Capítulo 9 - Nossos corpos são os culpados

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Agora viveremos apenas de fanfics, mas sempre se lembrem que Lutávio estará sempre vivo nos nossos corações 

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Otávio já tinha terminado todos os livros que ele tinha, e mesmo assim ele precisava de mais. Ele adquirira essa adicção pela leitura ainda muito cedo, no orfanato. Só os livros lhe faziam esquecer da horrível vida que tinha, era o único mundo para onde podia escapar de si mesmo e dos seus sofrimentos e de tudo que lhe rodeava. Só a ficção lhe ajudava a encarar sua realidade. Era como em cada página ele pudesse fugir dos seus fantasmas, e não precisasse encarar as pessoas que tanto odiava. Hoje era diferente: os livros eram seus amigos, os únicos nos quais ele podia confiar, e que ele poderia ser ele mesmo.

O major vasculhava a biblioteca de Brandão, sabendo que não teria nenhum livro interessante, mas esperando algo que lhe tirasse do tédio, e ouviu alguém bater na porta do gabinete e logo adentrar ao aposento.

-Já disse que não estou disponível para visitas de civis, soldado. – disse Otávio, sem olhar para o destinatário.

-Uma pena, pois a civil já está aqui. – Otávio olhou para voz feminina e viu Lídia, muito pomposa e com um sorriso travesso no rosto.

-Senhorita Lídia. – cumprimentou Otávio, virando-se para ela e coçando seu queixo. – Devo lembrar-lhe que a dias atrás eu mesmo disse para sua mãe que não poderia vir aqui, por ordens minhas. Se vier aqui não poderemos manter essa história, e seremos vistos como mentirosos. Isso não deve ser bom para uma moça que está a beira do altar.

-Não se preocupe com minha reputação, major, pois sei cuidar dela bem. – Lídia se sentiu na cadeira mesmo sem ser convidada, e Otávio segurava o riso. Essa moça era com certeza uma peça rara. – Vim conversar com o senhor.

E sem avisar, ela se levantou da cadeira subitamente, de maneira teatral, entrelaçando seus dedos e andando em passos largos pela sala, como se estivesse a ponto de soltar um grande segredo. Otávio se encostou na sua mesa e colocou a mão no queixo, esperando pela novela que Lídia lhe recitaria.

-Eu quero lhe contar uma história, algo que nem meu querido Randolfo sabe. – Lídia virou-se mais uma vez para Otávio e balançou a cabeça, como se fosse necessário. – Mas acredito que o senhor gostará da história.

-Certo. Então diga-me. – disse Otávio.

-Eu tinha uma grande amiga nos meus tempos de escola. – disse Lídia, no outro extremo da sala. – Ela se chamava Mariko. Ela era oriental e era muito inteligente, estávamos sempre juntas. – Lídia sorriu ao relembrar da moça. – Muito gentil e prestativa. E então, a alguns anos atrás, ela teve que ir embora. Seus pais mudariam de cidade e ela teria que ir junto. Eu fiquei devastada.

Otávio teria ficado com pena de Lídia se nesse momento ela não tivesse levantado o braço e colocado afrente de sua testa, tentando demonstrar tristeza e desamparo.

-Quando ela foi embora, ela me deixou uma carta, que eu li apenas uma vez antes de joga-la na lareira. Ninguém nunca poderia ler aquilo, mas eu lembro cada palavra até hoje. – Lídia se aproximou da mesa e colocou suas mãos ali, encarando Otávio.

-E o que dizia na carta? – Otávio tentava demonstrar interesse, mas era impossível diante da trama tão rasa que era a separação de duas amigas.

-Ela me disse que sempre me amou...como mulher. – disse Lídia, entoando a última parte lentamente, para que o major entendesse o que ela tentara dizer.

Ali estava! E então Otávio virou os olhos para Lídia, dando atenção para sua história.

-Mariko era apaixonada por você? – Otávio sussurrou a pergunta, pois sabia que um questionamento desse tipo não podia ser feito em voz alta.

EncantoWhere stories live. Discover now