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ELIZON

Os olhos frios e cruéis do meu pai pareciam me encarar. Sua expressão era sempre fechada, suspeitei que ele nunca tinha sorrido na vida. E mesmo na tela de um quadro ele ainda parecia me encarar com desgosto.

— Elizon, acho que sei onde a Kira está — Tâmara entra na biblioteca gritando de animação.

— Ótimo, avise as equipes de busca — respondo simplesmente.

— Eles não vão saber chegar a esse lugar

— Tenho certeza de que podem dar um jeito — retruco. Eu não estava nenhum pouco a fim de participar da caça ao tesouro deles. Eu precisava pensar em um jeito de sair dos meus próprios problemas.

— Já chega! — ela diz tão decidida que isso me faz encara-la — To cansada de ver você se encolhendo no próprio fracasso. Você não é assim, você é uma guerreira porra. Se odeia sua situação então vá a luta e enfrente isso. Mas não desconte sua raiva em mim, ou nos outros, nós só queremos ajudar você. Nós tratar mal não vai te fazer ganhar uma batalha.

— Mas ao menos vai me poupar da presença irritante de vocês.

Dessa vez, vejo a raiva explodir nos seus olhos.

— Quer saber?! Tudo bem, fica ai então. Se esconda na sombra do seu medo e egoismo, deixe que os outros salvem seu reino por você como da ultima vez. — cada palavra foi como fagulhas de fogo sobre a raiva constante que queimava dentro de mim.

Eu nem perdi tempo criando argumentos para discutir, simplesmente atirei todos os livros da prateleira mais próxima nela.

Os livros atingiram ela com precisão, fazendo ela cair.

Eu nem tive tempo de rir daquilo, com um movimento da mão ela fez a escultura de busto do nosso tataravô se chocar contra meu rosto.

Uma dor lacerante atravessou meu rosto, quebrando meu nariz, dentes e trincando meu crânio no processo.

Se eu não tivesse o poder de me curar rápido aquilo teria me deformado, ou me matado.

E isso fez a raiva arder ainda mais em mim. E quando me levantei, eu abri as asas e voei em cima dela.

O impacto dos nossos corpos se chocando contra o chão fez alguns livros tremerem da prateleira e cair.

Eu teria parado e tentado recupera-los, mas a raiva dentro de mim era mais urgente.

Ativei a runa de fogo.

E quando meus punhos se chocaram contra o nariz dela me concentrei no som dele se quebrando.

Continuei golpeando e golpeando, até ela estar irreconhecível de tanto sangue no rosto. Até o coro do seu rosto estar se partindo devido o fogo que envolvia meus punhos.

Mas no momento que a Tâmara pressionou a mão na minha barriga, um redemoinho de ar me atingiu me jogando contra a parede.

O vento era tão forte que eu sentia a parede se afundando devagar atrás de mim. O ar havia se tornado irrespirável. Sentia como se minha pele fosse partir e deslizar dos músculos lentamente.

— Você não quer brigar comigo Elizon — Tâmara avisa se levantando. Seu rosto estava se recuperando lentamente.

Eu queria responder, mas o vento forte me impedia de fazer qualquer coisa. Aquilo estava me sufocando.

E cada chama que eu criava nas pontas dos dedos era facilmente apagada. Eu teria que explodir, liberar todo o fogo de uma vez só.

E foi exatamente o que eu fiz.

Liberar todo o fogo que estava preso, contido a semanas, foi como tirar um peso das costas.

Foi como explodir uma bomba. O impacto rachou as janelas, as prateleiras foram destruídas.

E o meu alvo principal, Tâmara, foi atirada longe contra uma das prateleiras.

O que eu não esperava era que essa prateleira fosse abrir e o corpo da Tâmara fosse sumir dentro de uma passagem.

Sem perder tempo caminho até lá a passos largos. O fogo ainda queimava ao meu redor, me fazendo iluminar o lugar.

Era uma passagem secreta. Havia uma escada estreita conduzindo para baixo.

Desço cada degrau com cautela. Não demora muito para eu me deparar com a Tâmara. Ela estava jogada sobre os degraus, tentava se levantar lentamente.

— Aiiii! — ela exclama quando piso em cima da sua mão

— Desculpe irmã, não estou enxergando muito bem depois de você ter ressecado meus olhos — rebato e continuo andando.

As escadas terminaram em um tipo de sala. Apesar do fogo que pairava ao meu redor, ainda estava difícil visualizar a sala toda, então joguei uma bola de fogo na tocha mais próxima. E em outra depois dessa, até que todas as tochas estivessem acesas.

— Caramba! — Tâmara para ao meu lado impressionada — Isso é...

— Um mausoléu — respondo observando os túmulos de cimento com esculturas de homens sobre eles.

Cada escultura era um rei que já reinou no Submundo.

Mas o que me chamou atenção não foi esses túmulos velhos e empoeirados, foi algo além deles. Um mapa com aparência nova preso a parede.

No canto, havia uma escrivaninha, estava forrada de papeis e caneta.

Tâmara seguiu meu olhar e nos aproximamos da escrivaninha ao mesmo tempo.

Meus olhos correram rápidos pelos papeis e ficaram arregalados a cada descoberta.

— Puta merda — Tâmara sussurra observando as anotações do meu pai.

— Parece que herdamos um exercito — comento lançando um sorriso de cumplicidade a ela.

Herdeira do Submundo 2 - Coroa InfernalWhere stories live. Discover now