Capítulo 26 - Nós podemos dominar o mundo

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Queridos leitores, vão me dar uma moralzinha em Capaz de Todo, meu projeto novo, e espero que gostem do novo Luccino e do novo Otávio. 

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Apesar da surpresa da chegada de Brandão e Mariana, Major Otávio recebeu os dois com abraços e quis saber como foi a viagem, e sorriu ao ver o filho mais velho do casal se apressar a falar sobre o Egito e como as pirâmides eram grandes e assustadoras. Otávio nunca foi bom com crianças, principalmente quando lembrava das que estavam com ele no orfanato onde cresceu (anos depois soube que muitos viraram ladrões e prostitutas, devido a falta de oportunidade que a vida tinha lhes dado), mas ele tinha grande afeto pelos filhos dos seus amigos, e deixava as crianças pegarem em seu bigode.

O casal parecia feliz e bastante recarregado após uma viagem que eles tanto mereciam, e Brandão logo quis saber como estava o batalhão, o que eles tinham feito em sua ausência e se o jeito rígido de o amigo não tinha botado tudo a perder em seu quartel, mas Otávio, com um sorriso no rosto, disse que estava tudo bem. Mariana deu um olhar confidente para o marido, e achou deveras suspeito a maneira leve que o major falava sobre sua estadia no Vale do Café.

-Otávio, querido, sabe que lhe adoro, - começou Mariana. – mas não está doente? Nunca lhe vi tão sorridente.

-Eu tenho tentado levar minha vida de uma maneira menos mecânica, por assim dizer. – disse Otávio, sem conseguir se conter. E soltou mais um sorriso quando pensou no vetor de sua mudança.

Antes de Brandão comentar algo, ele viu alguns soldados saírem do interior do quartel, entre eles Luccino, Randolfo e Ernesto. Quando eles viram Brandão e Mariana, abriram sorrisos e correram para onde eles estavam, Luccino abraçando sua amiga Mariana e Randolfo e Ernesto cumprimentando Brandão, Otávio vendo a alegria deles com o reencontro. Ao sair do abraço, Luccino sentiu o filho dos seus amigos lhe abraçando as pernas, gritando "Tito Lucci!" em plenos pulmões, e começou a fazer cócegas nele, e Otávio sentiu seu coração explodir de emoção.

Um dia, Luccino seria um bom pai.

-Vocês chegaram quando de viagem? – perguntou Ernesto.

-Chegamos de madrugada, mas meu marido é muito esbaforido e não quis descansar antes de ver se o quartel não estava de cabeça para baixo. – sorriu Mariana.

-Assim você me ofende, Brandão! – Otávio colocou a mão no peito, tentando se mostrar ofendido, mas não estava de maneira alguma.

-Mariana está brincando, meu amigo, - Brandão colocou a mão no ombro do major. – pois sei que cuidou muito bem daqui, afinal, você estava me devendo essa. Eu é que sou um rato de quartel, sentia falta do meu trabalho.

-E quando nos contará porque devia ao coronel, Major Otávio? – Luccino sorriu ao lembrar disso.

Brandão e Mariana se olharam, com uma expressão de triunfo, e Mariana cruzou os braços antes de comentar:

-Nossa, Luccino, não sabia que você e o Otávio ficaram assim tão...íntimos.

-E se bem me lembro, até falei com Mariana, na noite anterior à chegada de Otávio, que me preocupava, – acrescentou o coronel. – pois imaginava que vocês não se dariam bem, devido aos seus gênios.

Foi a hora de Luccino olhar para Otávio, com um olhar temeroso, mas o major, contrariando as expectativas de Luccino, riu para Brandão. Isso confundiu o soldado, mas que logo sentiu a mão carinhosa e sedosa de Mariana.

-Se não se importam, quero conversar com Otávio na minha casa. – pediu Mariana.

-Permissão concedida. – disse Brandão. – E nós iremos conversar no gabinete, Luccino.

Luccino e Otávio caminharam para direções contrárias, cada um com seu acompanhante, e olharam para trás, como se não quisessem ser separados ainda. Mariana carregava Otávio e suas crianças, e Brandão se encarregava de outras crianças.

