Capítulo 5

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Depois de um dia inteiro de dedos queimados, avental sujo de farinha, cabelo desgrenhado, panelas sujas na lava-louça e pernas cansadas de tanto ficar em pé, termino tudo o que planejei fazer. O cansaço bate, e bate forte. Antes de me jogar no sofá, pego meu caderno e minha caneta que repousam em cima da mesa para tomar minhas notas sobre as receitas do dia. Olho no relógio, 8 da noite. - Suspiro.

Apesar do cansaço físico, alguma coisa me inquieta. Talvez seja a conversa que tive mais cedo com a minha mãe.... não fiquei satisfeita com o tom dela. E nem com aquela história dela andar conversando com Bruno... - outro suspiro.

Será que é o meu novo vizinho estrela de cinema? - Gargalho alto.

Isso é, de fato, empolgante e inquietante.

Decido levantar e olhar pela janela. O carro de Tom está estacionado de volta na frente de casa e eu tenho muito doce pra me livrar. Espero que meu novo amigo não esteja de dieta.

Arrumo caprichosamente as pequenas tarteletes que fiz durante o dia em uma caixa de papelão, que tenho justamente para transportar as coisas que produzo. Quando me encaminho para a porta de casa, o espelho me faz o favor de me lembrar do estado deplorável que eu estava. Me conformo que precisarei de um banho rápido e uma muda de roupa para estar pelo menos tão apresentável quanto as minhas tortinhas. Quanto às roupas, uma calça jeans, uma botinha de cano curto, uma blusa simples e um casaco de tricô cor-de-vinho devem dar conta de uma passada rápida no andar de baixo para entregar doces para o meu vizinho.

Desço as escadas com certo receio, mas com vontade de fazer um agrado para Tom, que me recebeu tão bem e foi tão agradável comigo em menos de 24h que nos conhecemos. Toco a campainha. O barulho que vinha por detrás da porta parecia com o de uma televisão ligada. Sem resposta. Permaneço mais alguns instantes parada pensando se toco ou não a campainha novamente. Antes que eu levasse novamente minha mão ao botão, ouço a chave virar dentro da porta. Ao abrir, Tom me recebe com uma expressão de quem não estava esperando por alguém, porém ao ver que era eu, sua expressão muda para um sorriso simpático.

— Ei, Cecília! Tá tudo bem? Não esperava você por aqui!

— Nem eu, pra ser honesta... – sorri amarelo – Na verdade...

Ao espichar os olhos por cima dos ombros de Tom, percebo um grupo de umas 3 pessoas no sofá da sala, com garrafas de cerveja em suas mãos e aparentemente bem atentas ao que Tom fazia na porta...

— Desculpa, Tom... não sabia que você tinha visitas... eu... volto outra hora. – me apresso em dar meia-volta.

— Não Cecília, tudo bem... são só meus amigos. Eles são de casa, podem esperar um pouco. – Tom segurou meu ombro esquerdo, não deixando que eu fosse embora.

— Bom é que... eu comentei com você que eu faço escola de confeitaria, né? Eu... preciso praticar bastante certas coisas e... não tem como eu dar cabo de tanta coisa sozinha né... Então... eu trouxe esses doces que eu fiz hoje... pra te agradecer por ser tão gentil comigo. – disse, em voz baixa.

— Nossa! Isso é muito legal da sua parte, valeu Cecília! – Tom se aproximou para o segundo abraço desajeitado de um ombro só do dia, dessa vez, com uma caixa de doces entre nós. – Por que você não entra e vê o jogo com a gente?

Quando os amigos de Tom ouvem o convite feito a mim, todos se apressam a voltar a olhar para a TV, como se não estivessem prestando atenção ao que conversávamos.

— Ah, não... imagina! Você tá aí com os seus amigos! Eu vim aqui rapidinho só pra te entregar isso... já está tarde, eu vou embora! – Tento, pela segunda vez, dar meia-volta.

Waiting at your doorstep | Tom HollandDove le storie prendono vita. Scoprilo ora