Segredos no Escuro - Irmãos Santori I.

CAPÍTULO 07

You'll never know the
murderer sitting next to you

Twenty One Pilots

MIA

Uma semana havia se passado desde que fiquei sabendo sobre o casamento. Durante esses dias, treinei meu inglês para não falar com tanto sotaque e ninguém desconfiar da minha origem ou de toda essa mentira. Não foi muito difícil. Eu já tinha uma base, precisei apenas adotar uma técnica que fosse eficaz para mim. Não que isso tenha sido um problema comparado ao que se seguiu. Horation insistiu que eu saísse e fosse fazer compras, mas me detive. Eu não estava muito confortável em enfrentar o mundo assim, como se nada estivesse acontecendo na minha cabeça. Talvez ele tivesse razão quando disse que eu não estava pronta para me virar sozinha. Acontece que ele não se conformou com a minha negativa, então simplesmente foi lá e ele mesmo comprou um armário inteirinho de roupas, sapatos, acessórios, perfumes e – eu ainda enrubescia sempre que me lembrava – lingeries. Coleções e mais coleções, de todas as cores e tamanhos. Por Deus! Só de pensar em usá-las, sabendo que cada peça passou pelas mãos e olhos dele… Preferia nem me imaginar nessa situação. O pânico me dominaria facilmente.

Mas ele parecia pensar em tudo. Até combinou comigo de fazermos um jantar de noivado, o que me deixou ansiosa e preocupada. Como sempre, eu quis declinar da proposta, mas ele insistiu com o argumento de que um casamento surpresa seria muito mais suspeito, do que um noivado repentino, seguido de um casamento simples e recatado. Não tive muita escolha a não ser dizer que sim. No final das contas, ele sempre acabava me convencendo. Os seus argumentos eram baseados em fatos e eu simplesmente não podia discutir com isso. Eu o admirava por ser tão centrado e obstinado. Apesar de assumir todo o controle na maioria das vezes, Horation sempre pedia a minha opinião e se voltava com unhas e dentes para Matteo, quando ele tentava me impedir de falar. Uma vez ele disse que minhas decisões eram “tão importantes e indispensáveis” quanto a de qualquer um envolvido na nossa grandiosa mentira. Naquela noite, eu me peguei pensando em como as coisas seriam entre nós, se de fato o nosso casamento não fosse um acordo.

Finalmente – ou infelizmente –, o dia do nosso noivado havia chegado. Marcamos com os convidados às vinte horas mas, desde que eu acordei pela manhã, a casa estava sendo organizada. Muitas pessoas para lá e para cá e eu estava começando a ficar zonza, com inúmeras perguntas que a todo instante chegavam até mim. Pessoas querendo saber desde as cores dos guardanapos até o que seria servido na sobremesa. E é claro que, sendo a noiva, a minha opinião conta muito. Tudo parecia mais fácil quando eu via minha mãe organizando os jantares na minha casa e eu apenas opinava uma vez ou outra. Mas agora acontecendo direto comigo, eu sinto que poderia subir pelas paredes a qualquer momento. Que ironia! Até algum tempo atrás, andei sonhando com esse momento. Agora, eu queria simplesmente fugir.

— Ah, tudo bem! Já chega! — ouço a voz de Arthur e o vejo afastar as pessoas que estavam na minha frente. — Vão procurar o noivo para amolar por cinco minutos! Ele está no escritório sem fazer nada, sabiam?

Arthur abana as mãos, literalmente espantando os organizadores. As pessoas se vão e eu dou graças a Deus mentalmente, antes que o meu – não tão mini – herói se virasse para mim com uma expressão séria.

— Mia, eu gostaria que você soubesse que me sinto profundamente magoado com essa traição! Achei que tivéssemos uma conexão e que você não se submeteria aos caprichos do meu irmão. Mas, vejo que você tem um péssimo mal gosto. Eu garanto que se tivesse escolhido a mim, não estaria nessa situação. — ele empina o nariz e eu não contenho o sorriso sincero que brota nos meus lábios.

— Ah, eu sinto muito! Talvez eu não tenha tido forças o suficiente para assumir os meus sentimentos por você. — levo a mão até o meu peito. — Mas acho que o seu irmão já deve saber que você é a minha segunda opção. Por favor, não fique magoado!