Capítulo 10

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Por volta das oito horas Pedro já estava a caminho do hotel. Estacionou quase em frente. Ao entrar no saguão, avistou a senhora. Ela sugeriu irem em direção a Urussanga e pararem em qualquer barraca que desejassem, pois não se decepcionariam.

Pedro enviou mensagem no grupo de conversa, mas ninguém respondeu. "Bando de dorminhocos!", resmungou. Por mais que mandasse curtas mensagens para importunar com alertas, ninguém se manifestava. Viu-se obrigado a telefonar para Patrick. Ele atendeu, mas transmitindo muito sono na voz. Pedro ameaçou de bater com força na porta até ser atendido, quando voltasse, se o colega não despertasse de imediato e acionasse Ramon e Amália.

Enfim, por volta das dez horas, os jovens estavam no carro de Pedro, tomando a saída sul em direção a Urussanga. Conforme as previsões, a frente fria perdeu força, fazia sol e não estava nem quente, nem frio (mais para frio do que para quente). Logo avistaram a primeira barraca, mas não pararam. Pedro quis seguir um pouco mais, até que encontrou uma um tanto maior – e, aparentemente, mais bem cuidada. Eles acharam interessante o modo como foram atendidos. Coisa de roça, diriam os garotos. O senhor que transacionava com eles respondia sobre os produtos e ia colocando os pedidos sobre o balcão. Tinha forte sotaque colonial, misturando expressões dialéticas com o português, bem característico daquela região. Com a esposa que o auxiliava, a conversa era em dialeto italiano.

O grupo parou, ainda, em outra barraca, mas os produtos eram praticamente os mesmos, então decidiram procurar algum lugar para almoçarem. O proprietário da barraca sugeriu um restaurante no parque municipal de Urussanga, o qual oferecia gastronomia típica italiana, tudo o que os funcionários do Dr. Ernesto pretendiam. Pedro comprou uma garrafa de vinho do senhor da barraca, como forma de agradecimento pela informação.

Retornando para Uruans, foram até a casa da colina, onde Pedro tinha intenção de dar a garrafa de vinho ao Dr. Ernesto. Lá chegando, porém, não o encontraram. A casa parecia estar vazia, embora uma das janelas estivesse um pouco aberta. Para ter certeza, Patrick deu a volta por trás da construção, passou pelo abrigo do gerador, onde notou uma espécie de trilha que parecia contornar o morro pela mata fechada, e retornou ao pátio, onde os outros o esperavam. Não estando o chefe em casa, foram embora.

À noite, reuniram-se no apartamento de Pedro para saborear alguns dos itens coloniais comprados naquele dia. A temperatura tinha caído mais, deixando a reunião bem agradável.

– E aí, Dinho. Como está o treinamento? – Quis saber Amália.

– Só fizemos uma vez. – Respondeu o rapaz. – Mas, considerando que já aconteceu algo nessa única vez, diria que estamos indo bem.

– Mantenha a calma e tudo vai dar certo. – Aconselhou Ramon, que continuou. – Você tem que descobrir o seu jeito. Às vezes, tem que tentar outras abordagens. Por exemplo, segundo o doutor, você conseguia quando estava dormindo. Ora, pode ser que seja esse o caminho, se deixar cair no sono.

– Mas, daí, ele vai esquecer do que tem de fazer. – Interveio Patrick. – O melhor é manter a consciência. Até porque o doutor precisa das projeções na hora certa, e não ficar dependendo da sorte.

– Pois acho que você deveria tentar com outra pessoa, também. Amália, porque não ajuda o Pedro, depois?

A sugestão de Ramon pegou Pedro de surpresa e o deixou ansioso, pois havia a chance de ficar a sós com a moça. Faltava a resposta dela.

– Ah, por mim, tudo bem. Tudo bem para você, Pedro?

"Macaco gosta de banana?", pensou o rapaz, antes de responder positivamente.

Agora era certo: ele ficaria alguns instantes a sós com Amália, grande oportunidade para, quem sabe, ficarem ou, até mesmo, dar início a um namoro. Teria de investir ao final do treinamento, mas poderia ficar tarde, sem tempo. Se tentasse antes, arriscava dar uma má impressão, estragar tudo. De qualquer sorte, as dúvidas em nada reduziam o calor no estômago do jovem, que não via a hora de os outros dois irem para seus "muquifos".

