Fogo.

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Japão, Tokyo. 09:37.





Quinze dias ao todo.

Quinze dias que mais pareciam uma eternidade.

Burn só não conseguiu acostumar-se com a ausência do rapaz. Seu humor não havia melhorado tanto após a noite do jantar, mas ele estava esforçando-se para não parecer triste ou recluso demais o tempo inteiro, mesmo que esta fosse a sua vontade constante. De repente viu-se em uma desanimação sem fim, e agora as forças que lhe restavam pareciam esgotar-se pouco à pouco, rasgando-lhe por dentro como uma faca corta um pão. Não queria ter feito tudo aquilo, não queria ter tornado tudo uma baderna, e muito menos queria ter batido em Tatsuya como se aquilo fosse mudar em alguma coisa; não ia. Completamente, não ia. E ele percebeu isso quando chegou em casa e pôde tentar refletir um pouco sobre o ocorrido na noite do jantar em que estava fazendo um baita esforço para comparecer e não pôr tudo à perder. Huh, aquela noite fora-lhe tão longa que tinha a sensação de que mais ocorridos estavam por vir, e sinceramente? Não ligava. Depois de tudo, não ligava. Nem que aquele cara entrasse por sua porta naquele exato nomento, nem que todos os ossos do seu corpo se quebrassem, nem que ele morresse, não tinha motivos para fazer alarde. Não tinha vontade de reagir, não tinha vontade de pelo menos tentar se proteger. E mentiria se dissesse que a morte, naquele exato momento, não lhe pareceu a opção mais tentadora.

Ele não chorou como achou que choraria. Quando percebeu que lágrimas já não insistiam em rolar pelo seu rosto, cogitou a possibilidade de já ter chorado todo o estoque de água do seu corpo antes de voltar para casa. Ah... Sua casa. Pensou e repensou inúmeras vezes se deveria voltar para lá. Novamente, o lugar lhe parecera aumentar de tamanho e mesmo sem caminhar, Nagumo já sentia-se perdido ali dentro. Todas as vezes em que olhava para a porta fechada de seu quarto sentia arrepios percorrerem-lhe o corpo, e, novamente, viu-se com nojo de entrar ali, o que era uma pena, já que da última vez demorara bastante para voltar a deitar-se na sua cama. Ah, a cama. Era-lhe mais vazia do que o próprio apartamento.

Foi daquele horário às três da manhã sentado ao sofá em completo silêncio. Não ligou tv, não ligou rádio, não olhou para o celular que vibrava em cima da mesinha ali próxima, denunciando as inúmeras ligações e mensagens que ele recebia e sabia de quem eram, só não tivera coragem o suficiente para respondê-las. Mesmo pela madrugada, no qual deveria estar dormindo, viu-se em uma suposta insônia e achou, de maneira repentina, que deveria aproveitar-se dela. Finalmente, mexeu-se; pegara uma garrafa de licor e uma taça, bebendo pouco do líquido, enjoando rapidamente do mesmo. Não que não gostasse de licor, mas de repente aquele não parecia ser o momento correto para beber e muito menos mudava em alguma coisa para si. Então largou a garrafa e a taça ali por cima, procurando pelas gavetas o maço de cigarro que abandonara há muito tempo. Nagumo fumara por bastante, decidindo um dia dar fim ao tal vício, mas naquela noite, as promessas que lhe fizera sobre o cigarro pareceram ser enterradas no fundo da sua mente, deixando permanecer somente a vontade de tragá-lo. E, ah, encontrou o maço esquecido em uma das gavetas ali na sala, junto à um isqueiro. Deixou um suspiro escapar de seus lábios. Bem, pelo menos não precisaria passar mais alguns minutos de sua vida deprimente à procura da porcaria de um isqueiro para acender o seu cigarro.

Caminhou até a vasta varanda, único lugar da casa iluminado naquele momento. Desde o momento em que chegara, não sentiu a mínima vontade de acender as luzes do lugar, pois por algum motivo elas incomodavam os seus olhos. Apreciou, enquanto tragava com certo gosto o cigarro recém encontrado, a vista daquele lugar tão bonito. Tokyo lhe era uma cidade extremamente movimentada, mas lhe encantava. Burn já tivera a oportunidade de morar em outros lugares, como Osaka, mas insistiu em permanecer em Tokyo desde muito novo. E agora, naquele exato momento onde seu olhar fixava-se no colorido das luzes acesas em plena madrugada, ele sentia o desejo quase que incontrolável de mudar-se para qualquer canto que não fosse Tokyo. Pensou no lugar, pensou nas passagens, pensou na mudança e no transportar de sua mobília. Pensou na empresa e em como largá-la lhe parecia uma idéia muito, mas muito boa. E se não fosse empresário, o que ele poderia ser? Talvez carteiro em uma cidadezinha pequena, onde com o tempo ele conheceria todas as pessoas e as cumprimentaria sorridente enquanto vagava pelas ruas em sua bicicleta e seu fardamento. Huh, parecia ser bacana. E que tal uma doceria? Por mais que insistisse em comprar doces prontos, Burn sempre for muito bom na cozinha e seus doces de morango eram os melhores de Tokyo. Uma boa doceria com clientes fiéis não era o suficiente? E quem sabe dessa vez ele não tentasse aprender à tocar guitarra e entrasse para uma banda?

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