CAPÍTULO 10

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Everybody's got the dues in life to pay

Aerosmith

HORATION

Quinze dias atrás...

— VOCÊ NÃO VAI ENTRAR, PORRA! O que vai dizer a ela?! Que sente muito?! Já está feito!

Eu poderia ter ido atrás dela. Eu poderia ter dito que sentia muito por tudo o que ela tinha visto. Poderia ir até lá e tentar amenizar o choque, fazendo-a entender que tudo que ela tinha visto, aconteceu por um motivo. Mas eu sabia que nada do que eu dissesse, nada que eu fizesse, seria o suficiente para trazê-la de volta, para fazê-la querer olhar para mim sem sentir pavor outra vez.

Matteo estava certo. Não que fosse a minha preferência, mas me forcei a ignorar meu instinto de ir até o quarto de Mia. Ela teria que se recuperar sem mim, pensando no quanto eu era um covarde.

Eu não disse uma só palavra enquanto seguia com Matteo e nossos homens até Soledad. Íamos atrás da filha da Angeline, na esperança de encontrá-la com vida e resgatá-la do inferno que a própria mãe a fez viver por tanto tempo. Como um bônus, também faríamos uma bela visita ao Capo da Astuzia, Aaron Szlachta, já que ficou claro para nós todo o seu envolvimento com essa porcalhada. Já estava quase amanhecendo quando, enfim, chegamos em Soledad. Desci do jatinho colocando o óculos de sol no meu rosto e segui até um dos carros que já estavam nos esperando.

— Já tem a localização do galpão? — Matteo questiona enquanto pega o celular, vindo atrás de mim.

— Rugero programou todos os nossos GPS’s. Os contêineres ficam longe da cidade. Devemos gastar cerca de quase uma hora até chegarmos lá. — estreito um pouco os olhos enquanto olho ao redor.

— Charlotte. — Matteo vira o celular para mim.

Ergo as sobrancelhas e me viro na direção do celular.  Baixo os olhos e vejo a imagem de uma criança, aparentemente onze anos de idade e que lembrava muito a Angeline. Seus traços angelicais e delicados, seus olhos azuis, os cabelos escuros e a pele tão branca que nem ao menos parecia real. De fato, não podia negar que ela era filha daquela mulher asquerosa. Claramente, aquela era uma das fotos que Matteo deve ter conseguido dos arquivos dos pedófilos. Charlotte estava sobre uma cama, deitada e sem roupas, exceto pela calcinha branca. Havia a silhueta de um homem à sua esquerda e outro à beira da cama. Ela estava com as mãos espalmadas sobre o colchão e parecia fingir estar confortável com toda aquela situação. O corpo esguio, pequeno e frágil de uma criança que pedia socorro com os olhos. Fiquei olhando em seu rosto por alguns segundos, até voltar a olhar para Matteo.

Me impressiona bastante que ele já tenha conseguido tantas informações sobre essa garota. É claro que eu sabia que ele estava empenhado. Pretendíamos trazê-la para Montanari conosco e resgatar todas as outras crianças que estavam na mesma situação. Desde o início, levar Charlotte até Montanari não foi uma ideia só minha. Quando eu sugeri, Matteo concordou imediatamente, alegando que era provável que Charlotte e todas as outras, fossem precisar de mais do que apoio emocional e financeiro. Acho que ele acabou criando um certo interesse em ajudar a menina, o que mais uma vez me impressiona, já que o meu irmão nunca foi dado a demonstrações tão profundas de atenção ou caridade. Tudo me levava a crer que, no fundo, ele estava fazendo aquilo por Angeline. Apesar dos pesares, eles mantiveram uma relação por mais tortuosa que pudesse parecer. Eu não acreditava que ele pudesse ter saído ileso emocionalmente desse envolvimento, mas não cabia à mim questioná-lo.

— Imagino que ela não esteja no galpão. — olho para ele.

— Não. — ele guarda o celular. — Rugero e os outros vão cuidar das crianças que estão nos contêineres e darão um fim nos homens que as estão vigiando. Ordens minhas, eu quero que acabem com todos! Em algum momento vão vir atrás de nós e estaremos preparados. Eu e você vamos até ao Wiz. — Matteo entra no carro que já estava nos esperando e eu faço o mesmo.

Segredos no Escuro - Irmãos Santori I.Where stories live. Discover now