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KIRA

— Sou eu, não grita — Kass ordena aos sussurros.

Faço que sim com a cabeça e ela tira a mão da minha boca.

— O que ta acontecendo? — pergunto.

— Vem comigo — ela pede seguindo por um corredor extremamente estreito.

Eu tinha que admitir que aquilo era muito estranho, mas antes que eu pudesse pensar melhor, eu já estava seguindo ela.

Caminhamos por um bom tempo até chegarmos a uma parede. Sem saída.

— Por quê me trouxe aqui? — pergunto

— Xiu — então ela coloca as mãos sobre a parede e traça símbolos. Até que um pequeno buraco se abre, era grande o suficiente pra uma pessoa passar, mas se estivesse com pressa com certeza se machucaria no processo.

Kass começa cruza-lo.

— Espera, onde está me levando?

— Quer ser você mesma por mais um tempo ou virar uma escrava de verdade? — ela pergunta, e desaparece pela abertura.

Uma pergunta daquelas te faz pensar. Então opto por ser eu mesma e resolvo segui-la. O outro lado estava ainda mais escuro, difícil de enxergar qualquer coisa.

Eu podia controlar os quatro elementos, mas não podia cria-los a partir do nada. Não podia dominar o fogo se não houvesse uma chama acesa. Então eu fechei os olhos e estiquei as mãos para fora do buraco e me conectei com a tocha mais próxima. Senti a magia acordar dentro de mim, o fogo me aquecendo. Se tornando uma parte de mim. Desejei que ele viesse até mim. Uma pequena chama dele. Sendo atraída até minhas mãos.

Quando abri os olhos notei uma pequena chama vindo ao longe, pelo corredor escuro. Controlei ela para se manter acesa. Ela agora fazia parte de mim, então eu podia aumenta-la e diminui-la. Puxei ela para mais perto

— O que você está fazendo? — ouço Kass perguntar ao meu lado.

— Iluminando o caminho — respondo animada parando a chama na palma da minha mão

— NÃO!! Apaga isso agoraa — ela ordena.

Olho para ela e quase grito.

Ela nota minha reação e usa as próprias mãos para apagar o fogo.

Mas não tinha como apagar a imagem do que eu tinha visto. Havia uma enorme cobra negra enrolada no teto, sua cabeça pendia no ar nos encarando.

— Por favor, não da escândalo. — Kass pede — Eu juro pra você que elas não vão fazer nada, você só tem que me seguir.

— Elas?? — eu estava tão em choque que minha voz não sai mais do que um sussurro.

— Não se preocupa. Elas não vão nos machucar, apenas se sentirem ameaçadas. E elas odeiam a luz, é ruim para os olhos delas. Portanto, nunca mais faça isso. Agora vem — ela segura minha mão e começa me puxar.

Eu parecia estar andando no automático. Estava em choque demais para correr.

Enquanto andava as cegas pelo lugar, imaginei quantas cobras haviam ali? Quantas delas poderiam estar com fome?

Segurei a mão da Kass tão forte que achei que fosse quebrar.

E só soltei quando chegamos em um tipo de câmara, ou templo.

Havia uma enorme cobra feita de barro em cima de um altar. O lugar parecia ter sido abandonado há anos, mas de alguma forma a escultura havia sobrevivido.

— Que lugar é esse? — pergunto. Havia buracos estratégicos no teto que permitia a entrada de luz.

— É um templo dedicado a deusa serpente.

— E por quê estamos aqui?

— Porque esta quase na hora do jantar. Você precisa saber que depois do jantar vai ser formanda uma fila, e vamos receber injeções no pescoço. A injeção te torna um babaca, como a maioria das pessoas aqui. Você começa esquecer pequenas partes da sua vida, e logo você começa pensar que passou a vida toda aqui, que seu passado e seu futuro é servir ao rei.

— O quê?! — eu estava chocada demais para dizer algo melhor.

— Eu passei por isso, comecei a esquecer pequenas coisas da minha vida. Mas um dia eu fiquei doente e não pude tomar a injeção, então eu percebi como aquilo me afetava e comecei evitar.

— Como?

— Com isso — ela caminha até a estatua da serpente e de trás dela retira uma tigela com um liquido estranho dentro.

Levo um segundo para finalmente perceber o que era aquilo.

— Ah não — digo decidida

— Não vai prejudicar sua saúde, eu juro. O veneno de cobra funciona como um antidoto do que tem naquela seringa e eu fiz uma misturas magicas que aprendi... é uma poção para impedir que você seja controlada. — ela explica.

— Você é maluca. Eu não vou tomar isso.

— Ok, então esqueça que tivemos essa conversa e vai lá se tornar mais uma escrava — ela diz dando de ombros.

— Por quê devo acreditar em você? Por quê você ia querer me ajudar?

— Porque devo um favor a Elizon — ela responde simplesmente. Encaro ela, parecia estar sendo sincera.

— Como conhece minha irmã?

— Você só precisa saber que Elizon e eu nos encontramos duas vezes, na segunda, a missão dela era me matar... mas como você pode ver...

— Ela deixou você viver... — comento. Elizon só tinha falhado em uma missão, nunca soubemos ao certo o que era. Mas eu me lembrava do meu pai furioso, da surra e dos comentários de provocação da Hécla.

E naquele segundo passei a confiar naquela garota, porque por algum motivo a Elizon tinha deixado ela viver, tinha aceitado a humilhação e a surra. E eu sabia que a Elizon não fazia isso por qualquer um, aquela garota poderia ser mas importante do que eu imaginava.

— Tudo bem, me passe essa droga — peço

— Tenho que te avisar que não vai ser saboroso. Você vai querer vomitar na verdade.

— Você não está ajudando — rebato pegando a tigela.

No momento que senti o gosto do veneno, eu soube que o aviso dela tinha sido sincero.

Herdeira do Submundo 2 - Coroa InfernalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora