24 • A casa de Thomas

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Descemos. Vovó colocou o leite e o café para ferver. Enquanto esperávamos, arrumávamos algumas bolachas, queijos, presuntos, geleias e mais algumas coisas sobre a mesa.

— Vó, como a senhora espera que consigamos comer essas coisas sem pães na mesa?

A campainha tocou.

— Vá atender! — ela ordenou com um pequeno sorriso de canto, enquanto se fazia de "desentendida" sobre alguma coisa.

Fui até a porta, me esquecendo completamente de não estar usando uma roupa adequada para atender alguém.

— Olá, bom dia! — Thomas saudou sorridente no momento em que abri a porta. Ele segurava um saco com pães franceses dentro.

— O-o-o-oi-i! — E chegou o momento em que eu percebi estar usando pijama. — Ai droga! — Olhei para baixo procurando cobrir o que era impossível de se fazer.

Eu peguei o saco de pães, procurando ignorar as risadinhas que Thomas segurava.

— Eu trago pães para sua vó aqui todos os dias! — ele comentou com intuito de ofuscar o que acabara de acontecer.

— Nossa, você foi rápido... agora há pouco não estava se exercitando no quarto?

— Você andou me observando?

E foi então que eu percebi o que eu tinha acabado de dizer. Minhas bochechas coraram e minha cara não sabia onde se enfiar.

— Quando eu acordei e abri minha janela, notei que você estava se aquecendo para fazer alguma coisa. — Dei a maior improvisada da minha vida. — Logo supus que você iria se exercitar, sei lá. — Tentei parecer indiferente com a situação.

— Ah sim.

— Agora vou levar os pães, até logo!

Antes que eu pudesse fechar a porta, Thomas indagou:

— Não quer passar lá em casa depois para eu te mostrar meu quarto? Tem muitas coisas legais lá!

— Hmmm, pode ser.

Thomas sorriu e virou para ir embora, mas antes de ir, ele assumiu sorrindo:

— Ah, e você é péssimo mentindo.

Eu já nem tinha mais cara da qual pudesse esconder, logo, tudo o que pude fazer foi fechar a porta e retornar à cozinha para colocar os pães sobre a mesa que já estava com a jarra de leite e café em cima.

— Conversa interessante na porta, querido? — Amélia perguntou enquanto colocava leite e café na minha xícara.

— Não, nada demais — respondi tirando os pães do saco e distribuindo-os em alguns pratos.

Mamãe desceu as escadas e sentou-se à mesa. Nós três tomamos café e conversamos sobre os sonhos que ambas as mulheres tiveram durante a noite.

** ** **

Durante toda aquela manhã, fui muito criativo no quesito de fazer diversos nada para que o tempo passasse e eu ganhasse algumas horas decidindo o momento que eu iria até a casa de Thomas.

Às duas horas da tarde, deitado no chão da sala de estar, com os pés em cima do sofá e olhando para o teto, pareceu o instante ideal para eu levantar a bunda do chão — que no caso eram as costas — e ir até a casa do garoto.

Abri a porta e tive uma breve impressão de que vovó me assistia da cozinha, quieta.

Fui até a calçada da casa de Thomas e a observei durante um tempo antes de criar coragem para passar pelo gramado e bater na porta. Quando tomei vergonha na cara, apertei o passo e quando percebi já estava de frente para a porta.

Toc, toc, toc!

— Quem é? — A voz de Thomas ecoou do interior da casa.

— Me recuso a fazer parte de uma piada de toc toc — respondi seco.

Ele então abriu a porta sorridente.

— Sabe, hoje em dia as pessoas costumam apertar a campainha ao invés de bater na porta. — Seu sorriso fez todo seu rosto desaparecer.

Thomas usava uma touca cinza na cabeça, uma camiseta de manga cumprida azul marinho de tecido fino e uma bermuda verde escuro em estilo exército.

— É mesmo? E hoje em dia as pessoas costumam ter consciência de quando não ficam boas de touca. —  rebati apontando para a touca que ele usava.

Falando de modo debochado e sarcástico com Thomas Alcantara, me fez perceber que eu finalmente estava sendo eu mesmo com alguém novamente.

—  Ah, pois eu tenho muita consciência de que fico bem com touca. Muito bem, obrigado.

— Ai, você é deficiente visual? Meu Deus, me desculpe por ter sido tão ignorante, Thomas...

— E você deficiente mental? Eu deveria implorar por perdão... Nicholas.

Eu fingi escorregar em alguma coisa.

— Ops, escorreguei e quase caí no seu veneno, Thomas!  

— Espera aí! — Ele passou o polegar no canto da minha boca, como se estivesse limpando baba ou coisa do tipo. — Acho que esse veneno aí é seu.

Eu estava de cara a cara com o meu maior concorrente quando o assunto era ironia, sarcasmo e deboche. Confesso que era uma batalha difícil... mas eu não poderia jamais deixar que me vencessem em algo do qual eu me orgulhava em ser tão bom.

— Pera, acho que seu rosto sujo! — Eu passei minha mão em suas bochechas. — Ah, não... é você naturalmente mesmo.

— Tá ouvindo isso? — ele perguntou colocando a mão no ouvido para que pudesse ouvir melhor. — Alguém está gritando por socorro, acho que viram uma foto sua.  

— Deixa eu tirar uma foto sua agora. — Eu tirei meu celular do bolso e rapidamente fingi bater uma foto de Thomas. —  Ai, você quebrou minha tela!

— Nossa jura? Nada me parece quebrado vendo daqui.

— É que por sorte estava na câmera frontal...

— Mas então ela quebrou com a sua foto!

— Ah Thomas, vai cagar... Eu... eu...

— Desiste? —  Thomas tentou completar.

— Aha! — gritei exaltado apontando o dedo para Thomas. —  Eu ouvi que você desiste?

— Pera, eu não quis dizer isso, eu...

—  La la la la! — eu cantarolava com aos mãos tampando os ouvidos como uma criança de sete anos. 

— Que seja... vamos ficar aqui discutindo ou vamos entrar? 

— Entrar me parece interessante.

— Então vamos logo! 

Ele então abriu a porta e me deu passagem para entrar no lugar onde tive a impressão de que tudo fosse possível acontecer.




O melhor ano do nosso colegial (Wattpad Edition)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt