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KIRA

— Zeythan, que prazer te-lo conosco hoje — Alexandre diz em tom amigável.

O que estava acontecendo? Zeythan tinha sido controlado? Ou estava mesmo traindo a Elizon?

Eu não podia acreditar na ultima opção, então resolvi acreditar que assim como eu, ele também estava encenando.

— O prazer é todo meu majestade. — meu irmão faz uma leve reverencia e então seus olhos param em mim — Kira — apenas um aceno de cabeça, quase imperceptível.

— Olha só que maravilha ter os dois irmãos comigo hoje — Alexandre comenta e puxa a cadeira pra mim — Sente-se querida.

Obedeço sem hesitar. E observo quando ele toma um lugar ao meu lado.

— Então, me falem um pouco sobre vocês. Como foi a infância? — Alexandre pergunta.

— Foi bem ocupada — Zeythan responde se servindo de uma coxa de galinha — O Senhor das Trevas me colocou em um campo de batalha aos dez anos de idade. Tive a espada como um pai e o escudo como uma mãe.

Aquilo era trágico e sincero, mas a forma como o Zeythan dizia parecia não significar grande coisa. Era uma ferida cicatrizada e quando notei o olhar de desanimo do Alexandre quase sorri pro meu irmão. Meu irmão não havia deixado espaço para o Alexandre provoca-lo, para atingir qualquer ponto fraco que ele pensou que tivesse.

— A minha também foi boa — comento — Eu não cresci em campos de batalhas como o Zeythan, o que é uma pena pois todo o trabalho que faço aqui teria sido mais fácil se eu tivesse crescido com ele. — torci para que o Zeythan entendesse a informação que eu estava tentando passar naquelas palavras — Mas eu cresci ao redor dos livros, meu pai achava importante estudar outros mundos e outras criaturas.

— Acho que me lembro de uma reunião em família que você me disse que adorava geografia — Zeythan comenta.

— Realmente, eu adorava. Você se lembra dos mapas que eu tinha no quarto?

— Claro, eles eram horríveis.

— Zeythan!! — respondo em tom de advertência.

— Principalmente o do Deserto Negro, aquele era horrendo.

— Eu adorava. — respondo dando de ombros e me servindo de uma coxa de frango.

Me concentrei em comer como se a coxa de frango fosse a ultima dos mundos, porque se eu olhasse para o meu irmão meus olhos poderiam me trair.

O Zeythan havia acabado de me contar onde estávamos. O Deserto Negro, agora entendo porque estamos dentro de um vulcão e porque o céu é sempre tempestuoso.

O Deserto Negro era um lugar condenado. Milhares de monstros antigos e horríveis haviam sido banidos para cá. Além dos próprios monstros que se escondiam a baixo das areias do deserto. E apesar de grande parte ser deserto, havia vários vulcões, milhares deles. Diziam que os próprios dragões haviam erguido esses vulcões no passado e habitado nele.

Mas eu não sabia dizer com certeza se isso era verdade, os dragões haviam desaparecido a anos, ninguém nunca mais viu ou ouviu falar neles.

— Mas e você majestade? — meu irmão pergunta — Como foi a infância?

Foi rápido mais eu notei uma sombra de tristeza passar pelos os olhos do Alexandre.

— Foi muito boa — ele responde sorrindo. Mas o sorriso não chegou até os olhos.

— Tem irmãos? — pergunto.

— Nenhum. Apenas um trono todo meu.

— Que ótimo. Quem precisa de irmãos quando se tem um trono? — Zeythan comenta em tom brincalhão.

— Não é? E por falar nisso, vou precisar da ajuda de vocês para retomar meu lugar de direito.

— Como assim? — pergunto.

— Você não precisa saber de nenhum detalhe agora minha querida, eu preciso apenas que você entregue seu exercito ao meu comando. — tentei manter a expressão o mais neutra possível. Qualquer sinal do que eu estava sentindo poderia me entregar.

— Não sei se posso fazer isso estando aqui majestade. — argumento, torcendo para surgir uma esperança de escape.

— Não se preocupe com isso agora. — seu sorriso quase parecia bondoso, então ele se vira para o Zeythan — Também vou precisar da sua ajuda. Lorde Aysaq te pôs a par dos planos?

— Planos? — me arrependi de perguntar no momento que as palavras saíram.

Alexandre me encarou de novo. Ele parecia desconfiado.

— Desculpe querida, mas esse assunto não é da sua conta. — e com um estralar de dedos, tudo ficou mudo.

Era agoniante, eu conseguia ver os lábios do meu irmão e do Alexandre se mexendo, mas não conseguia ouvir absolutamente nada.

Por mais que eu me esforçasse, tudo estava em silêncio. Era quase como se eu estivesse entrado em outro mundo. Um mundo onde as pessoas estão no mudo, um mundo no qual eu tinha medo de falar e não ouvir minhas palavras.

A agonia durou vários minutos, assisti meu irmão e o Alexandre em uma discussão demorada.

E quando o Alexandre estralou os dedos de novo, tudo o que consegui ouvir foi

— Tudo certo então. — e um sorriso triunfante surgiu em seus lábios quando brindou com meu irmão.

Herdeira do Submundo 2 - Coroa InfernalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora