Capítulo 20

50 9 2
                                    

Não era nada fácil o que eu estava prestes a fazer, mas, eu tinha quase certeza de que me sairia bem em meu papel de Sherlock. Se bem que eu estava mais para uma personagem de novela mexicana. Eu e a minha maturidade, divagando sobre coisas bobas e aleatórias quando em situações de pressão.

Ouvi o som de meus passos nas pedras que davam na porta da pequena casa. O coração aos saltos dentro de meu peito.

E lá vamos nós.

Toc-toc-toc.

Aguardei alguns instantes e contando até cinco inventei todo um contexto onde não havia ninguém em casa e eu voltaria para a pousada e não me meteria nos assuntos de, quem sabe, um dos homens mais ricos e poderosos do país. Estava na metade da meia volta quando a porta se abriu e com um sorriso amarelo dei de cara com Isabela.

Seu semblante amigável me fez respirar com mais calma, para logo em seguida sentir o dobro do nervosismo.

Caramba, Agatha! Qual o seu problema?

— Agatha! Que surpresa. Não sabia que vinha nos visitar... Venha, entre! – Ela tomou minha mão me conduzindo para dentro e o ambiente no qual estive há alguns dias me pareceu muito familiar.

— Pra falar a verdade, nem eu sabia que viria. — Confessei e Isa me observou por um momento sem entender muito bem.

— Hoje é a folga do Miguel, quer chamá-lo? — A mulher apontou com o polegar para o corredor que imaginei ser onde ficava o quarto do garoto — Vou fazer um suquinho pra você...

— Isa... — Chamei sua atenção quando percebi que ela se afastaria — O assunto diz respeito a você também.

Seu olhar gritava curiosidade. O que uma garota como eu teria para dizer? Ela assentiu com a cabeça e ainda assim sustentou o sorriso nos lábios enquanto saía da sala. Praguejei baixinho quando notei que ela não havia me instruído sobre em que porta bater. Considerando as duas escolhas que eu tinha no corredor, optei pela primeira porta, na qual bati devagar. Silêncio. Tentei mais uma vez e ouvi um ruído, como quando alguém se mexe numa cama.

— Eeeentra mãe... — A voz arrastada indicava quanto sono estava envolvido na resposta. Respirei fundo e girei a maçaneta, um quarto diz muito mais sobre a pessoa do que seus próprios atos, e agora eu entraria na privacidade de Miguel, não sabia o que me aguardava.

O lugar estava escuro, pois a janela na parede à minha frente estava fechada, mas, pelo que vi, percebi que as paredes tinham um tom claro de azul. A escrivaninha estava organizada, o garoto aparentava mesmo ser do tipo que gosta de cada coisa em seu lugar. A cama estava bagunçada e Miguel, deitado de bruços, mantinha os olhos fechados, muito provavelmente imaginando que era a mãe que havia entrado. Quando o barulho na cozinha ecoou pela casa, vi que suas sobrancelhas se uniram num questionamento e ele, mais do que rapidamente, olhou para descobrir quem estava observando-o. Seu olhar encontrou o meu e eu sorri.

— Hora de acordar, dorminhoco. — Disse baixinho, ainda em pé ao lado da porta.

— Oi, bravinha! — Ele se sentou devagar e passou a mão no rosto amassado — Vem cá!

Olhei ao redor e me aproximei, sentando-me ao seu lado. Seu perfume me alcançou e ele segurou minha mão acariciando o dorso com o seu polegar.

— Que surpresa... — Sua voz ainda estava rouca.

— Sua mãe disse a mesma coisa. Mas, eu precisava muito falar com vocês.

Notei sua expressão curiosa ao ouvir a palavra "vocês", apertei sua mão e deixei minha cabeça pousar em seu ombro nu. Estando ali, do seu lado, me senti tão bem ao ponto de entender de uma vez por todas que o que eu estava prestes a fazer não era difícil, era justo.

Inconstante e BorboletaWhere stories live. Discover now