Capítulo 16

2.2K 182 132
                                    

— Ms. Salles! – ouço a voz estridente de Ms. Wright me chamar logo após eu colocar meus pés para fora da saída de funcionários do hotel.

— Sim, Ms. Wright? – respondo, prontamente.

— Olha, eu gostaria de agradecer pelo seu trabalho duro. Poucas vezes eu tive aprendizes tão dedicados quanto você. – ela disse, ajeitando o lenço em seus cabelos brancos.

— Não foi nada, Ms. Wright. – sorrio, encabulada – Eu só venho fazendo o meu trabalho... só isso.

Só isso?! Não que eu ache que um bom trabalho seja pouca coisa, mas o meus velhos olhos conseguem ver mais do que isso nessa sua dedicação toda. – Ms. Wright aponta para um banco já na parte de fora, indicando para que sentássemos – Vamos, me conta! O que te faz ter essa dedicação toda?

— Bom, Ms. Wright... – comecei, hesitante. Eu sempre achava estranho quando ela começava a perguntar sobre a minha vida pessoal. – Eu tive que passar por muitas coisas antes de chegar até aqui. Primeiro eu não tinha grana... depois quando eu finalmente consegui a oportunidade, eu não tive muito apoio para vir para tão longe...

— Eu sabia! – exclamou, dando um soquinho em seu joelho – Ninguém se enfia tanto de cabeça assim no trabalho se não tem um bom motivo por trás. Então... sua família foi contra?

— Meus pais ficaram receosos, afinal eu iria pra outro continente e estava mudando de carreira, mas depois de um tempo eles apoiaram.... o problema foi meu ex.

Aquela era a primeira vez que eu conseguia falar sobre Bruno sem sentir um peso no coração, saudades, ou mesmo raiva. Era como se eu estivesse contando simplesmente de um momento qualquer da minha vida que passou, e era apenas isso.

— Ex? Suponho que ainda era atual naquela época. – Ms. Wright parecia interessada.

— Sim, tínhamos planos pra casar mas... ele não suportou a ideia de esperar um pouco mais até eu terminar meu curso aqui. Bom, azar o dele! – sorri – Eu estou muito melhor agora!

— Qualquer um que te olhe trabalhar percebe isso... – Ms. Wright segurou a minha mão por um instante – Dá pra perceber o brilho nos seus olhos e a sua energia de longe quando você está na cozinha...

— Sério? – entorto a cabeça para o lado, intrigada.

— É por isso que eu fiz questão de te trazer aqui. – Ms. Wright ficou séria por uns instantes – Mas... você permite que a velha professora aqui te dê um conselho?

— C-claro, Ms. Wright... – ajeito a minha postura no banco, me atentando às palavras.

— Bom... eu tenho uma história com o trabalho parecida com a sua... – Ms. Wright suspirou, relaxando os ombros – a diferença é que o trabalho foi a minha fuga da morte do meu marido. Eu simplesmente não suportava o fato de voltar para casa todos os dias e ver os cômodos vazios onde antes ele costumava estar, então eu sempre ficava até mais tarde no trabalho, chegava mais cedo e fazia tudo além do que me era pedido. Isso me transformou numa profissional exemplar, reconheço. Mas arruinou a minha vida pessoal.

Eu ouvia atentamente as palavras de Ms. Wright, não entendendo muito bem a relação da história dela com a minha, mas deixando-a falar para ver até onde ela chegaria.

— Eu vejo em você muito de mim aos 32 anos, quando meu marido faleceu. Eu imagino o quanto deve ter sido duro pra você perder o apoio de um companheiro e ter vindo para tão longe. Eu imagino também o quanto a cozinha deve ter sido o seu refúgio, e vejo que você cresceu muito desde quando você entrou pelas portas daquela escola pela primeira vez. Mas não descuide da sua vida pessoal. Não cometa os mesmos erros que eu. – A voz de Ms. Wright embargou.

Waiting at your doorstep | Tom HollandWhere stories live. Discover now