Brandão fez um caminho que já estava habituado, e deu um largo sorriso ao ver, depois de meses, sua sala, e ver que Otávio mexeu muito pouco em seus objetos, que ele tinha tanto apreço e ciúmes. Ele deu passagem para Luccino entrar na sala, e viu que Randolfo e Ernesto entraram junto, apossando-se do ambiente, e o coronel achou no mínimo estranho a maneira dos soldados/amigos.

-Rapazes, não quero ser indelicado, mas eu chamei apenas Luccino para a conversa. – disse Brandão, com um sorriso educado.

-Não sabe a nova ordem, Coronel? – brincou Ernesto. – Não há segredo algum entre nós.

-Randolfo e Ernesto são as novas mexeriqueiras do Vale, tirando o posto de Dona Ofélia e Dona Agatha. – riu Luccino.

-Então quer dizer que a vinda do Major Otávio não foi de tão ruim para esse vale. – comentou Brandão, ultrapassando a mesa e se sentando na sua cadeira. Ele estava realmente feliz por estar de volta.

-Não podemos mentir para o senhor, Coronel Brandão. – Randolfo falou. – Major Otávio no começo era bem... – ele olhou para os amigos, não querendo falar mal do novo amigo. – incisivo nas suas decisões.

-Pensei em atravessar o oceano para lhe buscar, coronel, não vou negar. – a maneira que Ernesto falou fez todos rirem.

-Mas todos sobreviveram. Até nosso explosivo Ernesto. – sorriu Luccino, sua felicidade saindo pelos seus poros.

-E você, Luccino? – Brandão desnecessariamente apontou para o soldado. – O que achou do Major Otávio? Quer mesmo saber porque ele me deve algo? Não sei se devo aguçar ainda mais a curiosidade, mas é uma história muito interessante.

Não era preciso de resposta, pois os olhos curiosos de Luccino brilhavam, e tanto Ernesto quanto Randolfo também estavam ansiosos para ouvir a história, e se Coronel Brandão vangloriava-se pelo conto, é porque havia algo de realmente interessante no que ele tinha para contar.

Já na casa de Brandão, Mariana colocou seu filho para brincar no quintal e seu bebê para dormir em seu berço, no quarto do casal, para poder conversar em paz com Otávio, que estava bem sentado no sofá. Ele parecia bem familiarizado com a casa, apesar de ter ido pouquíssimas vezes ao Vale e quase nunca ter entrado na casa que Brandão e Mariana moravam, e o major tomava tranquilamente um chá que a mulher tinha lhe dado a pouco.

Tanto quanto a amizade de Brandão e Otávio, a relação de Mariana e Otávio era extremamente harmoniosa, inclusive o major encorajou muito Brandão quando ele conheceu Mariana, pois o coronel tinha medo de investir nesse relacionamento, por ela ser mais nova que ele. Mas Otávio, astuto, injetou coragem e ânimo no amigo, além de ter tido o bom instinto de perceber que Mariana era uma boa moça. Talvez ele fosse realmente o motivo de um casamento bem sucedido e de duas crianças lindas.

Pelo visto Ema Cavalcante não era a única pessoa no Vale do Café que era boa em formar casais.

-Você já deve saber sobre o que iremos falar aqui, major. – disse Mariana, ao sentar numa poltrona, em frente a Otávio. – Não preciso fazer rodeios com você.

-Sim, os anos de amizade nos tiraram esse polimento bobo. – sorriu Otávio. – Você quer falar sobre Luccino.

-E sobre o envolvimento de vocês, é claro.

-Sabia que Brandão lhe falaria sobre...sobre mim. – disse Otávio, bebericando o chá. – Ele nunca teve segredos com você.

-Não mesmo, e foi por isso que você veio para cá. Porque eu intercedi por você. – Mariana tocou na mão de Otávio e a apertou. – Porque você precisa de Luccino tanto quanto Luccino precisa de você. 

EncantoWhere stories live. Discover now