As horas passaram, e Ramon decidiu que já era tarde. Então despediu-se de Pedro e Amália – não o fez com Patrick, que ficou sem entender.

– Vamos, Patrick. O Pedro precisa treinar. – Disse Ramon, embora, com os olhos, dissesse "cai fora, ô retardado, ou vai ficar segurando vela?". Visivelmente contrariado, Patrick deu boa noite ao casal e acompanhou Ramon.

Tão logo fechou a porta, Pedro ficou tenso. Só que não era tensão, e sim hormônios jorrando no sangue, como se algo já estivesse garantido. Tinha de se controlar, pois a garota não fazia ideia das intenções dele.

– Então... – Começou Amália. Não sei como o Patrick faz, mas eu deito, relaxo, sempre mantendo a concentração, a consciência...

– É, é isso o que ele me sugeriu, e meio que deu certo.

– Bom, então, talvez seja este o caminho. Quem sabe fosse melhor você ir tentando sozinho, vai se conhecendo...

– Não, por favor... Quero dizer... Se você puder me ajudar... É que, com o Patrick, acabei cochilando várias vezes, mas ele insistiu em me manter consciente, até que senti ter saído do corpo. Gostaria que você fizesse o mesmo.

Amália concordou e, logo, estavam no quarto. Pedro deitou e pediu que ela apagasse a luz, deixando pouca claridade passar pela porta. Pediu, também, que ela o "guiasse" com as palavras.

Em momento algum Pedro esteve sequer próximo de sair do corpo. Todavia, não lamentou, sabia exatamente a causa do fracasso. Ela estava bem ali, ao lado. Foram várias tentativas, onde não passou nem perto de dormir. A mente estava muito ativa e implorando para saciar um desejo.

O rapaz agradeceu a ajuda, deu por encerrado o treinamento e pediu que Amália ficasse um pouco mais, e ela aceitou.

– Queria te perguntar uma coisa. – Começou Pedro. – Na quinta-feira, quando a gente se conheceu, eu te achei muito bonita, sabe. E... bem... queria te perguntar...

Pedro falava prestando atenção nos sinais emitidos por Amália, que não eram nem favoráveis, nem contra. Mas a indiferença, neste caso, é mau sinal.

– Não sou de chegar esculhambando, tipo, vai que a pessoa já seja compromissada, né. – Continuou Pedro. – Queria perguntar se, por acaso, você... tem namorado...

– Não, eu não tenho. – Respondeu a garota. – E, por ora, não quero ter.

Foi uma mistura de decepção e vergonha, mas o rapaz tinha que dizer algo.

– Ah, tudo bem. É que eu pensei... não era nem em namorar, não assim, tão cedo... Só para se conhecer, entende?

– Cara, pelo que vi até agora, você é legal e tudo, mas não estou a fim de nada, por enquanto. Leva a mal não, tá.

– Tranquilo, sem problemas, imagine! – Respondeu Pedro. – Mas, além de legal, tem algo mais? A aparência?

– Não tem problema nenhum, Dinho. Não me importo muito com aparências físicas. Você e o Ramon dariam ótimos namorados. O Patrick precisaria amadurecer um pouco mais. Maturidade eu aprecio.

– Bem, quer dizer que tenho chance!

– Vai com calma. Como disse, não estou a fim de nada nem de ninguém. Suas chances, hoje, seriam as mesmas que... sei lá... do Dr. Ernesto.

– Não entendi! Digo... Chance nenhuma, então? Como é isso? Boiei.

– Ele é charmoso, horas! Eu pegaria. Só que não hoje, não nesses dias.

– Nossa... que esquisito. Jamais imaginaria. Se eu chegar na idade dele com moças me olhando com esses olhos, vou ficar muito feliz.

Amália deu um leve sorriso.

– Acho que já vou indo. Continue treinando.

– Espere aí, onde pensa que vai? – PerguntouPedro, indo em direção ao armário da cozinha. – Não sai daqui sem me acompanharnuma mariola. – Completou, tomando um pacote com doces de banana e oferecendo àcolega, que aceitou de pronto.    

KatetirasWhere stories live. Discover now