Capítulo 9

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Claridade. Sede. Enjôo. Eu não queria abrir os olhos, dava trabalho demais. Tudo o que eu queria era que alguém apagasse a luz. Ainda com os olhos fechados, tateio à minha volta. Aparentemente estou na minha cama. Nada no meu lado, nada no criado-mudo. – suspiro.

Finalmente esfrego os olhos e crio coragem para abrí-los. Minhas mãos agora estão borradas de preto e a claridade na verdade entrava pela janela e queimava as minhas retinas. "Cadê a porra do meu celular?" – levanto a cabeça para tentar olhar em volta, mas deixo-a cair numa fração de segundos depois. Ela parece pesar 50kg. Algumas respirações a mais e junto minhas forças pra sentar na cama. Eu ainda estou com as roupas do dia anterior.

"Como é que eu vim parar aqui?" – tento me lembrar, abraçando os joelhos, ainda meio zonza. -"Eu nunca mais bebo na minha vida" – suspiro.

Depois de alguns minutos criando coragem, me levanto da cama e ando a passos de lesma arrastando meus pés pela casa e tentando não mexer a cabeça de forma brusca ao procurar meu celular. Ao chegar na sala olho o relógio: são uma e meia da tarde. Mais um motivo pra eu me sentir um lixo.

"Putz! A cesta com os celulares! Eu devo ter esquecido lá! Que merda...." – penso, fazendo uma careta frustrada. – "Eu não lembro de NADA depois do segundo brinde com Tom e os amigos dele... que aflição...."

Antes que eu entrasse em uma crise existencial e questionasse todas as minhas decisões de vida por conta da ressaca, decido fazer um chá preto mais forte que o habitual e resgato uma fatia de pizza que morava na minha geladeira desde quinta-feira. Nada melhor do que isso pra curar uma ressaca. Depois da deprimente e solitária cena que deve ter sido eu desfrutando meu café da manhã de bêbado, faço descer um comprimido de remédio para o estômago com uma garrafa inteira de água, como se não visse água em 20 anos. Tomo um banho na expectativa de fazer brotar uma faísca de energia no meu corpo, e até que ajuda a revigorar. Mas sem música, por favor!

Me troco rapidamente para uma blusa listrada com um capuz, um shorts e um tênis branco. Ao juntar a minha roupa do dia anterior e separá-la para lavar, um aroma amadeirado e fresco invade meu nariz vindo da minha blusa, que nada tem a ver com o meu perfume. Esse cheiro logo me remete ao abraço que Tom me deu logo antes de eu apagar e me faz sorrir por um breve momento, para logo me frustrar por não conseguir me lembrar de mais nada após isso. Logo me apresso em sair de casa ao resgate do meu celular. Ao tocar a campainha, ouço os latidos de Tessa e o seu focinho a farejar a porta. Tom abre a porta com um sorriso resplandescente.

— Boa tarde, Cecília!

Antes que eu pudesse responder, Tessa pula em mim, abanando o rabo e me obrigando a abaixar para dar atenção a ela.

— Oi, coisa linda! Nossa, você está a coisa mais linda do mundo hoje! – digo, enquanto esfrego a barriga de Tessa.

— Ah, são seus olhos! Eu nem me arrumei hoje... – disse Tom, se fazendo ironicamente de lisonjeado.

— Hahaha, bobinho! – sorrio, levantando do chão e batendo os pelos de Tessa da minha roupa. – Escuta, Tom... Meu celular ficou por aí?

— Sim, seu celular foi o único que ficou aqui ontem... tava esperando você vir buscar. Entra! – Tom apontou o caminho, ainda que eu já soubesse.

A impressão que eu tive foi que havia passado um furacão pela sala de Tom. Restos de salgadinhos não comidos nos potes, garrafas de cerveja vazias espalhadas pelas mesas, copos nos lugares mais aleatórios possíveis...

— Aqui! – Tom estendeu sua mão para me entregar meu celular – Ainda tá com 50% de bateria. Ah, desculpa a bagunça... ainda não tive tempo de arrumar a casa – disse, se jogando deitado sofá.

Waiting at your doorstep | Tom HollandWhere stories live. Discover now