Capítulo 10 - O Major

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Luccino se virou lentamente para Otávio, esperando dar tempo o suficiente para o major enrolar a toalha em sua cintura, pois ele não saberia como lidaria com a nudez frontal do seu superior.

-Então quer dizer que estava me espionando. – comentou Otávio, cruzando os braços e estreitando os olhos, num modo de tentar tirar a confissão do rapaz.

-Claro que não, major, eu... – Luccino tentou se explicar, mas foi cortado.

-Venha.

Luccino não tinha ideia do que iria lhe acontecer, mas ele apenas o seguiu. Ao sair do banheiro, eles foram para outro corredor, diferente do que Luccino fora, e eles estava indo em direção da parte externa do quartel, então Luccino soube para onde eles iam. As mãos de Luccino tremiam, pois ele se segurava para não sair correndo. Ele precisava ficar sozinho, pois estar na presença de Otávio certamente não era o melhor agora, não enquanto aquelas imagens ainda estavam em fortes cores na sua cabeça.

Ao fazer a curva em um outro corredor, o soldado viu a porta do gabinete de Otávio, e ele sabia que ali seria seu fim. Eles dois estariam entre quartos paredes, num lugar onde Major Otávio lhe dominava. A sensação em seu baixo ventre reapareceu ao lembrar de como Otávio era dominador com ele. A porta foi aberta e Otávio esticou o braço, seu dedo indicador sinalizando que estava mandando Luccino entrar ali, e, em silêncio, o rapaz lhe obedeceu.

A sala lhe parecia menor do que o normal, mais quieta e assombrosa do que qualquer vez que entrara ali. Ele se sentia sufocado com a situação, e estava prestes a gritar, e não parava de pedir que aquilo fosse mais um dos seus loucos sonhos que ele tinha com seu major.

-Sente-se e me espere aqui. – disse Otávio, duro.

Luccino se sentou e viu Otávio se afastar, ainda de toalha. Seu pânico era tão grande que quase (quase) não notara durante a caminhada do banheiro até aquele momento o rebolado do major, uma pequena fuga da assustadora realidade que ele agora se encontrava. O que aconteceria com ele?

E então Luccino notou que o major estava atrás de um trocador, que na verdade era apenas uma cortina de pano. A iluminação era fraca ali, mas dava para notar quando Otávio tirou a toalha e começou a colocar sua roupa. O soldado se sentiu seguro para olhar, já que Otávio provavelmente não saberia que estava sendo observado. Mas segundos depois Luccino desviou o olhar; era capaz de Otávio saber sim que seus olhos estavam fixos em sua sombra.

Ao sair de trás da cortina, Luccino viu que Otávio estava com sua farda, muito bem posta e aprumada. Ele ficou confuso.

-Major, é de madrugada. Porque está trajado como se já fosse de manhã? – perguntou o italiano.

-Porque irei lhe penalizar, e tenho que estar vestido apropriadamente. – respondeu o major, suas mãos atrás do corpo.

-Me penalizar? Pelo que?

-Conduta imprópria, Pricelli. – Major Otávio fez um barulho reprovador e balançava a cabeça. – Você nunca irá aprender, soldado? Eu mando, você obedece. Agora para o chão.

Luccino se levantou da cadeira e ficou em posição de flexão. Ele estava mesmo fora de órbita. Otávio iria lhe fazer pagar flexões em plenas 2:30 da manhã.

-Quantas, Senhor Major? – Luccino perguntou, sentindo a fúria subir em seus membros e chegar em sua cabeça. E então ele viu Otávio se agachar, e seu sorriso era o mais maldoso que ele já vira naquele rosto.

-Quantas vezes eu quiser, soldado. Comece...agora!

Luccino começou a fazer flexões, em silêncio, e viu Otávio se levantar e sentar-se na cadeira a sua frente, virando-a para apreciar a punição de Luccino. O major cruzou suas pernas e descansava seu queixo em uma das mãos, com uma expressão de deleite.

