Capítulo 4

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Com boa parte das compras na mochila e a outra parte distribuída em duas sacolas em cada braço, na metade do caminho para casa meu físico nada preparado já faz minha mente pensar no quanto eu preciso comprar uma bicicleta pra me ajudar com as compras. Bem, ajudaria um bocado se eu soubesse andar de bicicleta também. Sim, eu tive infância. Mas era uma criança com coordenação motora tendendo à zero que virou uma adulta com coordenação motora tendendo a zero também. Não sei se não aprender a andar de bicicleta foi prudência por ter preservado minha integridade física ou falta de visão de longo prazo da minha parte.

— E pensar que ainda tenho dois lances de escada pra subir com esse monte de sacola... – penso alto, enquanto estico o braço para abrir a porta do prédio.

Ao entrar no prédio e olhar para o final do corredor do andar térreo, me deparo com Tom saindo e trancando seu apartamento. Ao perceber que a porta principal do prédio estava sendo aberta por alguém, ele se apressa em vir de encontro a mim.

— Bom, acho que retribuí sua gentileza de hoje cedo. – sorri, com o rosto vermelho e um pouco suado por conta da caminhada com os pesos, enquanto era eu quem segurava a porta aberta para ele dessa vez.

— Ah, aquilo não foi nada! E se me permite fazer outra gentileza, eu te ajudo com essas sacolas. Parecem pesadas. – disse Tom, praticamente tomando metade das sacolas para si.

— Ah, não! Não precisa não! Eu posso carregar minhas sacolas, não vá se atrasar pros seus compromissos, por favor! – recolhi os braços de forma a não deixar que Tom pegasse as sacolas.

— Não, não! Eu faço questão! Até porque eu sou o...

— Homem-aranha?! – interrompi, gargalhando.

— Ei! Essa é a minha fala! – Tom abriu um sorriso largo.

— Então você realmente faz questão de lembrar todo mundo o tempo inteiro sobre isso!

— Bom, talvez... Qual a graça de ser o homem-aranha se você não pode contar pra ninguém?

— Questionamento válido! Isso dá um bom roteiro pra filme, sabia? – arregalei os olhos, como se tivesse uma grande epifania, de forma irônica.

— Então você sabe.... - disse Tom, com uma entonação quase frustrada, mas com o sorriso ainda largo.

— É claro que eu sei quem é você... – disse, cedendo metade das minhas sacolas e aceitando a ajuda de Tom – eu só deixei você se apresentar hoje mais cedo porque eu imagino que deva ser meio constrangedor.

— Constrangedor? Por que acha isso? – disse Tom, com o semblante surpreso.

— É que eu imagino que deva ser estranho pra você toda vez que se apresentar a uma pessoa nova ela meio que já te conhecer. Você deve acabar nem tendo muito o que dizer, aí eu resolvi deixar você falar.

Enquanto subíamos as escadas lado a lado, Tom olhava para mim como se concordasse efusivamente enquanto eu falava.

— Você tá falando sério que pensou nisso? É exatamente assim que me sinto!

— Na verdade não, eu só fiquei meio em choque mesmo e não consegui falar nada porque te reconheci na hora e não acreditei que você é meu vizinho – sorri amarelo – isso eu só pensei depois que fui embora mesmo.

Tom riu, incrédulo.

— Nossa, eu nunca imaginei que alguém que não vivesse sob os holofotes fosse entender tão bem a sensação estranha que é conhecer alguém novo, sendo que esse alguém já te conhece.

— Não é que eu entenda, mas acho que eu consigo me colocar no seu lugar. Provavelmente seria assim que eu me sentiria se eu fosse conhecida como você. – dei de ombros – Além do mais, não é como se as pessoas de fato te conhecessem, né? Elas só conhecem o que você mostra nos seus trabalhos e nas suas entrevistas. Imagino que você seja mais que isso.

Waiting at your doorstep | Tom HollandWhere stories live. Discover now