Trinta e quatro.

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Camila

Na noite passada, eu mal consegui dormir, pensando na Lauren, imaginando se ela estava bem, como estava se sentindo após o fiasco no ringue. Ela foi embora andando, mas provavelmente está com dor hoje. A insanidade do que Connor fez ontem ainda me deixa inquieta. Com certeza ele será impedido de competir novamente no octógono. Nenhuma organização aceita múltiplas faltas intencionais.

Sentada na nossa mesa de patrocinadores para almoçar, sei que deveria estar fazendo contatos, mas me sinto vazia. Tudo parece vazio e sem sentido. Como se houvesse um buraco no meu coração que vou passar o resto da minha vida incapaz de preencher novamente.

— Você está bem, querida? — Uma mulher mais velha, de cabelos brancos e rugas bastante profundas, sentada à mesa, pergunta. Seu sorriso é meigo, e o rosto é acolhedor e demonstra preocupação.

— Sim, obrigada. — Sorrio educadamente.

— Problema com relacionamento? — ela pergunta, inclinando-se.

Sorrio com a persistência dela.

— É assim tão óbvio?

Ela faz que sim com a cabeça.

— Fui casada durante quarenta e um anos. Perdi meu Gerald no ano passado.

— Sinto muito em ouvir isso.

— Quer um conselho?

Eu nem lhe contei o problema, então não tenho certeza de que ela possa me ajudar a consertar as coisas. Mas, acima de tudo, sou educada e ela parece uma boa pessoa.

— Claro. — Sorrio.

— Há apenas duas escolhas: perdoe ou esqueça. Se você não consegue fazer o último, então precisa perdoar, porque seu coração já foi roubado.

Não faço ideia do que esperava que ela dissesse, mas com certeza não era isso. Tão simples, tão direto ao ponto, tão claro. E é necessário que uma mulher que eu nunca vi na vida me aponte o óbvio. Levanto e a beijo na bochecha.

— Obrigada.

Ela balança a cabeça, concordando.

***

— Você poderia me dizer em qual quarto Lauren Jauregui está, por favor? — pergunto à recepcionista no balcão da recepção.

— Desculpe, não podemos dar essa informação.

Eu lhe mostro o crachá de patrocinador, como se aquilo tivesse algum tipo de autoridade.

— Sou um patrocinador aqui. Eu deveria encontrá-la hoje à noite, mas chegarei um pouco atrasada e quero apenas avisá-la — minto. — Você poderia me ajudar? Meu chefe irá me matar se eu estragar essa negociação.

A mulher hesita, analisando-me brevemente, mas então começa a pesquisar em seu computador. Por fim, ela olha para mim confusa.

— Desculpe. A Sra. Jauregui já fez o check-out dela.

— Você sabe quando?

Ela aperta mais algumas teclas.

— Ontem à noite. Parece que ela fez o check-out mais cedo. — Ela dá de ombros. — Ah, espere um pouco. Lembro-me da Sra. Jauregui. Eu fiz o check-out dela ontem. Ela foi que saiu machucada da luta, não é?

— Sim, é ela.

— Certo. Ela não saiu, na verdade. A namorada dela devolveu a chave. Ela disse que Sra. Jauregui  iria ficar no quarto dela e que não precisava mais do outro quarto — a mulher sussurra. — Eu não deveria dar informações sobre os quartos, mas elas estão na suíte presidencial, caso queira encontrá-las.

A repentina imagem de Lauren com outra mulher faz meu coração doer e o estômago revirar. Por que não me ocorreu que ela fosse seguir adiante tão rápido? Acho que lá no fundo eu acreditava que ela se importava comigo. Dar-me conta de que fui tão rapidamente substituída abre a ferida criada no dia em que descobri que ela estava planejando forçar a Cabello's a ir à falência. Ainda dói como uma ferida aberta.

Um agoniante sentimento de desespero me atinge e tudo o que quero é ir para casa. Dar o fora dessa loucura de Las Vegas, mesmo que as lutas não tenham terminado ainda. Caminho para o elevador em um torpor, sentindo-me triste, com as palavras da velha senhora voltando à minha cabeça para me assombrar. Você tem que perdoar ou esquecer. Acho que fui fácil de ser esquecida.

***

Arrumo minhas coisas e ligo para o Ray para avisá-lo que vou embora um dia antes do planejado, mas ele não atende. Temos um jantar marcado com alguns vendedores em potencial, interessados em colocar seus produtos à venda nas academias, mas estou certa de que vão preferir conversar com o Ray do que comigo, em todo caso. Mas não quero ir embora sem que ele saiba, então desço para procurá-lo.

Ian está na mesa da segurança. Sorrio educadamente e mostro meu crachá para o segurança.

— Camila — Ian me chama do corredor quando começo a me afastar. — Está tudo bem? — ele pergunta.

— Estou procurando o Ray Phillips, você o viu?

Ele balança a cabeça.

— Não o vi.

— Obrigada. — Dou um passo, mas algo me para. Ela pode não ser mais minha, mas não consigo evitar. Preciso saber se ela está bem. — Você viu a Lauren? Ela está bem?

— Está com uma costela quebrada e muitos hematomas. Mas vai sobreviver — ele diz. — A Liv disse que ela acordou há pouco tempo. O médico lhe deu analgésicos, por isso ficou apagada por mais da metade do dia.

Liv. Muita coisa aconteceu nas últimas semanas. Aparentemente, Lauren se aproximou de um irmão que até pouco tempo atrás ela desprezava e sua nova namorada tem um nome: Liv. Perfeito! Concordo com a cabeça, desejando nunca ter perguntado e começo a me afastar. Ian grita sobre o ombro:

— Ela está na suíte presidencial, se quiser visitá-la.

Claro, eu não iria querer nada mais do que passar algum tempo curtindo a Lauren e a Liv.

Fighter - IntersexualWhere stories live. Discover now