eu - resmunguei.

-Não poderia ser mais ninguém. Eu conversei com Luis depois e ele disse que viu que era você ali antes de Lucy. Não teria acontecido nada.

-E se ele não estivesse olhando?

-Mas ele estava. Esse é o ponto. Você acha mesmo que eu deixaria minha filha aos cuidados de um irresponsável? Quem você pensa que eu sou?

-Olhando desse ângulo parece mesmo que estava tudo sob controle. Mas não pode me julgar por ter me assustado com o que vi - contestei.

-E eu não te julgo, mas tenho visto você fazer isso comigo desde que pos os olhos em mim.

Ponto para ela, mais uma vez.

-Eu sei! É uma situação estranha para mim, é confuso que às vezes eu me ponha em seu lugar pensando se eu faria diferente e não encontro respostas.

Lauren suspirou, parecendo frustrada. Me encarou.

-Francamente, Camila, se não acredita que eu sou capaz de ser uma boa mãe, por que me confiou seu bebê?

Abri a boca para responder, mas não sabia o que dizer. Sabia que realmente havia passado essa impressão, mas não era isso.

-Desculpe - murmurei - eu a dei porque confio em você. Isso não mudou. Eu confiaria minha vida a você. Você é inteligente, tem bom coração, é divertida, responsável... e eu a acho, sim, uma boa mãe.

Lauren baixou os olhos.

-Só... Não seja mais uma dessas pessoas julgando se eu sou ou não uma boa mãe. Ninguém sabe o que se passa entre Cake e eu para refletir sobre minhas ações. Sabe que Dinah faltou enlouquecer quando eu anunciei que íamos para a Europa?

-Oh, sério? - ela assentiu - que merda, Lern.

Voltou a mordiscar a pizza e fez silêncio até pegar uma fatia do outro sabor.

-As pessoas não acreditam que eu possa cuidar de mim mesma, quem dirá de uma criança.

-Pois eu discordo - rebati - para mim você é tão capaz que me assusta. Queria ser tão capacitada para lidar com a vida aos vinte e seis como você já era aos dezenove. Isso não é nada. É besteira.

Lauren sorriu, derretida, mesmo que ainda cabisbaixa. Ela não conseguia guardar mágoas por muito tempo.

-Que bobagem - murmurou - as pessoas são diferentes, apenas. Somos apenas centradas em atividades e motivações diferentes.

-Você faltou me xingar na carta que me enviou na formatura! - a lembrei.

Lauren riu, jogando a cabeça para trás, os dentes a mostra, o som gostoso de sua gargalhada.

-Eu não fiz isso!

-Fez sim!

-Talvez eu tenha apenas usado mal as palavras...

-Não, você brigou comigo.

Suas bochechas estavam coradas e Lauren girou os olhos pela casa.

-Ok, talvez eu tenha feito isso.

Sorri de lado, a admirando enquanto terminava de comer meu próprio pedaço de pizza e notei que Lauren seguia o mesmo ritmo.

-Fez sim. Não foi o melhor presente de formatura que ganhei, sabe...

-Eu apenas estava lá, então sua irmã entrou e me fez lembrar de tudo como se uma montanha caísse sobre mim.

Ergui a sobrancelha para Lauren, que gesticulava e evitava meu olhar.

-Uma montanha?

Ela me encarou com um biquinho adorável nos lábios.

-Não desdenhe da intensidade dos meus sentimentos.

Ergui as mãos em rendição e sorri.

-Jamais faria isso. Não depois de ver como você é brava como um filhotinho.

Lauren fez uma careta.

-Em minha defesa, eu estava com raiva de seu brilhante senso de sacrifício.

-Brilhante senso de sacrifício?

-Sim, é como eu vejo essa coisa toda. Eu a detesto, mas a admiro por isso.

-Hm.. - me inclinei sobre Lauren e lhe roubei um beijo - admira, é?

Ela sorriu de lado.

-Admiro.

-Então você não quer que eu mude?

Lauren negou com a cabeça.

-Eu me apaixonei por essa Camila, só quero que ela se permita ser apaixonada por mim também.

Minhas sobrancelhas se ergueram e a observei.

Seu rosto estava corado, seus olhos perdidos nas mãos cujos dedos brincavam entre si.

Suspirei.

Com um movimento simples afastei a caixa de pizza a colocando em cima da mesinha de centro que estava afastada ao canto e me aproximei, colocando seu cabelo atrás da orelha e erguendo seu queixo.

-Eu sou irremediavelmente apaixonada por você, Lauren Jauregui - sussurrei antes de me lançar no beijo mais entregue que já havia dado na vida.

LIVRO 2 - With All My Heart [Segunda Temporada De With All My Love]Where stories live. Discover now