Capítulo 23

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- O Miguel pediu pra te chamar! - Kevin entrou correndo no quarto e se jogou em minha cama. Me assustei já que estava lendo e minhas mãos tremiam. Aqueles não era apenas personagens de uma ficção, eu não conseguia simplesmente ignorar, estava ansiosa com o que aconteceria e queria poder ajudar de alguma forma mesmo que eu soubesse que era impossível. Peguei o celular ao meu lado. Já passavam das oito da noite, mas, uma coisa em especial me chamou a atenção. A data parecia maior do que tudo que estava escrito na tela e o aperto em meu peito também foi mais forte do que qualquer coisa ao redor.

E não foi essa a noite que eu tanto esperava quando cheguei? Agora era quase que um pesadelo se tornando realidade. Mais uma noite dormindo naquele quarto, ouvindo os pássaros a me acordar logo pela manhã e vinte e quatro horas depois eu estaria distante. Chegara o fim e eu não podia fazer nada a respeito. Pensei se queria mesmo descer as escadas. Pensei se queria mesmo vê-lo. Eu não sabia se conseguiria me manter de pé.

- Obrigado, eu vou descer... - Falei para Kevin e acariciei o seu cabelo bagunçado. Aquilo foi como um agradecimento, de certa forma ele me levou para o lugar certo, no momento certo e me fez conhecer o garoto que estava me esperando no andar de baixo. Eu não queria mais perder tempo. Desci rapidamente e o vi de costas olhando para cima.

Parei do seu lado e entendi o que ele estava fazendo. O céu era claro com tantas estrelas espalhadas e a lua nos presenteava com todo o seu brilho. Miguel segurou minha mão, eu ainda estava olhando para cima quando percebi que ele me observava. Não queria olhar para ele, não queria ver seu rosto sabendo que nosso prazo havia acabado. Entretanto era como se um imã me puxasse para o garoto. Resisti à tentação e apenas apoiei minha cabeça em seu ombro. Fechei os olhos e ouvi sua respiração se misturar com o som do vento balançando as folhas ao nosso redor.

- Ei... - Ele apertou minha mão um pouco mais forte - Sabe o que eu pensei quando te vi pela primeira vez?

Droga, Miguel... Não faça isso. Balancei a cabeça negativamente ainda com os olhos fechados.

- Eu pensei "essa garota nunca vai me dar bola" - Foi impossível não sorrir - Sério mesmo, você tava toda nervosinha comigo e eu imaginei que não fosse querer me ver outra vez depois que entrou por aquela porta. E aí você me surpreende logo no outro dia de manhã me convidando pra uma aventura dentro do seu mundinho.

- Miguel...

- Você chegou e bagunçou toda minha rotina, sabe? E logo eu que sempre gostei de organizar e pensar mil vezes antes fazer qualquer coisa, mergulhei de cabeça nas suas ideias mais malucas e aleatórias... Você é incrível, bravinha.

Meu coração saltava em meu peito, eu soltei o ar com força e me coloquei em sua frente olhando bem nos seus olhos. Minha boca tremendo um pouco, ansiedade, nervosismo talvez. Apenas me lancei em seus braços e o beijei, como se a sobrevivência da humanidade dependesse daquele ato. Como se todo o universo fosse permanecer de pé se eu me jogasse no precipício sem fim que era beijá-lo.

Acariciei sua nuca e colei nossos corpos, nossos lábios num encaixe perfeito. Éramos apenas nós dois e a lua estava testemunha de que havíamos nos entregado de tal forma que criamos uma espécie de ligação que nem toda a distância do mundo poderia quebrar. Eu arfava, mas, não queria me separar. Foi quando todo o meu corpo pediu por mais oxigênio que me afastei devagar e permiti que nossas testas permanecessem coladas. Meus olhos observavam os seus e eu estava perdida na galáxia inteira que estava ali quando ele quebrou o silêncio.

- Você acredita em sorte? - Sua pergunta me atingiu e eu não sabia como responder, então pensei um pouco e tomei fôlego.

- Eu não sei se acredito em sorte ou azar, eu imagino que não existe nenhuma garantia na vida de que tudo será muito bom, mas, devem existir reservados, para cada um, momentos felizes e pessoas incríveis a se conhecer, e se toda essa coisa de sorte existir... Tive sorte de te encontrar. - Eu disse, e aceitei o presente que o destino colocara no meu caminho.

Inconstante e BorboletaWhere stories live. Discover now