Capítulo 13

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A jovem equipe do Dr. Ernesto trabalhava desde às dez da manhã. A tarde avançava naquele dia nublado e frio. Ernesto, vez que outra, os deixava sozinhos trabalhando, e retornava somente para coletar os dados produzidos. Chegou a confiar também esta tarefa a eles. Pedro conseguia fazer sua parte como agente, mas ainda não era senhor de suas habilidades, mantendo alto índice de insucessos. Patrick ia pelo mesmo caminho, embora fosse notável seu esforço para não cometer erros – quando não os cometia, o Dr. lembrava que estava lento demais. Já Amália e Ramon correspondiam às expectativas do chefe.

– São quase quatro horas. – Anunciou o doutor. – Vamos parar os trabalhos porque o Renato já deve estar chegando. Deixem tudo como está, apenas desliguem a força, pois pretendo fazer algumas calibragens mais tarde. Pedro, desligue o gerador.

Passava cinco minutos das quatro da tarde quando Renato chegou.

– Lembrem-se do que combinamos. Só falem o necessário e, quanto a resultados, deixem comigo. – Avisou Ernesto.

Renato era alto e grisalho, embora ainda não atingira os quarenta. Procurava ser simpático, mas com um ar prepotente que dominava sua personalidade. Ernesto o recebeu ainda no pátio, juntamente com a equipe, à qual o apresentou. Depois, seguiram até o laboratório, onde o apoiador não perdeu tempo:

– E então, aonde essa geringonça está nos levando no momento?

– Ah, tivemos muitos resultados positivos, meu amigo! – Respondeu, animado, o doutor. – Esta equipe é excelente, trabalha bem e tem ótimo potencial.

– Isso é bom. – Comentou Renato, enquanto tocava em algumas partes de Katetiras. – Podemos experimentá-la?

– Bem, nesta etapa ainda não chegamos. O transporte até o ponto de intercessão está acontecendo de maneira satisfatória...

– Isso já vinha acontecendo. Quero saber da qualidade do que se vê. Os garotos aí estão vendo as coisas ou só um monte de borrões? O que vocês me contam?

Os quatro olharam para Ernesto, que respondeu:

– Claro que melhorou, Renato, como disse há pouco. Sempre conseguimos evoluir. Mas, em uma pesquisa como essa, as coisas acontecem em um ritmo mais lento. As melhoras são quase imperceptíveis, mas importantes do ponto de vista científico. E são vários fatores a se manipular. A quantidade de equipamentos que compõem o projeto fala por si só.

– Podemos conversar em particular? – Pediu Renato, sendo atendido por Ernesto, que dispensou a equipe.

Os garotos tinham o resto da tarde livre, a menos que o doutor os chamasse novamente. Não seria prudente se afastarem da cidade, então Ramon tomou o celular e fez uma rápida pesquisa.

– Bares... Choperia... melhor deixar para o "finde". – Pensava em voz alta o rapaz. – Ei, tem alguns pesque-pague próximos que oferecem iscas de tilápia, costelinha de tambaqui... Alguém a fim?

Todos concordaram e se dirigiram para o estabelecimento mais próximo da casa da colina, ainda assim, cerca de dez quilômetros distante.

O ambiente era rústico, porém aconchegante. A proximidade aos açudes deixava a temperatura ainda mais baixa naquele pequeno restaurante colonial. Frio que os convidava a apreciar alguma bebida à altura. Pensaram em vinho, mas Amália pensou na possiblidade do chefe os chamar.

– Não vai chamar. – Rebateu Patrick. – A menos que bebamos algo. Daí, sim, pode ter certeza. Murfy.

– O peixe está uma delícia! – Elogiou Pedro. – Vinho não vou beber, mas, um suco de uva natural, não vou dispensar. – Sentenciou, erguendo a mão para o atendente.

– Não querem experimentar um vinho? – Perguntou o simpático proprietário do pesque-pague. – Esse frio convida!

– Vamos deixar para outra oportunidade, ok? – Respondeu Ramon, que aproveitou para perguntar. – Olha só, viemos de São Paulo e conhecemos muito pouco a região. O que há de bom para fazer, lugares para visitar?

– Tem sim... tem muitos lugares! – Respondeu o homem, entusiasmado. – Já foram na serra?

Os garotos fizeram que não.

– A Serra do Rio do Rastro. É a coisa mais linda! Tem também a do Corvo Branco, mas a do Doze é a mais conhecida.

– Legal! – Comentou Pedro. – Podemos ir para uma das três no sábado.

– São duas. – Corrigiu o homem. – A do Doze e a do Corvo.

– E essa do Rio "coiso" que você falou? – Perguntou Patrick, confuso.

– É a mesma do Doze. Doze é um apelido. Vão lá que vocês não vão se arrepender. Se der muito frio e úmido, pode até nevar. Se der tempo bom, dá para ver o mar. Só cuidado, porque, se esfriar muito, ainda que não neve, pode congelar a pista em alguns trechos (se bem que não é época, ainda). Agora, se chover, tem risco de deslizamento de terra. Sempre cai algumas pedras.

– Beleza, vamos fazer outro programa. – Afirmou Amália, deixando evidente sua aversão a tais riscos.

– Não, não... Também não é assim! Podem ir tranquilos! Sobe e desce carreta direto, lá. O povo daqui, sempre que neva, sai tudo correndo que nem doido, chega a fazer fila na subida. É só cuidar na descida, descer sempre engrenado para não ficar sem freio.

– Tá, obrigado. Vamos lembrar de suas dicas. – Agradeceu Ramon.

Já de noite, o grupo retornou para a cidade, sem que o doutor os convocasse para trabalhar.

Na manhã seguinte os jovens chegaram na casa da colina para o início da jornada. O doutor estava agitado, com pressa para fazer algo.

Em trajes formais e com as chaves do carro na mão, pediu que o quarteto iniciasse Katetiras e seguissem um roteiro escrito que lhes entregou. Em seguida saiu, deixando curiosos os funcionários.

– Será que aconteceu alguma coisa? – Especulou Amália.

– Xi, será que o papo com o tal Renato não foi bom? – Arriscou Ramon.

– Tomara que não seja isso. – Opinou Patrick. – Porque, se bem entendi, o coroa é que financia o projeto. Nossos salários, num português mais claro.

– Deixa isso pro doutor resolver. "Bora"trabalhar. – Disse Pedro.    

KatetirasWhere stories live. Discover now