Capítulo 30

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Durante aquela noite quente de julho, especificamente, eu não consegui pregar os olhos. O barulho era ensurdecedor... não apenas pela música alta que vinha do andar de baixo, mas também pela culpa que martelava na minha mente incessantemente a cada vez que eu olhava para o meu lado na cama e via dormindo uma pessoa de quem eu nem sequer me lembrava o nome.

Talvez dessa vez fosse Nathan. Eu não conseguia olhar para Nathan, embora ele não tivesse feito absolutamente nada de errado pra mim. Nathan tinha deixado seu maço de cigarros junto com a sua roupa embolada no chão em volta da cama e me lembrei de quando eu tentava convencer alguns amigos a pararem de fumar. Eles argumentavam que o cigarro os ajudava com a ansiedade. Acho que Nathan não se importaria se eu pegasse uns dois cigarros emprestados, afinal eu precisava dar conta da minha ansiedade de alguma forma. Mas se ele se importasse, bem... de qualquer forma na semana seguinte alguma outra pessoa estaria ali na minha cama. Exatamente como vinha acontecendo nos últimos meses, desde o inverno.

Antes que eu terminasse de vestir as minhas roupas, ouço a música do andar de baixo cessar. O apartamento de Tom andou silencioso por meses a fio e eu não o via fazia algum tempo. Talvez ele tivesse viajado a trabalho ou algo assim... "Deve ter sido uma festa daquelas pra comemorar a volta pra casa..." – penso, enquanto terminava de calçar meus tênis.

Nas pontas dos pés para não acordar Nathan, – ou qualquer que fosse seu nome – fecho delicadamente a porta do meu apartamento e desço as escadas para tomar um ar fresco do lado de fora e fumar os – agora meus – cigarros em paz sentada na escada do prédio. Durante os primeiros tragos eu tinha a sensação de que a fumaça queimava cada um dos meus alvéolos e que eu poderia sufocar a qualquer momento. Qualquer coisa pra tentar acalmar a minha cabeça, afinal de contas. Antes do fim do meu primeiro cigarro, ouço vozes abafadas e animadas se aproximando e abrindo a porta atrás de mim. Aos poucos, iam descendo as escadas ao meu lado figuras já familiares. Harrison, Carl, Melissa, ah... e Tom. Todos já aparentemente bêbados, exceto por Melissa, mas todos gargalhavam.

— Cecília?! – Haz esticou seu pescoço e acenou em minha direção, depois de se dar conta da minha presença sentada no topo das escadas – Nossa, quanto tempo!

— E aí, Harrison! – Sorrio, não muito animada, apagando meu cigarro no chão ao meu lado.

Com a minha breve interação com Haz, o restante do grupo finalmente nota a minha presença e um clima constrangedor se instaura no ar por parte dos amigos de Tom. Afinal de contas, todos ali sabiam que Tom e eu já não nos falávamos e provavelmente também sabiam o motivo. Tom me olhou brevemente, mas devia estar bêbado demais para se sentir desconfortável ou entender que todos ali estavam constrangidos de certa forma. Acendo o meu segundo cigarro, evitando fazer contato visual com o grupo.

— Vamos lá, seus dois cachaceiros! Tenho que levar vocês pra casa ainda... – Melissa destravou as portas de seu carro, empurrando Harrison e Carl para dentro, sorrindo – Ai, o que seria de vocês se não fosse eu, hein?!

"Provavelmente muito mais maduros e responsáveis se você parasse de bancar a mãe deles." – penso, revirando os olhos e dando um trago em meu cigarro.

— Até semana que vem então, hein?! Não quero ninguém furando comigo dessa vez! – Disse Tom, apontando para os seus amigos, enquanto Melissa entrava no carro e ligava a ignição.

— Semana que vem a gente vai colocar aquele lugar abaixo, Tom! – Carl subitamente coloca a cara para fora da janela do banco traseiro, fazendo uma careta antes que a mão de Haz o puxasse de volta para dentro e Melissa arrancasse com o carro.

Tom permaneceu acenando para seus amigos no mesmo lugar até que o carro de Melissa sumisse de seu campo de visão. Ao dar meia volta, o vejo ainda sorrindo por conta dos amigos antes que nossos olhares se cruzassem novamente pela primeira vez em muito tempo. Instintivamente desvio meu olhar e o fixo na rua, mas ainda consigo ver Tom subindo as escadas ao meu lado pela visão periférica.

Waiting at your doorstep | Tom HollandWhere stories live. Discover now