Capítulo 35 - Para sempre Luccino e Otávio

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Luccino e Otávio pediram para seus amigos irem até a casa de Brandão depois do entardecer. Mesmo com vários questionamentos sobre o que seria a ocasião, os dois mantinham segredo, até mesmo com os donos da casa. Somente pediram para Mariana e Brandão receberem os amigos deles. E, no momento marcado, Ernesto e Camilo, Mariko e Amélia e Lídia e Randolfo chegaram na casa do coronel.

-Eles estão muito estranhos esses dias. – comentou Randolfo, Lídia concordando com a cabeça.

-Será que eles vão embora pra capital e quiseram nos avisar? – perguntou Amélia.

-Jamais. – Brandão levantou a mão, em descrença. – Fizeram muito esforço para ficarem aqui, com certeza deve ser outra coisa.

-Cadê eles? – perguntou Lídia, como sempre ansiosa.

-Estão no quarto de Otávio. – respondeu Mariana. – Vamos nos acalmar, deve ser outra coisa.

Eles ouviram o barulho da porta do quarto de Otávio abrir e viram os dois chegarem na sala, ambos com suas fardas especiais para cerimônias. Tanto o major quanto o soldado estavam muito felizes, enquanto os outros não entendiam o que estava acontecendo.

-Então, rapazes, porque nos chamaram aqui? – perguntou Mariko.

-Pensamos muito sobre o que vocês duas nos disseram, - iniciou Luccino, sorrindo para o casal de mulheres. – sobre ter festas íntimas com os amigos mais próximos e mais acolhedores.

-E aqui estão os amigos que mais amamos, e que sabem e viram nosso amor. – o major apontou a mão para os presentes.

-Então queríamos reunir vocês para mostrar isso. – e os dois levantaram a mão direita, mostrando uma aliança.

Seus amigos ficaram surpresos e felizes, e Ernesto e Randolfo foram abraçar seu amigo Luccino, enquanto Brandão e Mariana abraçaram Otávio. Mariko, Amélia, Lídia e Camilo também foram parabenizar o casal, bastante felizes com o anúncio.

-Sabemos que não podemos andar publicamente com as alianças, - comentou Otávio. – mas foi um ato simbólico para o pedido de casamento.

-E mesmo sem valor legal, eu e Otávio pensamos em nos casar aqui e agora, - Luccino pegou na mão do major e apertou-a. – em frente de vocês, pois as únicas pessoas que importam que saibam do que sentimos um pelo outro são as que estão nessa sala.

-Poxa, Luccino, precisava falar essas palavras tão lindas? – a reclamação de Ernesto veio junto com lágrimas, e todos riram ao ver ele se abraçar com Camilo.

Mariana e Lídia foram pegar cadeiras para colocar na sala, enquanto Brandão, Ernesto e Randolfo tiraram o sofá e as poltronas da sala, dando espaço para as cadeiras. Mariko, Amélia e Camilo fechavam as cortinas das janelas frontais da casa, e trancaram a porta da frente. Ernesto e Randolfo pegaram com Otávio e Luccino as espadas para fazer o teto de aço, e o casal passou por ela. Os outros casais se sentaram ao ver eles pararem em frente das cadeiras e virarem um para o outro.

-Sei que não é um casamento de verdade, mas quero fazer esse rito igual ao que é feito na igreja. – disse Luccino.

-Quem disse que não é de verdade? – Mariko contestou. – É tão verdadeiro quanto o meu e de Amélia. – e sua amada concordou com a cabeça.

-Continuem. – incentivou Amélia.

-Eu, Luccino, aceito você, Otávio, como meu legítimo esposo, para lhe ser fiel, amar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, e em todos os dias que me for concedido. – Luccino tirou a aliança do dedo anelar direito de Otávio para colocar no anelar esquerdo, e por fim beijou a aliança.

-E eu, Otávio, aceito você, Luccino, como meu legítimo esposo, para lhe ser fiel, amar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, e em todos os dias que eu estiver na Terra, e além. – Otávio tirou a aliança na mão de noivo para colocar na mão de casado. – Pra vida toda.

-Pra vida toda. – e Luccino aproximou-se de Otavio e o beijou, e o casal ouviu urros e aplausos de alegria dos amigos. Nem eles estavam se contendo de tanta felicidade.

54 anos depois...

Otávio se levantou tarde naquela manhã. A velhice tinha lhe deixado preguiçoso, mas ele já estava aposentado da vida militar, então sua vida se resumia a ficar em casa, conversar com seus poucos amigos e ir vez ou outra para a cidade, para comprar jornal ou algum mantimento. Ele olhou para o calendário que estava em cima da seu criado-mudo. Primeiro de abril de 1964. Ele se espreguiçou e se levantou da cama.

Na cozinha estava Luccino. Ele ainda era mais disposto que o marido, e estava fazendo o café da manhã. Adorava fazer pães caseiros e se aventurava em fazer comidas exóticas, apesar dele saber que o melhor cozinheiro sempre foi Otávio. O major aposentado cruzou os braços e ficou olhando para Luccino, vendo o italiano rodar pela cozinha e assobiar, como se fosse um chef, despreocupado e sabendo bem o que fazia. Em certo momento Luccino se virou e levou um susto ao ver seu marido parado e calado, sem se mover.

-Nossa, quer me matar de susto? – perguntou Luccino, apertando a mão contra o peito.

-Bom dia para você também, meu amor. – cumprimentou Otávio, chegando perto do italiano e lhe dando um beijo na bochecha.

Os dois agora moravam na antiga casa do Coronel Brandão, já que, poucos anos após a vinda de Otávio para o Vale do Café, Brandão foi chamado para a capital mais uma vez e teve que se mudar de definitivo para lá. Luccino sentiu muito a falta deles nos primeiros anos, mas com o avanço da telefonia e dos automóveis, ele via e conversava com o casal de amigos com frequência.

Mariko e Amélia, depois de um tempo, decidiram morar numa cidade próxima do Vale, depois de inúmeros pedidos dos amigos. Ela se tornou dona do primeiro hospital da cidadezinha e Amélia conseguiu abrir uma padaria para ela. Camilo e Ernesto decidiram se casar com Elisabeta e Ema, respectivamente, para ambos os casais poderem usufruir do casamento de aparências. Eles eram vizinhos, então seria muito cômodo para eles trocar de camas durante a noite. Já Lídia e Randolfo (ele conseguiu a patente de Capitão) tiveram mais filhos do que eles próprios lembravam, crianças fortes e lindas como os dois, e algumas puxaram a maluquice da mãe.

-Ouvi no rádio que a junta militar está interinamente no governo. – comentou Luccino, se sentando na sua cadeira de balanço.

-A poucos anos atrás lutamos por uma guerra que não era nossa, e agora isso. – Otávio reclamou, lembrando que ele e Luccino quase foram lutar na Segunda Guerra Mundial, e só não foram porque se aposentaram pouco tempo antes da convocação dos militares brasileiros.

-O que você acha que irá acontecer? – perguntou Luccino, quando Otávio se sentou ao lado dele.

-Não sei, podem ser anos difíceis. – Otávio respondeu, sem muita animação. – Vamos enfrentar essa batalha juntos? – e um sorriso de abriu na boca dele.

-Sempre, amore mio.

È finita.

***

Obrigada a todos que viveram essa história comigo. Fazia algum tempo que não escrevia e reviver essa emoção foi muito bom para mim.

Fiz amigos durante essa viagem, e espero que estejam comigo nas aventuras que ainda estão por vir. E enquanto isso, muito encanto na vida de vocês! 

EncantoWhere stories live. Discover now