O rapaz sentia apenas raiva. Por se deixar acreditar que aquele homem um dia poderia ser bom, por ve-lo fazer uma única boa ação e agradecer-lhe como se fosse o herói da pátria, por sentir-se mal ao ver ele galantear uma mulher em sua frente, por deixar seu corpo ser intoxicado por um desejo insano, mas principalmente por não conseguir tirar da cabeça a vontade que estava nesse momento de jogar Major Otávio em cima daquela mesa, rasgar suas vestes, camada por camada, e beijar todo o corpo dele até que ele sinta o que ele está sentindo naquele momento.

Agora, vendo Otávio se alegrar ao mandar um soldado exausto fazer flexões mais do que o necessário e não demonstrar um pingo de piedade, Luccino entendeu que estava enfeitiçado, pois não havia outro modo de explicar a atração irrefreável pelo seu profundo oposto.

-Mantenha! – ordenou Otávio, e Luccino parou onde estava, com os braços esticados. O major se levantou e começou a andar de um lado para o outro, e viu Luccino fechar os olhos, diante do desgaste fisico. Esperou 60 segundos passar para ele se abaixar mais uma vez, em frente ao soldado, e dizer: - Abra os olhos.

Luccino abriu os olhos e viu aquele demoníaco sorriso de lado do seu major. Era como chocolate com pimenta: doce e picante, delicioso e ardente, um sim e um não. Seu cansaço (de estar naquela posição e de não suportar mais se enganar) o fez perguntar:

-O que você quer de mim, afinal?

-O que tens para me oferecer, soldado? – perguntou de volta Otávio.

Luccino se levantou, Otávio fazendo o mesmo, e o italiano e empurrou até a mesa, encurralando-o. Luccino segurou na nuca de Otávio e não se conteve, beijou o pescoço do major, arrepiando os pelos de Otávio. O soldado ainda sentia os resquícios do aroma do sabonete, e acariciava com a mão os cabelos da nuca do major, passando a ponta dos dedos no couro cabeludo de Otávio. Os olhos do major estavam fechados, e ele suspirava ao sentir a maciez dos lábios de Luccino contra sua pele.

-Sente-se na mesa, agora. – mandou Otávio, que mudou de lugar com Luccino.

Ao se sentar na mesa, o soldado desceu as mãos para o peitoral de Otávio, constatando que era duro como imaginava, e começou a desabotoar a farda de Otávio. Ele também mordia vagarosamente o queixo saliente do major, que agora tinha as mãos nos cabelos do italiano. Era possível ver que ele estava gostando, pois a calça do major era apertada o suficiente para mostrar que algo estava endurecendo ali. E Luccino trazia sempre seu corpo para mais perto.

Luccino começou a tocar seu nariz na bochecha de Otávio, e dava para perceber pela respiração descompassada do italiano o quanto que ele estava empolgado. E então ele segurou o queixo de Otávio e virou o rosto do homem para si, deixando seus lábios a milímetros de distância. Eles se olharam por alguns segundos, e Otávio viu um estranho brilho naquele olhar.

E então Otávio fechou a mão nos cabelos de Luccino e os puxou, curvando a cabeça do soldado para trás. Luccino soltou um gemido, devido a força que Otávio fazia. E então ele ouviu o major falar com uma voz baixa e risonha perto do seu ouvido:

-Eu já não lhe disse, soldado? Eu mando aqui, rapaz. Eu. – Otávio passou seus lábios no lóbulo da orelha de Luccino e o puxou com os dentes, fazendo ele novamente soltar um gemido. – Você só terá o que quer quando eu disser. – ele soltou os cabelos de Luccino, que automaticamente soltou um gemido e passou sua mão no local. – Agora vá dormir.

-Tentar, você quis dizer. – a voz de Luccino era manhosa, como de uma criança que acabara de perder um balão que voava nos céus.

-Não se preocupe. – Otávio colocou suas mãos nas bochechas de Luccino, e quis sorrir com o olhar sofrido que ele lhe dava. – Não há nada que um banho frio não resolva.

EncantoWhere stories live. Discover now